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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 02-09-2015 - 09:05 -   Notícia original Link para notícia
Tempestade perfeita

China e temor sobre déficit no Brasil levam dólar a R$ 3,686, maior patamar em quase 13 anos


"Nosso mercado é influenciado hoje tanto pela conjuntura externa quanto pela turbulência aqui dentro mesmo" Adriano Moreno Estrategista da Futura Invest


- RIO, XANGAI E JACARTA- A China voltou a abalar os mercados financeiros ontem, após divulgar dados que apontam a desaceleração da indústria da segunda maior economia do mundo. No Brasil, a piora do cenário tanto fiscal quanto político ainda alimentou a valorização do dólar comercial, que registrou a maior cotação em quase 13 anos. E uma combinação de turbulência externa e deterioração doméstica - com a previsão de um déficit de R$ 30,5 bilhões para 2016 - eleva as apostas de que os juros no Brasil continuarão em patamar elevado.


O Índice de Gerentes de Compras ( PMI, indicador da atividade industrial) oficial da China caiu de 50 para 49,7 pontos em agosto, o mais baixo em três anos, informou a Agência Nacional de Estatísticas. Uma leitura abaixo de 50 pontos indica desaceleração. Já o PMI apurado pela consultoria privada Caixin/ Markit, que foca em fábricas menores, indicou uma desaceleração ainda mais forte, com o PMI caindo para de 47,8 para 47,1, pior leitura desde março de 2009.


PARA LAGARDE, TRANSIÇÃO COMPLICADA


O efeito foi se espalhando. A Bolsa de Xangai, segundo a Bloomberg, chegou a despencar 4,8%, fechando o dia em queda de 1,23%. Tóquio recuou 3,84%, e Hong Kong, 2,24%. Londres fechou em baixa de 3,03%, enquanto Paris perdeu 2,40% e Frankfurt, 2,38%. Em Nova York, o Dow Jones teve baixa de 2,84%, enquanto o S& P 500 registrou desvalorização de 2,96%, e o Nasdaq, de 2,94%.


O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo ( Bovespa), fechou em queda de 2,46%, aos 45.477 pontos. O dólar comercial operou em forte alta ao longo do dia, o terceiro consecutivo de valorização, para encerrar em alta de 1,57%, a R$ 3,686 - a maior cotação desde os R$ 3,740 de 13 de dezembro de 2002. Na máxima do dia, a moeda alcançou R$ 3,705.


- Pela primeira vez na História o governo cria um Orçamento já com rombo. Ficou claro que o mau planejamento das desonerações feitas no passado começam a pesar. O mercado está ainda mais preocupado com a possibilidade de perda de grau de investimento e com o aparente racha na cúpula econômica do governo. Por causa disso tudo, o dólar sobe - disse Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.


A desaceleração da economia chinesa foi alvo de comentários da diretora- gerente do Fundo Monetário Internacional ( FMI), Christine Lagarde, durante encontro com universitários na Indonésia.


- A transição para uma economia mais baseada em mercado e a desmontagem dos riscos acumulados nos últimos anos são complexas e podem muito bem ser turbulentas - afirmou Lagarde. - Dito isso, as autoridades têm as ferramentas de política e os colchões financeiros para cuidar dessa transição.


ALTA DE JUROS NO RADAR


Acompanhando o dólar comercial, o turismo chegou a encostar em R$ 4,20. Nas agências de câmbio do Itaú, a moeda encerrou a R$ 3,96 em espécie e R$ 4,19 no cartão pré- pago, enquanto o euro atingiu R$ 4,48 e R$ 4,74, na mesma ordem. As cotações já incluem o Imposto sobre Operações Financeiras ( IOF), de 0,38% para papel- moeda e 6,38% para o cartão.


No Bradesco, o dólar turismo era vendido a R$ 4,11 ( pré- pago) e R$ 3,92 ( espécie), e o euro, a R$ 4,62 e R$ 4,41, respectivamente. Já a TOV Corretora vendia a divisa americana a R$ 3,80 ( espécie) e R$ 4,02 ( pré- pago), e o euro, a R$ 4,31 e R$ 4,56, respectivamente.


Em escala global, porém, o dólar recuava 0,16% frente às dez principais moedas do mundo, segundo o índice Dollar Spot, da Bloomberg. A avaliação do mercado foi que a desaceleração da China aumenta a probabilidade de que o Federal Reserve ( Fed, o banco central dos EUA) adie a elevação de juros do país, esperada para este mês.


- Nosso mercado é influenciado hoje tanto pela conjuntura externa quanto pela turbulência aqui dentro mesmo - afirmou Adriano Moreno, estrategista da Futura Invest.


Para João Pedro Brugger, da Leme Investimentos, o mercado também especula sobre a taxa básica de juros, a Selic, que será anunciada hoje:


- O consenso do mercado ainda é de uma manutenção nos 14,25%. Mas o câmbio correu forte desde a última reunião do Comitê de Política Monetária ( Copom), e a piora no cenário político e externo foi tão grande, que algumas pessoas desconfiam que possa haver mais um aumento de 0,25 ponto percentual.


O mau humor também impactou as taxas dos contratos futuros de juros, os DIs. O contrato com vencimento em janeiro de 2017 avançou 210 pontos- base, de 14,22% para 14,43%. O contrato mais curto, com vencimento em janeiro de 2016, teve alta de 20 pontos- base, para 14,32%, enquanto o com prazo em janeiro de 2021 avançou 270 pontos, a 14,39%.


FITCH FALA EM MUDANÇA DE CENÁRIO


Houve reflexo também no Credit Default Swaps ( CDS) referente ao Brasil, que é uma espécie de seguro contratado pelos investidores de títulos soberanos e representa, na prática, uma medida de percepção de risco. O CDS brasileiro com vencimento em cinco anos saltou de 351 para 367 pontos - o da Turquia, por exemplo, é de 277 pontos.



Além disso, a agência de classificação de risco Fitch afirmou ontem que a previsão de déficit no Orçamento de 2016 "coloca a tendência de superávits primários bem abaixo do cenário- base usado pela Fitch em abril". Naquele mês, a agência colocou em perspectiva negativa a nota soberana do Brasil.      


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