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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 07-02-2018 - 08:34 -   Notícia original Link para notícia
Corrida para fugir da incerteza

Empresas brasileiras captam US$ 8,4 bi em janeiro para aproveitar juro baixo e evitar tensão eleitoral



Beneficiadas por um cenário de juros ainda baixos no exterior, empresas brasileiras estão correndo para conquistar investidores antes que se instale o clima de incerteza com as eleições. Há ainda o temor de que o Federal Reserve eleve os juros e atraia recursos para os EUA. Para analistas, o tombo das Bolsas na segunda-feira sinalizou esse risco. Apesar do solavanco, o Ibovespa fechou em alta. As emissões das companhias brasileiras chegaram a US$ 8,4 bilhões em janeiro. -SÃO PAULO- As empresas brasileiras estão correndo para buscar recursos no exterior antes que a proximidade das eleições amplie as incertezas sobre o país e afaste os investidores. Apenas em janeiro as emissões lá fora somaram US$ 8,4 bilhões, valor 42% superior ao do mesmo mês de 2017. As companhias estão se beneficiando da grande oferta de recursos no exterior à procura de retornos mais atraentes, em um cenário de juros ainda baixos lá fora. O risco, segundo analistas ouvidos pelo GLOBO, é que ocorra uma aceleração mais brusca na elevação dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) - expectativa reforçada por dados de emprego melhores que o esperado -, o que atrairia recursos hoje aplicados em países emergentes, como o Brasil. O susto nas Bolsas de Valores mundiais, na segunda-feira, foi um sinal de alerta desse risco, embora tenha sido interpretado como um evento isolado.



- Por enquanto, não deve existir mudança nesse movimento de captações de empresas brasileiras no exterior. Mesmo que os juros subam mais do que o esperado nos EUA, as taxas que as companhias brasileiras estão pagando em dólar (de 5% a 6% ao ano) ainda são muito interessantes. Mantémse um cenário de liquidez enorme com baixos retornos - diz o estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Plácido, descartando que companhias que estavam preparando emissões no exterior desistam por causa do susto nas Bolsas.



O risco de mudança nesse cenário existe, observa o analista, se essa volatilidade persistir por um período mais longo, e os investidores perderem a referência de preços e passarem a demandar taxas de juros muito elevadas.



- O investidor não gosta de volatilidade porque ela aumenta o risco da operação - concorda o executivo de um grande banco. 'CENÁRIO POLÍTICO SERÁ DECISIVO' Para Jorge Mariscal, diretor de Investimentos de Mercados Emergentes do UBS, o risco de o Fed elevar os juros rapidamente, a ponto de desencadear uma recessão nos EUA, é muito baixo nos próximos dois anos. Mas, diz, se a velocidade da alta dos juros surpreender o mercado, isso poderia atrasar ou até adiar os planos de algumas empresas.



Para Felipe Wilberg, diretor de Mercado de Dívida do Itaú BBA, além de uma antecipação ao período eleitoral, a perspectiva de melhora da economia brasileira, taxas de juros ainda baixas no mercado externo e a disposição de fundos de investimento de investirem em países emergentes explicam a movimentação das empresas em janeiro:



- Vamos ver um ano mais curto em 2018, com eleições e Copa, e temos uma perspectiva de economia melhor no Brasil, além de taxas ainda convibônus dativas. Tudo isso levou as empresas ao mercado.



Se nada mudar, o movimento de busca por recursos no exterior deve se estender até abril, pelo menos. Depois, tudo dependerá do cenário eleitoral e da definição dos candidatos à Presidência. Se as pesquisas eleitorais apontarem chance de vitória de um candidato antirreformas, a volatilidade nos mercados financeiros vai aumentar, reduzindo a chance para esse tipo de operação.



Segundo Fabrizio Sasdelli e Milton Pinatti Ferreira de Souza, sócios de Mercados Financeiro e de Capitais do escritório Lobo de Rizzo Advogados, muitas empresas estão aproveitando a janela de captações para fazer caixa e ter mais segurança para enfrentar a tempestade eleitoral. Outras vão investir de olho na retomada da economia. Para eles, "o cenário político será decisivo".



