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Estado de Minas Online ( Gerais ) - MG - Brasil - 07-02-2015 - 13:20 -   Notícia original Link para notícia
Teste de paciência

Mau tempo, com chuva forte na Grande BH, fecha aeroporto internacional. Passageiros tiveram dia de caos, com atrasos, voos cancelados, desinformação e goteiras no terminal


Landercy Hemerson, João Henrique do Vale, Marcia Maria Cruz e Thiago Madureira


Publicação: 07/02/2015 04:00



Passageiros enfrentaram longas filas e a reclamação sobre a falta de informações era unânime: aeroporto internacional foi fechado em pelo menos quatro ocasiões ontem
Baldes foram colocados no terminal por causa das goteiras. Funcionários tiveram muito trabalho na limpeza
 
O Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH, teve ontem um dia de caos e transtornos, com atrasos e cancelamentos de voos provocados pelo mau tempo. A chuva forte e constante resultou no fechamento do terminal por quatro vezes, somando cerca de cinco horas de suspensão das operações. De acordo com a BH Airport, que administra o aeroporto, 42 decolagens foram canceladas e 61 sofreram atrasos. Por falta de visibilidade, 37 aeronaves não tiveram como pousar e foram deslocadas para outros terminais. Às 20h30, a situação em Confins já não era tão crítica e apenas seis voos estavam atrasados.

A psicóloga Natalia Pena, de 27 anos, chegou mais cedo ao terminal, para tentar antecipar seu voo para o Rio de Janeiro. "Disseram que não tinha como ir mais cedo, pois com o fechamento do aeroporto, os voos do começo da noite partiram lotados. Pelo menos o meu, às 21h15, vai partir dentro do previsto, já que a situação foi normalizada", comemorou. O gerente comercial, Carlos Guerra, de 29, disse que enfrentaria um atraso de 30 minutos em seu voo para São Paulo, inicialmente previsto para às 21h04, mas a companhia garantiu que não seria cancelado. Já a fisioterapeuta Adriana Shinohara, de 29, depois de 16 horas para conseguir chegar a Confins, vinda do interior paulista, não teve a garantia de que seguiria para Montes Claros, no Norte de Minas, nem mesmo de ônibus.

O caos no aeroporto começou no início desta manhã. A neblina e o mau tempo fizeram o terminal ficar fechado para pousos e decolagens às 7h20. A reabertura somente ocorreu depois de duas horas, mas terminal foi fechado novamente às 11h34. O procedimento ocorreu outras duas vezes. Os painéis que registram em tempo real as decolagens e pousos ficaram desatualizados.

Devido aos atrasos e cancelamentos, os passageiros se aglomeraram no saguão e longas filas se formaram nos guichês de atendimentos das companhias aéreas. Houve bate-boca entre funcionários e passageiros, que reclamaram da falta de informação e auxílio. Foi o caso da professora Isabel Dinorá, de 63 anos, que mora em Salvador, e estava com a neta Cauane, de 3, que é cardíaca. Ela foi a São Paulo fazer revisão da cirurgia da neta, mas chegando a Confins não pôde seguir viagem para Salvador. A TAM cancelou o voo 3216 e, segundo ela, não deu nenhuma informação. "Tem medicação que minha neta precisa tomar", queixava-se.

Além da falta de informação por parte das empresas, os passageiros também tiveram que enfrentar goteiras em alguns lugares do terminal, que ainda passa por obras. A BH Airport informou que os locais onde a água ficou empoçada foram isolados e funcionários fizeram a limpeza. A estrutura do aeroporto também foi posta em xeque. No primeiro piso, vários pontos estavam isolados por causa da água.

A técnica em mecânica de aeronaves Suzana Flávia Diniz estava preocupada e, ao mesmo tempo, irritada com a falta de informações sobre o voo da mãe, que deveria ter chegado na quinta-feira - por causa das condições meteorológicas, o avião teve que retornar para São Paulo. "A única informação que tive foi de um parente de uma passageira, que estava aqui e conseguiu falar com o familiar na aeronave. Ninguém no aeroporto soube me informar nada", reclamou.

