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Portal EM ( Economia ) - MG - Brasil - 22-05-2016 - 07:00 -   Notícia original Link para notícia
Empresários adotam nova atividade no mesmo espaço para driblar crise

Com queda nas vendas de até 70%, estratégia é usada para atrair mais público e superar desaquecimento do país
Com menos movimento no seu salão, Jânia Silva decidiu diversificar e montou um brechó no espaço (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)

Primeiro, era papelaria. Depois de 15 anos, além de cadernos, lápis e borracha, o negócio passou a oferecer brinquedos. Veio a crise e as linhas de produtos infantis mais sofisticados foram substituídas pelos populares e entrou também a venda de materiais de informática. Agora, com a recessão tomando conta do comércio, a Mixpel papelaria, na Região Leste, vai dividir o espaço com serviços de telefonia, vestuário e eletroportáteis. "É uma questão de sobrevivência", define o dono, Adriano Boscatte. Ele é um dos muitos comerciantes mineiros que, diante da situação econômica do país e do tombo brusco do comércio, resolveram não apostar somente em ofertas e estão diversificando o estabelecimento para aumentar o movimento em seus espaços.

As promoções, sempre apontadas como as melhores estratégias para os lojistas "fisgarem" os consumidores em períodos de crise, já não são vistas por eles como "salvação" neste momento de recessão. Comerciantes, que amargam quedas de até 70% nas vendas este ano, não apostam mais nas ofertas como chamariscos e já começam a mexer seus pauzinhos em direção à diversidade dos negócios como forma de resistir no mercado.

Não é pra menos. De acordo com dados da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (Jucemg), de janeiro a março, o fechamento de lojas no comércio em Minas Gerais aumentou 74,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Em Belo Horizonte, o crescimento chega a 89%. Levantamento da entidade indica ainda que foram fechadas, no primeiro trimestre, 692 lojas na capital mineira, ante 366 no período equivalente de 2015. Em Minas, 2.360 lojas encerraram as atividades de janeiro a março do ano passado, sendo que, no mesmo intervalo de 2016, 4.125 estabelecimentos fizeram o mesmo.

"Promoções e ofertas somente não dão certo. De uns seis meses para cá, nós, comerciantes, estamos buscando a sobrevivência e, por isso, somos obrigados a diversificar", comenta Boscatte. Ele conta que há mais de 20 anos tem a papelaria e, com o passar dos anos, teve que oferecer à clientela mais opções de produtos. "Há seis anos, resolvi vender brinquedos. Mas era uma venda discreta e somente com marcas conhecidas, já que a situação econômica era outra. Com a recessão, coloquei a venda de material de informática, como cartuchos, impressoras, e passei a vender brinquedos mais populares", informa Boscatte. Ele diz que, atualmente, o material de papelaria corresponde a 30% do negócio.

O empresário Adriano Boscatte adicionou brinquedos e produtos de informática na sua papelaria (foto: Euller Junior/EM/D.A Press)

SALÃO COM ROUPAS Com queda de quase 40% no movimento por causa da crise, a cabeleireira Jânia Silva, e dona do Salão Degradê, no Bairro Padre Eustáquio, resolveu virar o jogo depois de uma experiência bem-sucedida. Em outubro do ano passado, ela abriu mão do serviço de manicure do salão e fez de brincadeira um bazar entre as amigas. "As pessoas gostaram e vislumbrei nisso uma oportunidade", conta. Assim, ela dividiu o espaço do salão com um brechó e, atualmente, já até contratou uma funcionária para dar conta dos registros das roupas que chegam. "O meu retorno começou a vir em janeiro e, agora, estou começando a investir no mobiliário desse brechó", comemora.