Por enquanto, nem mesmo o rebaixamento da nota de crédito do país pela agência Standard & Poor's (S&P), no início de janeiro, afastou o interesse pelos títulos de empresas nacionais.



- A janela de captação do início de ano é sempre mais ativa. Mas o que vemos é uma antecipação. As empresas querem evitar uma maior volatilidade que virá do front político - diz Guilherme Silveira, da área de mercado de capitais do Santander.



Alexei Remizov, responsável pela área de mercado de capitais do HSBC em Nova York, acredita que a volatilidade pode elevar um pouco o custo para as empresas, mas não fechar completamente as portas. Segundo ele, "apenas os parâmetros de preço podem mudar".



Além da incerteza, há uma peculiaridade técnica por trás da intensificação das captações. Os dados contábeis precisam estar atualizados e, até meados de fevereiro, será possível usar os balanços do terceiro trimestre. Depois, esse mercado dá uma esfriada e retorna por volta de março/abril, período em que o mercado já estará suscetível às eleições. Mesmo assim, a expectativa é que o desempenho no ano fique próximo aos US$ 31,175 bilhões de 2017. MAIS RECURSOS E TROCA DE DÍVIDA CARA Prova do apetite por ativos de maior risco é que até empresas brasileiras que nunca emitiram estão captando. Caso de Natura, Rede D'Or e Hidrovias do Brasil, que se somaram a emissores tradicionais como Petrobras e Vale. A Natura captou US$ 1,15 bilhão por um prazo de cinco anos. A meta era de US$ 750 milhões, mas a demanda atingiu US$ 3 bilhões, por isso o valor foi elevado. A taxa de retorno ao investidor ficou em 5,37% ao ano. Os recursos, serão utilizados para o pagamento da aquisição da Body Shop.



Já a Hidrovias do Brasil, que atua na área de logística, com presença na América Latina, emitiu no valor de US$ 600 milhões, com vencimento em sete anos e taxa de 5,95%. A demanda surpreendeu: sete vezes a inicial.



A maior parte das empresas busca recursos externos para melhorar o perfil de dívida, dizem os analistas. Com juros mais baixos aqui e lá fora, as taxas da emissões têm ficado, na média, abaixo dos anos anteriores. Por isso, as companhias recompram os bônus antigos e os substituem por papéis de prazo mais longo e juros mais baixos.



Foi o que fez a JBS, por meio de sua subsidiária JBS USA, que captou US$ 900 milhões na semana passada, com taxa de 6,75% e vencimento em 2028. Além de necessidades de caixa, o dinheiro foi usado no resgate integral de notas que venciam em 2020, com juros de 8,25%.



O estrategista-chefe do banco Mizuho no Brasil, Luciano Rostagno, cita ainda o fato de o risco-país do Brasil continuar baixo. O credit default swap (CDS, espécie de seguro contra calote) está hoje em torno de 157 pontos centesimais. Logo após o rebaixamento pela S&P, foi a 250 pontos.



Até o Tesouro Nacional aproveitou o clima - e uma semana depois do rebaixamento. A CSN deve definir hoje se prossegue com sua captação, que, segundo fontes, deve movimentar US$ 1 bilhão. O mercado especula ainda que Braskem e Caixa Econômica Federal podem engrossar o movimento.





Em dia de alívio, Bolsa de SP sobe 2,48%, e NY ganha 2,33%



BC faz leilão, e dólar recua a R$ 2,347. Fim do dinheiro fácil preocupa analistas



Analistas citam, como causas do tombo, de dados macroeconômicos à automatização do mercado financeiro



-RIO E BRASÍLIA- Depois do susto na véspera, quando os mercados americanos arrastaram os demais índices globais, a Bolsa brasileira ontem encerrou com valorização de 2,48%, aos 83.894 pontos - na máxima, voltou ao patamar dos 84 mil pontos, com alta de 2,77%. O movimento também refletiu a recuperação do mercado americano: em Nova York, o índice Dow Jones avançou 2,33%, enquanto Nasdaq e S&P subiram, respectivamente, 2,13% e 1,74%. O tombo de segundafeira, quando o Dow chegou a desabar 6%, para fechar em queda de 4,6%, continuou intrigando os analistas, que viam desde fatores macroeconômicos a uma possível confusão tecnológica.