O técnico em mecânica Amarante Araújo, de 60, estava esperando os netos Gustavo, de 6, e Clara Araújo, de 2, que vinham de Porto Alegre. O avião chegou a sobrevoar Belo Horizonte, mas foi para Campinas. "São crianças e não sei o que está ocorrendo. Não sei se estão com fome ou assustadas. Ninguém nos dá nenhuma informação. A sensação é de insegurança, um abuso", desabafou.

O fotógrafo Paulo Monteiro, de 50, embarcaria para Brasília às 8h de ontem, mas teve o voo cancelado às 14h. "Preciso estar até amanhã (hoje) em Anápolis, porque tenho uma festa de casamento para fazer. Estou pensando até em ir de ônibus, mas são 800 quilômetros. Se perder o trabalho nessa festa, estou pensando em processar a companhia, não pelo problema do tempo, que pode ocorrer, mas pela falta de respeito com o cliente, que não recebe apoio nenhum."


 



Painéis que registram decolagens e pousos ficaram desatualizados 


 


Falta de aparelho
piora a situação

 
Outro problema levantado pelos passageiros foi a falta do ILS (sigla em inglês para sistema de pouso por instrumentos), aparelho que dá a orientação precisa ao piloto durante o pouso, quando as condições do clima prejudicam a visibilidade, como em situações de névoa, chuva, neve, entre outras. O aeroporto de Confins não conta com o equipamento.

Funcionários de empresas aéreas justificaram, segundo pessoas ouvidas pelo Estado de Minas, os atrasos e cancelamentos pela falta da aparelhagem. A BH Airport admitiu que o equipamento ainda está em fase de homologação pela Aeronáutica, e informa que não tem data para entrar em operação. Porém, informou que, mesmo com o equipamento, a situação seria crítica, pois o fechamento do terminal se deu pela má visibilidade.


 



Amarante estava angustiado à espera dos netos: 'Sem informação'



Entre o alívio e o alertaMaior índice de chuvas traz expectativa de recuperação de mananciais, mas também dispara o alarme para as ameaças de inundação na Grande BH, que já registra os primeiros prejuízos


Guilherme Paranaiba


Publicação: 07/02/2015 04:00



A manhã chuvosa na Praça do Papa, na Zona Sul da capital, foi comemorada por muitos belo-horizontinos preocupados com consequências da estiagem...


...mas, em outros pontos, os efeitos foram negativos: uma escola teve o muro destruído e o Arrudas transbordou. Em Confins, condições do tempo causaram caos

Aguardada com ansiedade, a chegada de chuvas mais consistentes à Região Metropolitana de Belo Horizonte, especialmente nos últimos três dias, representa um pequeno alívio na esperança de minimizar o risco de desabastecimento e iniciar a recarga dos reservatórios. Porém, as tempestades, que pela primeira vez na temporada 2014/2015 dão sinais de maior duração, também ligam o alerta para os problemas relacionados ao excesso de chuva. Um dos sinais veio do Ribeirão Arrudas, que no fim da noite de quinta-feira transbordou na altura do Bairro das Indústrias, na Região do Barreiro, e inundou a Avenida Tereza Cristina. Parte do muro de uma escola desabou, mas não houve feridos. A chuva complicou também as operações no aeroporto de Confins, provocando o cancelamento de pelo menos 42 decolangens - o índice mais alto registrado ontem no país - e atrasos em outros 61 voos, além dos 37 que tiveram de ser deslocados para terminais de outras cidades. Outra preocupação é a ameaça de proliferação do mosquito transmissor da dengue e da chikungunya, já que boa parte da população vem armazenando água em dias chuvosos. 

Segundo o centro de climatologia TempoClima/PUC Minas, nos seis primeiros dias de fevereiro choveu 69,2 milímetros, sendo 39,2 milímetros em 24 horas, de quinta-feira para ontem. O total corresponde a 33,59% da média histórica de 206 milímetros para o mês. Depois de um movimento de queda, mesmo com as primeiras chuvas de fevereiro, ontem o Sistema Paraopeba registrou, segundo medição da Copasa, recuperação tímida. Entre os três principais componentes do sistema, os reservatórios Serra Azul e Vargem das Flores puxaram a recuperação, enquanto a represa do Rio Manso se manteve estável. Já o Rio das Velhas, cuja captação ocorre diretamente no curso d'água, atingiu a maior vazão dos últimos 30 dias, conforme monitoramento da Copasa. A última medição disponível é de quinta-feira, com 29,7 metros cúbicos por segundo, 52,3% a mais do que os 19,5 metros cúbicos por segundo de quarta-feira. Juntos, os dois sistemas garantem a maior parte do abastecimento de água da Grande BH.

