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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 07-09-2018 - 12:14 -   Notícia original Link para notícia
A cada 15 dias

Preço da gasolina deixa de variar diariamente


A Petrobras alterou a periodicidade do reajuste de preços da gasolina em suas refinarias. A estatal anunciou ontem que as variações poderão acontecer em intervalos de até 15 dias, e não mais diariamente, como foi estabelecido em junho do ano passado. Para que a mudança, que teria ocorrido por pressões políticas, não cause perdas financeiras, a estatal vai adotar um mecanismo de proteção conhecido como hedge. A menor frequência dos reajustes deve aliviar, em parte, o bolso do consumidor. Analistas de mercado, porém, não têm consenso sobre se a medida é ou não positiva para a companhia.


Apesar da mudança, o diretor financeiro da Petrobras, Rafael Grisolia, afirmou que a companhia não alterou sua política de preços para a gasolina, que continuará acompanhando a evolução dos preços internacionais do petróleoe avariação do câmbio. Segundo ele, o mecanismo de hedge, que será usado por até 15 dias, vai permitir que a empresa obtenha um resultado financeiro equivalente ao que alcançaria com os reajustes diários. Ele garantiu que o valor do repasse será o equivalente à variação acumulada nos 15 dias em que não houve reajuste.


METODOLOGIA CRITICADA


Não é a primeira vez que a Petrobras sofre pressões para mexer na sua política de preços. Desde julho do ano passado os reajustes eram diários, em vez de mensais. Em janeiro deste ano, em meio a uma forte pressão política e da sociedade, a estatal passou a reajustar os preços do GLP, o gás de botijão, a cada três meses. Antes, com aumentos que acompanhavam o mercado, muitos consumidores, por não poder pagar o botijão, começaram a usar lenha e álcool, causando acidentes.


Depois, no fim de maio, veio a greve dos caminhoneiros, que reclamavam da falta de previsibilidade no preço do diesel. A paralisação, que durou dez dias e causou transtornos à economia do país, levou o governo a conceder subsídios ao produto até o fim deste ano.


Segundo Grisolia, o objetivo da medida é dar mais flexibilidade à gestão da política de preços da gasolina, sem prejudicar a saúde financeira da Petrobras. No acumulado do ano, até ontem, o reajuste efetuado pela estatal nas refinarias (sem impostos) era de 32%, segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Pelos dados do IBGE, a gasolina acumula alta na bomba alta de 9,43% no ano, enquanto a inflação medida pelo IPCA está em 2,85% para o mesmo período.


- Achamos importante trazer alguns mecanismos financeiros para que possamos ter opção em momentos de volatilidade do câmbio e do preço da gasolina no mercado internacional. São instrumentos que dariam proteção de até 15 dias, no máximo, período em que a Petrobras manteria os preços nas refinarias estáveis. Ao fim de cada período desses, viria um reajuste -disse Grisolia.


O diretor de Refino e Gás, Jorge Celestino, admitiu que a mudança na periodicidade dos reajustes atende a"algumas reivindicações que vinham sendo feitas pelos agentes de mercado ", que cobravam da Petrobras a adoção de mecanismos e ferramentas para mitigara volatilidade dos preços dos combustíveis. Celestino negou que a medida tenha qualquer relação coma proximidade das eleições e com os rumores de que os caminhoneiros estariam ameaçando nova greve.


-A Petrobras vem evoluindo em sua política de preços desde 2016. Vínhamos estudando que ferramentas poderíamos implementar para tornara Petrobras mais competitiva e rentável. Obviamente atendemos também aos sinais que o mercado e outros agentes têm encaminhado à Petrobras, de que a companhia precisava implementar mecanismos e ferramentas que mitigassem essa volatilidade -disse Celestino.


SEM EFEITOS NO CAIXA


O anúncio da Petrobras foi recebido com cautela por analistas. Relatório do banco BTG afirma que "o fato de a Petrobras não divulgar quando vai ou não usar o hedge pode reduzira previsibilidade de preço acurto prazo ". Comisso, segundo o banco, a medida pode ser negativa para os distribuidores, "que dependem da transparência (da Petrobras) para arbitrar preços".


Pedro Galdi, analista da Mirae Asset, considera a medida positiva, com pouco impacto no caixa da estatal. Ele disse que isso dará à Petrobras mais um instrumento para evitar perdas, inclusive para a sociedade, como ocorreu coma greve dos caminhoneiros.


A XP, por sua vez, aponta em relatório a clientes que a medida "deve ser lida como negativa, pois pode ser interpretada como um retrocesso na política de preços, dado que a empresa ficaria mais exposta a potenciais perdas em momentos de volatilidade". Já o diretor de Consultoria de Dowstream da IHS, Felipe Perez, considera a decisão positiva para a Petrobras. Mas ressaltou que os compradores de combustível ficam mais vulneráveis, pelo fato de a estatal sera única vendedora no país.


Para David Zylbersztajn, exdiretor da ANP, a Petrobras poderia ter optado por um prazo maior, de 30 dias. Mas vê o uso do hedge como positivo para a estatal, porque evita perdas financeiras. Para o consumidor, diz, também é bom, pois permite maior previsibilidade de preços:


-Com um calendário de 15 dias, a Petrobras não corre risco de perder espaço no mercado com importações, já que é um período curto para haja avanço nesse ti pode operação.


Estatal vai atuar no mercado de derivativos


> Um mecanismo conhecido como hedge (ou proteção, em inglês) no mercado de derivativos de petróleo vai permitir que a Petrobras não precise alterar seus preços com tanta frequência. Os derivativos são contratos que negociam o preço futuro de um ativo.


> A Petrobras vai comprar contratos negociados na Bolsa de Chicago, o maior mercado global de commodities. Esses títulos serão equivalentes ao valor da venda de gasolina pelo período em que o combustível ficar sem reajuste, dentro do prazo máximo de 15 dias. Segundo a XP, os custos da transação para comprar os títulos são pequenos e não afetam a paridade, a médio prazo, com o preço da gasolina no mercado internacional.


POLÍTICA DE PREÇOS


1 1º de junho de 2016


Pedro Parente assume a presidência da Petrobras. Ele afirma que não haveria mais interferência do governo na política de reajustes dos combustíveis da empresa


2 Outubro de 2016


A Petrobras anuncia que os reajustes nos preços de gasolina e diesel acompanhariam o câmbio e o preço internacional do petróleo. Mas não fixa uma periodicidade


3 30 de junho de 2017


A Petrobras anuncia que passaria a promover variações diárias, para cima ou para baixo, nos preços do diesel e gasolina, conforme o mercado externo


4 Janeiro de 2018


O GLP, gás de botijão, passa a ter reajustes trimestrais. A metodologia anterior, que seguia o mercado, provocou muitas queixas de consumidores


5 1º de junho de 2018


A greve dos caminhoneiros, que paralisou o país por dez dias, leva à saída de Parente da presidência da estatal. O governo anuncia subsídios ao diesel


6 6 de setembro de 2018


A Petrobras anuncia a adoção de um mecanismo de hedge para deixar de repassar diariamente à gasolina a variação do câmbio e do petróleo



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