EDITORIAL »
Estimativas de inflação e crescimento são cada vez piores
Publicação:21/04/2015 04:00
É louvável, e espera-se que tenha sido bem-sucedido, o esforço do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que, na semana passada, em Washington, usou todo o reconhecimento que sua carreira conseguiu amealhar para "vender" um Brasil mais atraente aos investidores internacionais. Ele se desdobrou em palestras, debates e reuniões ao longo da Reunião de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) para mostrar que a situação em nosso país é administrável e que continuamos a ter futuro.
Levy sabe que somente terá razão se tiver apoio político para levar adiante o ajuste fiscal, se conseguir sepultar práticas obscuras na gestão das contas públicas e romper com anacrônicas travas ideológicas no campo das concessões à iniciativa privada e no das relações internacionais.
Ele também parece saber que isso não será fácil, pois os iludidos com o paraíso prometido na campanha eleitoral vão demorar a entender que as coisas não são como eles gostariam. O ministro falou de futuro. Foi bem. Mas o problema é o presente. É agora que teremos de enfrentar as consequências do voluntarismo e da irresponsabilidade com que a política econômica foi conduzida nos últimos anos, especialmente no primeiro mandato de Dilma Rousseff. Ela caiu na armadilha de um tal "nova matriz econômica", nome acadêmico para o equivocado abandono dos paradigmas que, a duras penas (inclusive políticas), tinham tirado o país do pesadelo da hiperinflação e tornaram ilegal o governo gastar além da arrecadação.
Vigorou a farra do estímulo ao consumo, sem se preocupar com a produção, que perdia competitividade e ficava de fora da corrida mundial pela inovação. A lógica é a mesma do gasto público liberado para comprar a felicidade, sem levar em conta que o crescimento das receitas dependia de igual expansão da atividade produtiva privada. É primário, mas fugir a isso é caminhar para o abismo. Não adianta esconder o malfeito. A conta aparece e tem de ser paga, sem milagre.
E a conta tem aparecido, cada vez mais alta, no bolso e na vida do cidadão. Ontem, o Banco Central divulgou o boletim semanal da Pesquisa de Mercado Focus, que resume a média das previsões de cerca de 100 analistas e agentes econômicos sobre a economia brasileira.
Os números do desarranjo são assustadores. Na média das previsões, a inflação de 2015 passou de 8,13% para 8,23%, em relação ao boletim da semana passada. Em consequência, o Banco Central poderá subir ainda neste mês os juros básicos (taxa Selic) dos atuais 12,75% ao ano para 13,25% (há um mês, a previsão era de 13% para todo o ano). Ou seja, o paradigma da meta de 4,5% virou saudade e boa parte disso se deve aos preços administrados pelo governo.
Não são menos sombrias as previsões para o nível da atividade econômica. O boletim Focus de ontem informa que a média das previsões é de que no primeiro trimestre houve uma queda de 3,5% no Produto Interno Bruto (PIB). Isso reforça a previsão de que o país vive uma recessão, que pode durar até o fim do ano, comprometendo o nível do emprego.
A verdade é dura, mas precisa ser dita para ser enfrentada por todos. Se o primeiro mandato de Dilma Rousseff ensinou algo, foi que a mentira custa caro e a melhor maneira de agravar um problema é fazer de conta que ele não existe.
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