De acordo com o meteorologista Heriberto dos Anjos, do TempoClima/PUC Minas, as chuvas que já eram satisfatórias até a manhã de quinta-feira melhoraram ao longo do dia e a tendência é de que o volume de precipitação aumente ainda mais. "Até segunda-feira, a previsão é de mais chuvas. Somando quinta, sexta e o fim de semana, poderemos ter entre 80 e 110 milímetros, com redução das temperaturas devido à nebulosidade", diz o especialista. A explicação para o quadro é a combinação de uma área de baixa pressão entre o litoral do Rio de Janeiro e Minas Gerais com a alta umidade, que tende a permanecer até segunda. 

PROBLEMAS Mas a chuva indispensável para recuperar os mananciais que abastecem a Grande BH traz consigo o alerta para as ocorrências de alagamentos, quedas de árvores e outros problemas. De acordo com o coronel Alexandre Lucas, coordenador da Defesa Civil municipal, na noite de quinta-feira a precipitação que castigou a Região do Barreiro fez o Ribeirão Arrudas transbordar. "Tivemos pontos de alagamento na noite de quinta-feira, mas hoje (ontem) tudo já havia voltado ao normal. Não tivemos feridos ou desabrigados", contabilizou.

A única ocorrência de ontem registrada pela Defesa Civil foi a queda de parte do muro que faz a contenção de um lote na Escola Municipal Edith Pimenta da Veiga. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, o muro caiu de madrugada e o reparo já foi requisitado. Ontem, a Defesa Civil emitiu alerta de chuva forte, recomendou atenção especial nas áreas de encostas e morros e pediu que a população evite áreas com histórico de inundação. Outra preocupação é com a proliferação do mosquito transmissor da dengue e da febre chikungunya. Como muita gente tem buscado alternativas para acumular água da chuva, com o intuito de economizar, o coronel Alexandre Lucas pede que os reservatórios sejam tampados e protegidos com tela. 

OBRAS Segundo a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), está prevista para sair do papel no segundo semestre deste ano a obra da bacia de detenção do Bairro das Indústrias, avaliada em R$ 40,3 milhões, para resolver os problemas de inundações no Ribeirão Arrudas nas imediações do limite entre BH e Contagem. Para este ano, estão prometidas outras obras importantes para solucionar alagamentos crônicos em outros pontos da cidade, como a ampliação dos canais do Córrego Cachoeirinha e dos ribeirões Pampulha e do Onça, grande aposta para acabar com as inundações nas avenidas Bernardo Vasconcelos e Cristiano Machado, totalizando investimento de R$ 442 milhões.

Os alagamentos da Avenida Francisco Sá só terão fim quando as intervenções para aumentar a rede de drenagem ocorrerem. O custo é de R$ 15,22 milhões e o início das intervenções está previsto para o segundo semestre. Na Avenida Prudente de Morais, está em andamento a execução de uma galeria subterrânea paralela à existente. O custo aproximado é de R$ 50 milhões, incluindo o desassoreamento que já foi feito na Barragem Santa Lúcia. A conclusão da obra está prevista para o primeiro semestre de 2017. 


 


 


Palavra de especialista

Luiz Palmier, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG


Da escassez ao excesso

Normalmente, os problemas que a água causa para a sociedade são a escassez e o excesso. Curiosamente, nesse verão temos os dois problemas de uma só vez. Por um lado, nas áreas urbanas, as chuvas de grande intensidade e, em geral, de curta duração causam alagamentos motivados pela alta taxa de impermeabilização. Por outro, as bacias hidrográficas estão com pouca água acumulada devido à temporada com baixo volume de precipitação. Isso significa que é necessário muito tempo chovendo, para que a água infiltre e encharque o solo, antes de sentirmos o efeito nos reservatórios.


Palavras Chave Encontradas: Criança
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