Apesar do novo negócio, ela conta que em maio, que historicamente é um mês de muitas festas, ela observou que, no salão, o movimento tem caído. "Nunca pensei que sairia em um horário normal nos sábados de maio", diz. Por isso, o brechó é visto por ela como uma segunda opção. "Já tenho clientes que vêm aqui só por causa das vendas das roupas, outras ligam para saber", diz. Feliz e esperançosa que essa diversidade vai lhe render frutos, ela diz que na região é o único salão a oferecer esse tipo de produto. "A minha expectativa é de não ficar dependendo de uma coisa só para ter renda", diz.

Tendência que exige cuidados

A diversificação do varejo, às vezes com uma reviravolta nos negócios, tem se tornado uma tendência diante da situação caótica que a crise criou no comércio, segundo avalia o vice-preisdente da de Belo Horizonte (-BH), Marco Antônio Gaspar. "A necessidade faz o ladrão", diz, citando o ditado popular para justificar a estratégia dos comerciantes. Segundo ele, esse tipo de medida agrega valor ao negócio e chama a atenção dos clientes.

Ele ressalta que as vendas no varejo não estão boas, mas também não estão tão ruins como dizem por aí. "Tem gente com queda no faturamento, mas tem gente que está conseguindo aumentar seus lucros. Em média, houve redução de 5% no faturamento do comércio em BH, então, este é o momento de se reinventar", aposta. Para Gaspar, como o faturamento está caindo e os custos aumentando - como salários dos funcionários, conta de luz e de água -, os comerciantes estão conseguindo negociar os valores dos aluguéis. "Não tem como negociar os impostos , nem as outras contas. Então, o ideal é queimar os estoques, abaixar os preços, fazer promoções e, se conseguir usar a criatividade, oferecer mais produtos aos clientes", aconselha.

OPORTUNIDADE Ele destaca que, muitas vezes, os lojistas se acomodam e, quando enfrentam uma crise, se reinventam tão bem que crescem naquilo que investiram. "Por isso que na China a crise é vista como oportunidade", observa. E foi essa oportunidade que o dono da Mixpel papelaria, Adriano Boscatte, enxergou ao ver que amigos e conhecidos estavam fechando as portas dos seus negócios. Ele se reuniu com eles na última semana para negociar a entrada deles no espaço da papelaria, com o objetivo de abrir ainda mais o leque para a clientela.

Com a recessão, Boscatte passou dos 16 funcionários para cinco. "Antes, havia filas nos quatro caixas. E agora, temos um caixa. Diante desse cenário, pretendo departamentalizar a empresa com parcerias em serviços de telefonia celular, eletroportáteis, roupas masculinas e femininas, além de artigos para festa", antecipa, dizendo que o seu estabelecimento conta com espaço de 300 metros quadrados, sendo o maior do bairro. "Aproveitei os espaços ociosos e fui conversando com a clientela para conhecer o interesse dela, assim, vamos ter um movimento maior de consumidores. É uma questão de sobrevivência, vou dividir o aluguel com mais pessoas e terei um potencial maior de clientes", calcula Boscatte.

SEM ANSIEDADE A felicidade do cliente é um dos pontos positivos para essa mistura de ramos, segundo a analista do Sebrae Luciana Lessa. Ela ressalta que quem arrisca tem que ter em mente que poderá ter custos maiores, uma vez que pode ser necessária a contratação de um novo funcionário. "A pessoa tem que ter em mente que se trata de um novo negócio", diz. Ela aconselha, sempre, os comerciantes a fazer, antes de tudo, uma pesquisa com a clientela e perguntar o que ela gostaria que fosse vendido ali. "É bom diversificar, mas é menos arriscado o comerciante colocar produtos do mesmo ramo", diz.

Ela aconselha também o uso de um plano de negócio. "Tem que traçar quem será o fornecedor desse novo negócio, o concorrente e, então, começar a divulgar para os clientes a novidade", afirma. Lessa reconhece que tem havido uma certa ansiedade dos lojistas com a crise econômica e, por isso, tem que ter calma antes de tomar medidas extremas. "Primeiro, se não está vendendo o produto, por que não melhorá-lo?", indica.


Palavras Chave Encontradas: Câmara de Dirigentes Lojistas, CDL
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