SPENCER PLATT/GETTY IMAGES/AFPBolsa de NY. Operadores: depois do susto da véspera, índices voltam a subir



Analistas temem que esteja chegando ao fim a era do dinheiro fácil, a juros extremamente baixos, nos países ricos. A avaliação é que a melhora do mercado de trabalho nos Estados Unidos pode levar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a elevar os juros mais rapidamente do que o esperado. Juros maiores têm o efeito de reduzir movimentos especulativos, diminuindo o apetite por risco. MEIRELLES: NÃO PRECISA INTERVIR O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que o governo não vê necessidade de intervir nos mercados e avaliou que não haverá impactos relevantes para a economia brasileira. Segundo ele, os possíveis efeitos dependerão da evolução do mercado americano e da taxa de juros internacional.



- É uma volatilidade normal dos mercados americanos - disse o ministro, ressaltando que os mercados de juros e câmbio funcionavam normalmente. - (A Bolsa de Valores) subiu bastante e está fazendo um processo de ajustes. É um fato estatístico.



Segundo Meirelles, mais cedo ou mais tarde o mercado americano passaria por uma correção, mas "acertar a hora dessa correção é difícil". Ele se reuniu com o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, o que criou a expectativa de que haveria um comunicado conjunto. Mas, à tarde, a Fazenda negou que tivesse sido uma reunião de emergência.



Ainda assim, o Banco Central - que anuncia hoje a nova taxa básica de juros - anunciou, pela manhã, a rolagem integral de 9.500 contratos de swap cambial (venda de dólares no mercado futuro) que estão para vencer, no total de US$ 475 milhões. O dólar comercial, que antes da operação do BC chegou a encostar em R$ 3,28, encerrou em queda de 0,03%, a R$ 3,247.



Na abertura, a B3 (antiga Bovespa) chegou a cair mais de 1%, refletindo a queda nos mercados asiático e europeu. Tóquio desabou 4,7%, e Hong Kong perdeu mais de 5%. Londres e Frankfurt caíram 2,6% e 2,3%.



No Brasil, analistas afirmaram que algum tipo de correção no mercado já era esperada. Raphael Figueredo, analista da Eleven Financial Research, observou que a Bolsa brasileira ainda conta com o estímulo da alta das commodities e da recuperação da economia.



Para Ari Santos, gerente de mesa Bovespa da corretora H. Commcor, o mercado ainda vai manter o alto nível de volatilidade por um tempo:



- O mercado não pode operar apenas no positivo, não funciona assim. Osolavanco que causou a maior queda em pontos já sofrida pela Bolsa de Nova York, na segunda-feira, fez com que os investidores globais reavaliassem um otimismo que todos sabiam ser exagerado, mas não cessavam de alimentar. A despeito de uma sincronia inédita no crescimento das grandes economias em cenário de juros ainda baixos e da reforma tributária de Donald Trump, celebrada pelos investidores, escapava aos operadores uma razão fundamentada para a alta de quase 6% (até quinta-feira passada) no ano e a sucessão de recordes. No caso da Bolsa brasileira, porém - que também operava em suas máximas históricas -, alguns fatores sugerem que o choque deve provocar abalo mais suave.



Um deles diz respeito ao próprio patamar do Ibovespa. Nas últimas semanas, o principal índice da Bolsa brasileira chegou ao seu maior nível, acima dos 85 mil pontos. Isso é mais de 15% acima do recorde anterior, alcançado em 2008. Mas, do ponto de vista do investidor internacional, a Bolsa está muito distante do seu teto. Analisado em dólares, o patamar recorde registrado este ano estava cerca de 40% abaixo do que há uma década. Isso porque o dólar disparou nesse intervalo especialmente atribulado para o Brasil.



