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Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 08-05-2015 - 09:06 -   Notícia original Link para notícia
Atividade fraca leva a alta do desemprego em todo o país

Por Denise Neumann, Camilla Veras Mota e Robson Sales | De São Paulo e do Rio


A desaceleração da atividade econômica provocou piora generalizada no mercado de trabalho do país no primeiro trimestre, mas os efeitos foram distintos entre as regiões e os Estados. No Nordeste, que já convive com uma taxa de desemprego próxima a 10% desde o ano passado, a conta chegou pela renda, que caiu 1,9% em termos reais na comparação ao mesmo período do ano passado. No Sudeste, a deterioração foi mais forte no aumento da taxa de desemprego e no baixo crescimento de novos postos de trabalho, mas o rendimento médio ainda cresceu 0,7% acima da inflação. Também chamou atenção o Centro-Oeste, pelo maior aumento percentual do desemprego, que passou de 5,9% para 7,3% da força de trabalho, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


Na média nacional, a taxa de desemprego passou de 7,2% para 7,9% entre o primeiro trimestre de 2014 e igual período deste ano. O Estado com maior nível de desemprego é o Rio Grande do Norte, onde ele já atinge 11,5% da população. A menor taxa é a de Santa Catarina - 3,9% da população ativa. No país todo, 7,9 milhões de pessoas estavam desempregadas no primeiro trimestre, 885 mil pessoas mais do que no mesmo período do ano passado.



Apesar de ter sido a região onde o desemprego menos avançou entre o primeiro trimestre de 2014 e de 2015 - de 9,3% para 9,6% -, o Nordeste foi o local em que os indicadores de emprego mostrados pela Pnad Contínua mais desaceleraram entre os períodos. Entre janeiro e março de 2014 e o mesmo intervalo deste ano, o crescimento da ocupação em relação aos mesmos períodos dos anos anteriores desacelerou de 4,8% na região para 1,5%. Na média do país, a passagem foi de 2% em 2014 para 0,8%.


Essa perda de fôlego, destaca Bruno Campos, da LCA Consultores, deu-se principalmente em virtude do desempenho da construção civil - setor em que o volume de ocupados, depois de crescer 6,3% no primeiro trimestre de 2014, recuou 2,8%, na mesma comparação - e do comércio - com desaceleração de 6,7% para 0,2% entre os dois períodos.


Os rendimentos se comportaram de maneira semelhante. Enquanto na média nacional a alta da renda média real de todos os trabalhos desacelerou de 3,8% para uma estabilidade nos três primeiros meses de 2015, no Nordeste a alta de 6,1% no primeiro trimestre de 2014 transformou-se em queda de 1,9% entre janeiro e março. Pernambuco foi o Estado com maior retração nesse indicador, de 7,5%.


Mesmo com as diferenças regionais, o economista ressalta que a tendência de aumento do desemprego sinalizado ontem pelo levantamento do IBGE é nacional, com desaceleração da geração de novos postos de trabalho e aumento da procura por emprego. "A tendência é parecida com a da PME [Pesquisa Mensal de Emprego], ainda que o nível seja diferente", pondera. Entre o primeiro trimestre de 2014 e o mesmo período de 2015, o desemprego avançou de 7,2% para 7,9% na Pnad Contínua e de 5% para 5,8% na PME (levando em conta a média do trimestre), um aumento de 0,7 e de 0,8 ponto percentual, respectivamente.


Para Rodrigo Leandro de Moura, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), os dados do Nordeste mostram que a taxa já alta de desemprego - próxima a 10% - reduziu o poder de barganha dos trabalhadores e levou à queda da renda que ainda não foi vista nos demais locais. "Na região, o ajuste está se dando via renda nesse momento", diz Moura. Ele avalia, contudo, que o movimento mais rápido de alta do desemprego já registrado na outras regiões - em três delas a taxa subiu acima de 1 ponto percentual - também chegará ao Nordeste neste ano.


Moura também considerou expressivo o aumento da taxa de desemprego no Centro-Oeste, uma região dependente da agropecuária, um dos poucos setores para o qual não se espera queda de atividade neste ano.


A economista Camila Saito, da área de cenários regionais da Tendências Consultoria, avalia que o Nordeste, por ser a região em que a economia cresceu de forma mais expressiva nos últimos anos - 3% ao ano entre 2009 e 2014, contra 2,6% da média nacional, de acordo com estimativas da instituição -, deve sofrer desaceleração forte neste ano. A Tendências projeta que o Produto Interno Bruto (PIB) da região, depois de aumentar 1,5% no ano passado, suba apenas 0,1% em 2015.


