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Estado de Minas Online ( Cultura ) - MG - Brasil - 25-02-2017 - 09:41 -   Notícia original Link para notícia
Anna Marina - Saudade do lança-perfume

Ninguém acreditaria, mas o carnaval de Belô conseguiu ganhar alento com a nova geração ocupando as ruas com blocos animados. Quando entrei para este jornal, no século passado, a festa de Momo se reduzia aos "gatinhos" na Avenida Afonso Pena (com foliãs de rosto coberto), os corsos motorizados com os foliões fantasiados equilibrando-se nos carros, os bailes no Automóvel Clube (sábado, principalmente), no Iate (o do Marinheiro), Minas e, para os estudantes, no DCE e clubes de bairros.

A animação era grande, as tardes na Confeitaria Elite, que ficava na Rua da Bahia, reuniam não só a sociedade, para combinar os encontros da noite, como também os grandes grupos que vinham do Rio. Muitos namoros e casamentos começaram ali. E as fantasias, obrigatórias, eram colocadas à noite, Pierrô e Colombina as principais. Mas havia também palhaços, bailarinas e ciganas - para as mulheres. Aos homens, bastava trajes esportivos ou de marinheiro para o baile do Iate, que era o mais - digamos - informal, com muita bebida e lança-perfume.

Isso mesmo, quando comecei a trabalhar aqui, um dos presentes mais esperados do ano, e mais bem-vindos, era sem dúvida as duas caixas de lança-perfume que a Rodouro mandava para os jornalistas. Era realmente um presentão, porque os tubos de metal dourado não custavam barato e faziam parte da fantasia. Para jogar nos outros foliões ou para tomar um bom porre. Acabado o carnaval, ninguém se lembrava mais do "zum" que a cheirada provocava no ouvido, indicando a hora de parar. O cheiro do lança-perfume não viciava ninguém, na quarta-feira de cinzas, o que restava era seu perfume nas fantasias. Foi proibido e realmente para quem não tinha controle podia representar perigo. A última vez que senti seu perfume foi quando a prefeitura colocou camarotes na avenida para convidados assistirem à passagem das escolas de samba.

Sempre adorei carnaval, não perdia uma festa, e o entusiasmo era tanto que acabei participando de dois desfiles. Um no Rio, na Mangueira, e outro aqui na Escola de Samba Cidade Jardim, que montou uma ala bem-animada só com figuras conhecidas na cidade. Participávamos dos ensaios, aproveitávamos para comemorar depois. A sociedade, que era mais participativa, não prestigia mais esse tipo de festa em clubes. Já gostei também de assistir aos desfiles das escolas na Sapucaí, no Rio, mas meu tempo de carnavalesca já se foi. E não só o meu, este ano, por exemplo, o Automóvel Clube fecha as portas hoje e só reabre na próxima quarta-feira, passa longe do carnaval, nem o restaurante funciona, porque o acesso é difícil.

A folia lá era tão grande, e tão concorrida, que, durante o carnaval, a diretoria abria aquele salão lateral que tempos depois foi aberto definitivamente para a montagem da Boate Príncipe de Gales. E até concurso de fantasia era realizado, com juri e tudo. Só que com o correr dos anos e o desânimo da cidade para as festas carnavalescas, as presenças foram diminuindo tanto que o baile foi cancelado. Mais informal e mais concorrido, apareceu o , que tem festa todos os anos, prestigiada pelos sócios. Saudades desse tempo pouca gente tem, e a última aparição do lança-perfume por aqui vinha da Argentina e tinha perigosas embalagens de vidro.



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