De sua gestora no Leblon, o americano James Gulbrandsen, da NCH Capital, avalia que uma correção de 15%, 20% nos índices de Wall Street seria justa; no Brasil, uma queda dessa magnitude teria outro nome: oportunidade.



- Enquanto as ações dos EUA estavam muito caras e, agora, parecem estar se normalizando, as do Brasil continuam operando a preço abaixo do valor justo e aquém do potencial de rentabilidade das empresas diante da recuperação econômica - diz Gulbrandsen. - É claro que a volatilidade do mercado externo, se ela for mais intensa, afetará o Brasil. Mas, se o Ibovespa cair muito, será um presente de Natal antecipado para quem quer se posicionar no país.



Na opinião de Gulbrandsen, isso é uma espécie de buffer zone (zona de amortecimento). Talvez ela explique a razão para, na segunda-feira, a queda do Ibovespa ter sido bem menos intensa do que a de seus pares em Nova York - algo pouco comum, uma vez que o mercado brasileiro é dado a movimentos mais largos.



Outra razão que pode mitigar os impactos no mercado local é o comportamento do câmbio, que costuma ser um canal importante de contaminação em mercados emergentes. Embora o dólar à vista tenha subido mais de 2,5% entre sexta e segunda-feira, a volatilidade do mercado de moedas é menor do que a de ações.



A chamada volatilidade implícita do contrato de um mês de dólar no Brasil esteve ontem em patamar semelhante ao do dia anterior ao julgamento do ex-presidente Lula, observa Italo Lombardi, estrategista para América Latina do Credit Agricole CIB.



- A volatilidade cambial de ontem (segunda-feira) foi bem abaixo, por exemplo, daquela experimentada na ocasião do vazamento da delação premiada da JBS. Portanto, o patamar é bastante normal, nada preocupante - sublinha Lombardi. - No mercado acionário americano, por sua vez, o índice de volatilidade está em nível tão alto que supera o da crise de 2008.



Mesmo assim, o que aconteceu na segunda-feira exige cautela. Até porque, como afirma Lombardi, as causas reais para a queda súbita ainda não estão claras, assim como não estavam as razões para a alta incessante das últimas semanas. Além das tradicionais hipóteses macroeconômicas - perspectiva de maior inflação e, consequentemente, aperto mais intenso nos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) -, há a suspeita de que novas formas de se operar no mercado tenham tido responsabilidade importante.



Entre elas está o fenômeno dos robôs-investidores e suas negociações em alta frequência (milhares de movimentações por segundo), que vêm sendo frequentemente acusados de movimentos bruscos. Ontem, muitos dedos acusatórios se voltaram para o mercado de derivativos, como ligado à volatilidade das Bolsas. VOLATILIDADE GRANDE Estima-se que esse mercado tenha atraído mais de US$ 3 trilhões nos últimos anos. Seus investidores apostam na continuidade ou diminuição da volatilidade, embalados por incentivos monetários que trouxeram as oscilações para níveis baixíssimos no passado recente. Quando a volatilidade disparou na segunda-feira, esses aplicadores correram para cobrir suas posições.



- A incerteza e a volatilidade são grandes, e isso gera uma redução de apetite global para risco, pelo menos em um movimento inicial. É preciso esperar a poeira baixar, entender melhor o que aconteceu e ver quais efeitos isso teve, de fato, no mercado. A princípio, trata-se de uma correção supernatural, mas as consequências ainda não estão na mesa - pondera Gustavo Rangel, economista-chefe para América Latina do ING Financial Markets em Nova York.