Para ela, entretanto, o Sudeste vai ser a região mais afetada, já que concentra alguns dos setores mais expostos às "turbulências macroeconômicas" do período - o de máquinas e equipamentos, a construção civil e o automotivo. "Além disso, o tarifaço de energia elétrica e o racionamento de água devem afetar fortemente o desempenho do Sudeste", completa. Por isso, a estimativa para o PIB da região é de queda de 2,6%, desempenho ainda pior do que o previsto para o país, uma retração de 1,4%.


Os efeitos do Lava-Jato, ela avalia, deverão ser relevantes em ambas as regiões. No caso específico do Nordeste, pesam as demissões no estaleiro pernambucano Atlântico Sul e os cancelamentos dos projetos das refinarias do Maranhão e do Ceará. "Por outro lado, há importantes investimentos em maturação neste ano no Nordeste, como a primeira fase da refinaria de Abreu e Lima e a planta da Fiat em Pernambuco e a maturação de uma planta de celulose no Maranhão".


Além da geração mais fraca de vagas no primeiro trimestre, o IBGE destacou na Pnad Contínua a entrada de 1,7 milhão de pessoas na força de trabalho, que cresceu 1,7% sobre igual intervalo de 2014. No período, a população ocupada avançou 0,8%, com geração de 772 mil postos. "Há uma pressão no mercado de trabalho", afirmou o coordenador da pesquisa, Cimar Azeredo.


A oferta mais modesta de emprego em outros segmentos da economia, ele pondera, pode ajudar a explicar o crescimento do trabalho doméstico nos três primeiros meses deste ano. O segmento cresceu 1,5% em relação ao primeiro trimestre de 2014, passando a contar 6,019 milhões de pessoas. "Talvez por falta de oportunidades, vem crescendo esse tipo de ocupação", completou Azeredo.



Volume de estoque sobe e comércio vive pessimismo


Por Alessandra Saraiva | Do Rio


Com a deterioração do cenário econômico, a parcela de empresários varejistas que relatam ter estoques acima do desejado atingiu, em abril, a maior fatia em quatro anos, ou 28,3% do universo pesquisado pela Confederação Nacional de Comércio, Bens e Serviços (CNC). Para a entidade, os fatores macroeconômicos que conduzem ao atual cenário desfavorável para o comércio, como juros altos, crédito caro, avanço da inflação e crescimento menor da renda do trabalhador são de difícil resolução no curto e médio prazos. O menor ritmo de vendas do setor, com consequente continuidade do aumento dos estoques, deve prosseguir para os próximos meses.


Isso levará a CNC a revisar para baixo, na semana que vem, a atual projeção de aumento de 0,3% no volume de vendas do varejo restrito, após divulgação da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) pelo IBGE. "Provavelmente revisaremos para queda [no volume de vendas do varejo restrito em 2015 ante 2014]", adiantou o economista da CNC, Fabio Bentes.


Caso seja confirmado o recuo nas vendas de 2015 este seria o primeiro resultado negativo desde 2003 (-3,7%), lembrou ele. No ano passado, as vendas do varejo restrito subiram 2,2% ante 2013.


Bentes fez as observações ao comentar o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) de abril, divulgado ontem, que mostrou quedas de 8,2% ante março; e de 25,1% ante abril do ano passado, para 87,2 pontos. As retrações foram as mais intensas da história do indicador, iniciado em março de 2011 e que abrange 6 mil empresários no país - sendo que a pontuação do Icec foi a menor de sua série.


Na prática, o pessimismo dos empresários refletiu fraco ritmo de vendas e acúmulo de produtos em suas prateleiras, observou Bentes. Esse último tópico foi perceptível no âmbito do Icec. No universo delineado pelo indicador, 28.3% dos empresários afirmaram estar com estoques acima do adequado. Esse percentual foi o maior da história do índice, e superior ao de abril de 2014 (23,2%) e ao de março de 2015 (26,3%).


O cenário apurado pelo Icec, de pessimismo entre os empresários, é coerente com os indicadores negativos mostrados pelo comércio no início de 2015, comentou Bentes. Pela ótica da PMC, do IBGE, o volume de vendas do varejo restrito mostrou recuo de 1,2% no primeiro bimestre desse ano, o pior resultado para esse período desde o primeiro bimestre de 2003. Ao mesmo tempo, esta semana o indicador de atividade do varejo mensurado pela Serasa mostrou alta de 1,2% no primeiro quadrimestre de 2015, o mais baixo patamar desde o primeiro quadrimestre de 2002 (-6,8%).


Para o especialista, há uma sensação, entre os empresários do comércio, de que a atividade econômica mostrou piora em abril. Outros indicadores macroeconômicos, como a atividade industrial, mostraram números muito ruins no começo do ano - o que acabou por contaminar negativamente a confiança.



