Isto é Dinheiro online ( Negócios ) - SP - Brasil | - 20-07-2019 - 09:43 - | Notícia original | Link para notícia |
Desprazeres da carne |
A anunciada fusão entre BRF e Marfrig não animou o mercado e acabou sendo enterrada por conta de discordâncias em relação ao comando dos negócios Carlos Eduardo Valim, Valéria Bretas No dia 30 de maio, depois do fechamento do mercado, as brasileiras BRF e Marfrig anunciaram a assinatura de um memorando para estudar a fusão entre as empresas. Com potencial de criar a quarta maior companhia de carne do mundo, faturamento anual de R$ 80 bilhões e valor de mercado de R$ 26,5 bilhões, o negócio seria analisado por até 90 dias, com possibilidade de prorrogação por mais 30 dias. Não precisou de todo esse tempo. No dia 11 de julho, menos de um mês e meio depois, a fusão foi descartada. No comunicado oficial, a BRF informou "não ter sido atingido acordo quanto aos termos e condições relacionados à governança da companhia combinada". Segundo fonte que acompanhou as negociações, cinco frentes de estudos foram abertas para debater a integração: sinergias operacionais, tributárias, financeiras, estrutura societária e modelo de negócios combinados. "Já de cara houve divergências na estrutura societária", diz a fonte. "Tivemos muitas dificuldades de avançar nesse tema." A BRF tinha como objetivo inegociável replicar todo o seu modelo de governança. A empresa está listada no Novo Mercado da B3 e tem ADR nível três, o mais exigente para ações negociadas em Nova York. Isso demanda atender aos requisitos da lei Sarbanes-Oxley americana, aos quais a Marfig não tem aderência. Essa decisão dos acionistas e executivos da BRF desagradou Marcos Molina, o controlador da Marfrig, que desejava ter mais voz na nova empresa. O perfil societário das duas companhias é bastante diferente. A BRF possui controle disperso, tendo como principais acionistas os fundos de previdência Petros e Previ. A gestão é comandada por executivos de mercado como Pedro Parente, presidente do conselho, e Lorival Luz, presidente da empresa desde junho. Já a Marfrig é uma típica empresa com dono. Molina dá as cartas e toma todas as decisões mais importantes. A proposta de fusão considerava que os acionistas da BRF deteriam 84,98% das ações e os da Marfrig, 15,05%. Dessa forma, Molina seria o maior acionista da nova empresa, mas com apenas 5% do controle. Não era suficiente para definir as estratégias da nova companhia. O fracasso das negociações não surpreendeu o mercado. Além de notícias de que Petros e Previ não se animavam com o plano, os analistas do setor não acreditavam em ganhos operacionais com fusão. "Elas não são muito complementares", diz Oscar Malvessi, coordenador do curso de fusões e aquisições da Fundação Getulio Vargas. "No mundo todo, as empresas estão dando foco total em seu principal negócio. Por que a BRF e a Marfrig iriam querer mudar de negócio?" A Marfrig é uma grande força mundial da venda de carne bovina. Em especial para os EUA, que representa 70% dos seus negócios. Já a BRF se destaca em aves e suínos, com produtos processados das marcas Sadia e Perdigão, consumidas em três grandes mercados: Brasil, países árabes e Ásia. DOIS MAIS DOIS O negócio parecia fazer sentido do ponto de vista financeiro, mas não no operacional. O nível de endividamento da BRF diminuiria com o negócio. A empresa opera com uma alavancagem de 4,6 vezes, considerando a sua dívida líquida em relação ao Ebitda. Já a Marfrig tem índice de 2,1 vezes. "Elas somariam dívidas", diz Malvessi. "A lógica para uma fusão é buscar uma sinergia em que, quando se soma um mais um, o resultado é mais de dois. Mas, no caso, a soma daria menos de dois." Na BRF, no entanto, a percepção é que haveria ganhos adicionais. Além de uma presença global e diminuição do endividamento, a transação traria acesso a crédito mais barato, devido à força da Marfrig nos EUA. O fim dos planos de fusão não vai, porém, afetar a relação comercial entre as empresas na distribuição de produtos para supermercados e quiosques. "Apesar do término das tratativas, o relacionamento entre a companhia e a Marfrig permanecerá inalterado e não haverá quaisquer modificações nas práticas, condições e termos previstos em contratos por elas celebrados", disse a BRF em comunicado assinado por Lorival Luz. Isso significa que a Marfrig continuará fornecendo carne para BRF que é usada, por exemplo, nos hambúrgueres da Sadia. O casamento não saiu, mas a amizade continua. Nenhuma palavra chave encontrada. |
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