Choque menor no Brasil



Especialistas apontam que Bolsa local ainda está longe de seu pico em dólar



Analistas citam, como causas do tombo, de dados macroeconômicos à automatização do mercado financeiro



-RIO E BRASÍLIA- Depois do susto na véspera, quando os mercados americanos arrastaram os demais índices globais, a Bolsa brasileira ontem encerrou com valorização de 2,48%, aos 83.894 pontos - na máxima, voltou ao patamar dos 84 mil pontos, com alta de 2,77%. O movimento também refletiu a recuperação do mercado americano: em Nova York, o índice Dow Jones avançou 2,33%, enquanto Nasdaq e S&P subiram, respectivamente, 2,13% e 1,74%. O tombo de segundafeira, quando o Dow chegou a desabar 6%, para fechar em queda de 4,6%, continuou intrigando os analistas, que viam desde fatores macroeconômicos a uma possível confusão tecnológica.



SPENCER PLATT/GETTY IMAGES/AFPBolsa de NY. Operadores: depois do susto da véspera, índices voltam a subir



Analistas temem que esteja chegando ao fim a era do dinheiro fácil, a juros extremamente baixos, nos países ricos. A avaliação é que a melhora do mercado de trabalho nos Estados Unidos pode levar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a elevar os juros mais rapidamente do que o esperado. Juros maiores têm o efeito de reduzir movimentos especulativos, diminuindo o apetite por risco. MEIRELLES: NÃO PRECISA INTERVIR O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que o governo não vê necessidade de intervir nos mercados e avaliou que não haverá impactos relevantes para a economia brasileira. Segundo ele, os possíveis efeitos dependerão da evolução do mercado americano e da taxa de juros internacional.



- É uma volatilidade normal dos mercados americanos - disse o ministro, ressaltando que os mercados de juros e câmbio funcionavam normalmente. - (A Bolsa de Valores) subiu bastante e está fazendo um processo de ajustes. É um fato estatístico.



Segundo Meirelles, mais cedo ou mais tarde o mercado americano passaria por uma correção, mas "acertar a hora dessa correção é difícil". Ele se reuniu com o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, o que criou a expectativa de que haveria um comunicado conjunto. Mas, à tarde, a Fazenda negou que tivesse sido uma reunião de emergência.



Ainda assim, o Banco Central - que anuncia hoje a nova taxa básica de juros - anunciou, pela manhã, a rolagem integral de 9.500 contratos de swap cambial (venda de dólares no mercado futuro) que estão para vencer, no total de US$ 475 milhões. O dólar comercial, que antes da operação do BC chegou a encostar em R$ 3,28, encerrou em queda de 0,03%, a R$ 3,247.



Na abertura, a B3 (antiga Bovespa) chegou a cair mais de 1%, refletindo a queda nos mercados asiático e europeu. Tóquio desabou 4,7%, e Hong Kong perdeu mais de 5%. Londres e Frankfurt caíram 2,6% e 2,3%.



No Brasil, analistas afirmaram que algum tipo de correção no mercado já era esperada. Raphael Figueredo, analista da Eleven Financial Research, observou que a Bolsa brasileira ainda conta com o estímulo da alta das commodities e da recuperação da economia.



Para Ari Santos, gerente de mesa Bovespa da corretora H. Commcor, o mercado ainda vai manter o alto nível de volatilidade por um tempo:



- O mercado não pode operar apenas no positivo, não funciona assim. Osolavanco que causou a maior queda em pontos já sofrida pela Bolsa de Nova York, na segunda-feira, fez com que os investidores globais reavaliassem um otimismo que todos sabiam ser exagerado, mas não cessavam de alimentar. A despeito de uma sincronia inédita no crescimento das grandes economias em cenário de juros ainda baixos e da reforma tributária de Donald Trump, celebrada pelos investidores, escapava aos operadores uma razão fundamentada para a alta de quase 6% (até quinta-feira passada) no ano e a sucessão de recordes. No caso da Bolsa brasileira, porém - que também operava em suas máximas históricas -, alguns fatores sugerem que o choque deve provocar abalo mais suave.