Pesquisa mostra que renda real subiu muito mais no Sudeste desde 2012

Por Denise Neumann e Camilla Veras Mota | De São Paulo


Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Continua (Pnad Contínua) mostram que nos últimos anos o Sudeste liderou o aumento da renda real, situação que provocou um novo aumento na disparidade regional. Entre o primeiro trimestre de 2012 e o de 2015, o rendimento médio real dos ocupados do Sudeste subiu 8,1% acima da inflação, resultado puxado por São Paulo, onde a alta chegou a expressivos 10,2%.


Na sequência, os salários que mais subiram foram os do Nordeste (6,1%) e os do Sul (6,2%), percentual que apenas acompanhou o aumento real do salário mínimo no mesmo período, enquanto no Norte o rendimento só empatou coma inflação (0,6% de aumento) e no Centro-Oeste, os ocupados tiveram perda real de renda (menos 0,9%).


Com a retomada do Sudeste e a queda na renda média do Centro-Oeste, o rendimento pago em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo passou a ser o maior do país, desbancando o Centro-Oeste. Ao mesmo tempo, foi interrompido o processo de melhora proporcional da renda do Norte e do Nordeste em relação a das regiões mais ricas. EM 2012, o rendimento médio do Nordeste equivalia a 60% daquele pago no Sudeste. Hoje está em 59%, depois de ter chegado a 61% no ano passado. Para os nortistas, a perda foi maior, pois em 2012, a renda média da região alcançava 74% daquela paga no Sudeste. Esse percentual caiu para 68%.


No caso do Sudeste, a liderança foi perdida no último ano. Entre 2012 e 2014, o rendimento real subiu 8,5%, ganho parcialmente "perdido" no ano passado com a queda de 1,9% registrada pela pesquisa. Essa foi a primeira vez que o IBGE trouxe dados nacionais de renda e ocupação da Pnad Contínua. Os últimos dados disponíveis de renda para o país todo eram da Pnad de 2013.


FGV apura 'repique', mas perspectiva é de baixa


Por Alessandra Saraiva | Do Rio


Indicadores do mercado de trabalho elaborados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostram que as condições para o emprego pioraram em abril, mas que a expectativa para os meses seguintes teve ligeira melhora. No entanto, a perspectiva é mais negativa do que positiva, para Rodrigo Leandro de Moura, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre). Isso porque, em sua avaliação, a melhora nas expectativas foi apenas um "repique", que não deve perdurar. Além disso, os indicadores mostraram pessimismo maior com o mercado de trabalho entre as classes média e média alta - o que sinaliza maior corte de vagas nessas classificações de renda, que têm salários mais elevados. "Não acho que vá melhorar nos próximos meses", comentou.


O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) subiu 2,0% em abril depois de três meses consecutivos em queda. Ao passar de 64,9 para 66,2 pontos, o índice mantém-se em um patamar extremamente baixo em termos históricos, sendo comparável ao do período entre dezembro de 2008 e março de 2009, auge da crise financeira internacional. De acordo com a FGV, o resultado é ainda insuficiente para reverter a expectativa do cenário de desaquecimento do mercado de trabalho para os próximos meses, já que a variação do indicador de média móvel trimestral permanece em terreno negativo (-3,7%).


Outro indicador, o Coincidente de Desemprego (ICD), por sua vez, avançou 2,9% em abril, atingindo 85,8 pontos, o maior índice desde julho de 2009 (86,3 pontos). A tendência de alta iniciada em abril de 2014 se mantém. Nesse período, a variação acumulada é de 29,8%. O resultado sinaliza nova piora do mercado de trabalho em abril.


Para o especialista, o ICD deve continuar a avançar, nos próximos meses. Quase a metade do avanço do indicador foi originada de piora nas expectativas de emprego das classes média, e média alta. Ao detalhar a evolução do índice em abril, Moura informou que, do total de avanço do indicador ante março, 1,2 ponto percentual foi originado de famílias com ganhos mensais entre R$ 4.800 e R$ 9.600. Quando expectativas de maior desemprego são mais fortes em famílias nessa faixa de ganho, isso significa que estão ocorrendo demissões em vagas com salários próximos a essa faixa de renda, avaliou.


"Esse cenário mostra que as empresas estão reduzindo novas contratações; e principalmente, contratações de salário mais elevado", resumiu ele, salientando que o cenário difere do que ocorreu no mercado de trabalho, no passado. "Em períodos de desaquecimento da economia, em outras épocas de recessão, os mais pobres sofriam mais [com demissões]. Mas agora quem está sofrendo mais parecem ser os de classe media e classe media alta", disse. "As famílias de renda média e média alta estão percebendo piora mais rápida do mercado de trabalho", disse.


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