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Super Notícia ( Notícias ) - MG - Brasil - 17-12-2018 - 03:00 -   Notícia original Link para notícia
Empréstimos param na Justiça

Procon recebe sete reclamações por dia de idosos que se sentem lesados pelo sistema financeiro
As ofertas de crédito chegam por telefone e pelas calçadas, além das tradicionais abordagens dentro das instituições financeiras. Um assédio que, quando recebido por idosos - muitos deles doentes e passando por dificuldades financeiras -, gera negócio. Não necessariamente vantajoso para as duas partes. Para pelo menos 4.331 pessoas, sendo 2.598 delas com mais de 65 anos, o empréstimo foi motivo de queixa no Procon de Belo Horizonte neste ano até o dia 10 de dezembro. São sete reclamações de idosos por dia no órgão. Alguns casos foram parar na Justiça.

Segundo a diretora do Procon BH, Mônica Coelho, as queixas mais comuns são de taxas abusivas, falta de informações sobre o acordo, insistência para contratação do crédito e utilização de "manobras" para comprometer um percentual da renda superior aos 30% previstos em lei para o crédito consignado. "Os bancos e as financeiras têm ofertado para pessoas totalmente desesperadas e endividadas outros tipos de empréstimo, que não entram nessa margem do consignado. No fim, a pessoa fica com a renda quase toda comprometida", explica.

Essa última situação começou a ocorrer com tanta frequência que o Instituto de Defesa Coletiva entrou com uma ação judicial neste ano, em parceria com o Procon-BH e a Defensoria Pública de Minas Gerais, representando mil pessoas, a maior parte delas de idosos. Eles conseguiram comprovar que estavam sendo empregadas práticas abusivas.

O casal Marlene da Silva Solano, 65, e Vicente de Paula Solano, 71, foram beneficiados com a ação. Com vários empréstimos realizados e sem dinheiro para pagar o básico, eles foram induzidos por uma financeira a tomar um crédito sem conhecer as condições. "Foi tanta falação e tanto papel com letrinha pequena que, quando a gente viu, já estava assinando tudo e dando todos os nossos dados", conta Marlene. No final, cada um deles levou R$ 2.000 para casa e adquiriu uma dívida de R$ 13 mil. Com os descontos de todos os empréstimos, Marlene passou a não receber nenhum centavo da aposentadoria por um ano.

Já Vicente passou a receber R$ 360, dinheiro que usava para arcar com todas as despesas da casa. "Com essa ação judicial, ficou comprovado que eu já tinha pagado o empréstimo, então pararam de descontar no meu salário em agosto. É o que nos salvou", conta ele.

A presidente do Instituto de Defesa Coletiva, Lilian Salgado, explica que não é coincidência os idosos serem as principais vítimas. "Eles normalmente são mais carentes, não enxergam tão bem e não têm familiaridade com a era digital", afirma. A instituição começou uma campanha de uso consciente do crédito com foco na terceira idade. Uma das ações foi o lançamento do filme "Covardia Capital", veiculado gratuitamente no YouTube. Procurada, a Associação Brasileira dos Bancos não se pronunciou.

Inadimplência cresce 11,8% entre os idosos

As vantagens e as facilidades de tomada do crédito consignado deixam praticamente imperceptível uma grave consequência do uso desmedido da modalidade: o risco de superendividamento (quando a pessoa fica incapacitada de arcar com os compromissos financeiros). Entre os idosos, a dificuldade de trabalhar para aumentar a renda torna a dívida um verdadeiro buraco sem fundo. A inadimplência entre aqueles com idades entre 65 e 84 anos subiu 11,8% em novembro no país, segundo dados do Serasa.

"Os idosos estão mais inadimplentes porque, na aposentadoria, já passam por uma redução da renda. Mas o custo de vida aumenta, com maiores gastos com saúde, por exemplo. E, para piorar, tem a questão de muitos ajudarem filhos desempregados", afirma a economista da de Belo Horizonte (-BH), Ana Paula Bastos.

Minientrevista

Alexandre Miserani

Analista econômico e professor da faculdade Arnaldo

Desde quando a inadimplência dos idosos vem crescendo?

Com o acirramento da crise a partir de 2014, acentuou-se a participação do idoso no orçamento familiar como a única fonte de receita. Passamos por um aumento na responsabilidade do idoso nos gastos da família. Também o crescimento do número de participantes da "geração nem-nem", que nem trabalham, nem estudam, fez aumentar o número de idosos que se tornaram arrimo de família.

É essa também a justificativa para o aumento na busca por crédito consignado?

Sim, para complementar a renda, eles acabam pegando empréstimo. E por terem acesso a crédito mais barato e fácil, os idosos são pressionados por membros da família para que eles tomem o empréstimo. E, para piorar, com a internet, os dados deles caem nas mãos de financeiras sem escrúpulos, que ficam tentando todo tipo de abordagem para empurrar o empréstimo.

E as perspectivas são de piora desse endividamento?

Sim. A tendência é as pessoas viverem mais e demorarem mais para se aposentarem. Então, é natural que tenhamos mais idosos endividados no médio prazo.


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