Um deles diz respeito ao próprio patamar do Ibovespa. Nas últimas semanas, o principal índice da Bolsa brasileira chegou ao seu maior nível, acima dos 85 mil pontos. Isso é mais de 15% acima do recorde anterior, alcançado em 2008. Mas, do ponto de vista do investidor internacional, a Bolsa está muito distante do seu teto. Analisado em dólares, o patamar recorde registrado este ano estava cerca de 40% abaixo do que há uma década. Isso porque o dólar disparou nesse intervalo especialmente atribulado para o Brasil.



De sua gestora no Leblon, o americano James Gulbrandsen, da NCH Capital, avalia que uma correção de 15%, 20% nos índices de Wall Street seria justa; no Brasil, uma queda dessa magnitude teria outro nome: oportunidade.



- Enquanto as ações dos EUA estavam muito caras e, agora, parecem estar se normalizando, as do Brasil continuam operando a preço abaixo do valor justo e aquém do potencial de rentabilidade das empresas diante da recuperação econômica - diz Gulbrandsen. - É claro que a volatilidade do mercado externo, se ela for mais intensa, afetará o Brasil. Mas, se o Ibovespa cair muito, será um presente de Natal antecipado para quem quer se posicionar no país.



Na opinião de Gulbrandsen, isso é uma espécie de buffer zone (zona de amortecimento). Talvez ela explique a razão para, na segunda-feira, a queda do Ibovespa ter sido bem menos intensa do que a de seus pares em Nova York - algo pouco comum, uma vez que o mercado brasileiro é dado a movimentos mais largos.



Outra razão que pode mitigar os impactos no mercado local é o comportamento do câmbio, que costuma ser um canal importante de contaminação em mercados emergentes. Embora o dólar à vista tenha subido mais de 2,5% entre sexta e segunda-feira, a volatilidade do mercado de moedas é menor do que a de ações.



A chamada volatilidade implícita do contrato de um mês de dólar no Brasil esteve ontem em patamar semelhante ao do dia anterior ao julgamento do ex-presidente Lula, observa Italo Lombardi, estrategista para América Latina do Credit Agricole CIB.



- A volatilidade cambial de ontem (segunda-feira) foi bem abaixo, por exemplo, daquela experimentada na ocasião do vazamento da delação premiada da JBS. Portanto, o patamar é bastante normal, nada preocupante - sublinha Lombardi. - No mercado acionário americano, por sua vez, o índice de volatilidade está em nível tão alto que supera o da crise de 2008.



Mesmo assim, o que aconteceu na segunda-feira exige cautela. Até porque, como afirma Lombardi, as causas reais para a queda súbita ainda não estão claras, assim como não estavam as razões para a alta incessante das últimas semanas. Além das tradicionais hipóteses macroeconômicas - perspectiva de maior inflação e, consequentemente, aperto mais intenso nos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) -, há a suspeita de que novas formas de se operar no mercado tenham tido responsabilidade importante.



Entre elas está o fenômeno dos robôs-investidores e suas negociações em alta frequência (milhares de movimentações por segundo), que vêm sendo frequentemente acusados de movimentos bruscos. Ontem, muitos dedos acusatórios se voltaram para o mercado de derivativos, como ligado à volatilidade das Bolsas. VOLATILIDADE GRANDE Estima-se que esse mercado tenha atraído mais de US$ 3 trilhões nos últimos anos. Seus investidores apostam na continuidade ou diminuição da volatilidade, embalados por incentivos monetários que trouxeram as oscilações para níveis baixíssimos no passado recente. Quando a volatilidade disparou na segunda-feira, esses aplicadores correram para cobrir suas posições.



- A incerteza e a volatilidade são grandes, e isso gera uma redução de apetite global para risco, pelo menos em um movimento inicial. É preciso esperar a poeira baixar, entender melhor o que aconteceu e ver quais efeitos isso teve, de fato, no mercado. A princípio, trata-se de uma correção supernatural, mas as consequências ainda não estão na mesa - pondera Gustavo Rangel, economista-chefe para América Latina do ING Financial Markets em Nova York.




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