Com cerca de 300 fábricas de lingerie, a cidade do Sudoeste de Minas Gerais é referência no segmento - e não para de crescer
Izabella Figueiredo
Publicação:14/06/2015 04:00
Rosana Marques é um dos nomes mais expressivos em Juruaia, a capital nacional das lingeries
A história da mineira Juruaia como uma das maiores produtoras de lingerie do Brasil começou em 1991, quando o café, principal fonte de renda da cidade, estava em crise e o então prefeito Rubens Lacerda anunciou para todo o Brasil que a cidade ofereceria incentivo monetário para atrair empresas. Não funcionou. Mesmo com a ajuda do governo, apenas um empresário de Goiânia que fabricava calcinhas foi morar em Juruaia e mesmo assim sua fábrica local durou pouco. Apesar do primeiro fracasso, o negócio do goianense serviu de exemplo para outros moradores, que aos poucos foram abrindo suas confecções. Hoje, com cerca de 10000 habitantes, Juruaia conta com mais de 200 confecções formais de lingerie e corresponde a cerca de 15% da produção nacional de calcinhas e sutiãs. Da economia juruaiense hoje, 60% gira em torno de roupas íntimas, e empregando não somente locais, mas também moradores do entorno, como Guaxupé, Muzambinho, Nova Rezende, São Pedro da União e Guaranésia. "Juruaia respira lingerie. Totalizamos em média, a produção de 15 mil peças por mês provenientes das fábricas formais, além das empresas não registradas legalmente", contabiliza Tânia Mara Rezende, presidente da Associação Comercial de Juruaia e proprietária da Íntima Passion, confecção que abastece todo o Brasil e também EUA, Alemanha, Angola e Bolívia.
O protagonismo feminino é ponto forte na cidade, já que a maioria das fábricas são presididas por mulheres nacionalmente conhecidas. Entre as centenas de juruaienses empreendedoras, uma é unanimidade quando o assunto é sucesso e pulso forte. Rosana Marques abandonou a carreira de professora para abrir uma loja de roupas e posteriormente, em 1994, a convite do irmão, começou a produzir lingeries para combinar com as peças que comercializava. "Era interessante ter opções de calcinhas e sutiãs na loja porque às vezes elas ajudavam a compor as produções, por exemplo, uma alça à mostra", conta Rosana. Em pouco tempo, o "plano B" da empresária se tornou prioridade e a Ouseuse firmou-se como uma das maiores fábricas de Juruaia. "Dizem que o Brasil estava em crise quando comecei, mas nunca ouvi falar de crise, para ser sincera. A cada ano crescíamos mais e continua sendo assim", afirma.
A fábrica de Rosana parece mesmo desconhecer a crise. De acordo com a orgulhosa proprietária, a fábrica produz cerca de 600 mil peças de lingerie ao ano, sendo responsável por cerca de 3% da produção total de cidade. Quando o assunto é lucro, entretanto, Rosana prefere manter segredo. "Sobre o faturamento, posso dizer que somos enquadrados na categoria de microempresa, ou seja, R$ 3,6 milhões ao ano", despista.
EMBAIXADORA Não é difícil encontrar juruaienses que admiram e se espelham no sucesso de Rosana, já que a empresária viaja semanalmente para contar sua história Brasil afora, ajudando a propagar o nome da cidade aos quatro cantos do país. "Já estive em várias capitais, de Foz do Iguaçu a Porto de Galinhas, contando para mulheres como cheguei até aqui. Para mim isso ainda é um pouco estranho, porque não acho minha história tão inspiradora assim, mas quando percebi que contá-la estava fazendo bem às pessoas e à Ouseuse, resolvi driblar a vergonha de falar em público e aceitar palestrar", diz.
Para Rosana, entretanto, seu exemplo não se trata de messianismo e cumpre principalmente a finalidade de levar o nome de Juruaia para o mundo, já que é de seu interesse que a cidade se fortaleça cada vez mais como polo comercial. "Sou bastante bairrista e tenho orgulho do que Juruaia se transformou. Fico emocionada quando vêm excursões para cá conhecerem a cidade", afirma a empresária que, apesar dos negócios por todo o Brasil não quer firmar moradia em nenhuma outra cidade.
Em suas palestras, um dos assuntos que a empresária costuma abordar é que, indo na contramão da maioria dos segmentos do país, seu trabalho desconhece períodos de crise desde que foi fundado. "Parece estranho, mas a crise nos beneficia", vangloria-se. Como em suas palestras, Rosana atenta para a importância do trabalho duro a todo momento para atingir o privilégio de se passar inerte por períodos de escassez. "Temos conseguido crescer, mas para isso é necessário produzir, fazer boas compras, pesquisas, treinar os funcionários e tudo isso custa dinheiro", pondera.
Quando não está regendo suas empresas, Rosana faz questão de participar ativamente de sindicatos e promover encontros entre as mulheres empreendedoras da cidade. Visando articular a troca de experiências entre as empresárias locais e destacar as conquistas na sociedade, criou em 2012 a Câmara da Mulher Empreendedora. "Às vezes, ficamos tão atarefadas que esquecemos o quanto é importante nos encontrar para conversar e nos unirmos, até mesmo em busca de parcerias", comenta a empresária, que tem em seus planos colocar Juruiaia cada vez mais em destaque nas rotas comerciais mundiais.
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