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Portal O Tempo ( Economia ) - MG - Brasil - 10-08-2019 - 03:00 -   Notícia original Link para notícia
Bancos têm mais da metade das dívidas dos brasileiros

São 33,17 milhões de pessoas nas mãos das instituições, que cobram juros de até 280%
Tatiana Lagôa e Queila Ariadne

Mais da metade (53%) dos 62,6 milhões de inadimplentes brasileiros devem para os bancos, segundo dados divulgados ontem pelo Sistema de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). São 33,17 milhões de pessoas que tentam remar contra uma tsunami de juros, com taxas anuais de até 280%, e realimentam o negócio milionário de empréstimos com movimentação de cifras exorbitantes . Do lado de lá do balcão, juntos, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander registraram lucro líquido de quase R$ 42 bilhões na primeira metade do ano, cifra 20,4% maior que a registrada um ano antes, de R$ 34,832 bilhões.

Já do lado dos consumidores, o número de inadimplentes segue em uma crescente, com alta de 1,73% em julho frente ao mesmo mês do ano passado, segundo o SPC. As contas básicas, como água e luz, são o segundo maior problema financeiro dos brasileiros, representando 17,3% das dívidas em aberto. Mesmo assim, os bancos são os que mais tiram o sono. "Com os juros como estão é muito difícil para o consumidor sair dessa situação", afirma o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli.

O diretor de estudos e pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, explica que, quanto mais inadimplentes, mais altos ficam os juros. "Os bancos cobram por causa do maior risco de calote. E como eles não sabem quem vai deixar de pagar, eles cobram mais caro de todos", explica. Para ele, o que justifica as instituições serem as maiores credoras é o fato de praticamente todas as compras serem feitas por meio de financiamentos ou cartões de crédito. "Quando uma pessoa compra uma geladeira a prestação, ela deve é ao banco, e não ao vendedor. Da mesma forma quando não paga o cartão", diz.

A belo-horizontina Elisângela Oliveira, 41, sabe bem o que é isso. Desempregada há três anos, ela não conseguiu quitar as três últimas prestações de uma conta de R$ 900 parcelada em seis vezes. Quando conseguiu um dinheiro extra, no início do ano, tentou quitar o débito e levou um susto: "Cheguei lá achando que ia ter um desconto por pagar tudo de uma vez, e eles insistiam que queriam parcelar com um novo empréstimo. Eu não aceitei, e me cobraram R$ 900, valor inicial da conta", diz. Ela decidiu não pagar o valor e agora vai questionar na Justiça.

Para o economista da Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Guilherme Almeida, a recente liberação de saques de até R$ 500 do FGTS é uma oportunidade de se organizar. "Para aqueles que têm mais de uma dívida, é preciso atenção especial para priorizar o pagamento daquelas com custo maior", aconselha.

Mais de 60% devem mais do que R$ 500

Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostra que 37% dos inadimplentes devem até R$ 500. Apesar de 62,5% deverem mais do que essa quantia, a economista da de Belo Horizonte (-BH), Ana Paula Bastos, acredita que os R$ 500 liberados para saques do FGTS a partir de setembro vão ajudar. "Primeiro, as pessoas vão pagar contas de água e luz atrasadas. Depois, vão usar o dinheiro para negociar e tentar abater no saldo devedor", afirma a economista.

Já para aqueles que não têm dívidas, Ana Paula destaca que os R$ 500 vão funcionar como uma espécie de bônus para impulsionar compras. "Quem estava pensando em trocar de geladeira, por exemplo, vai usar o dinheiro na entrada e dividir o restante", avalia.

ENTREVISTA

José Vignoli

Educador financeiro do SPC Brasi

Por que a inadimplência continua a crescer no país? inadimplência ainda cresce por causa do estoque de dívidas que as pessoas têm e também por causa das compras parceladas no cartão de crédito. As pessoas vão com a falsa ideia de que a conta cabe no bolso, mas não conseguem cumprir as suas obrigações. Isso faz também com que os bancos sejam os maiores credores do mercado. Afinal de contas, com os juros como estão, é muito difícil para o consumidor sair dessa situação.

A pesquisa do SPC mostra que só 37% dos inadimplentes devem até R$ 500. Então, podemos concluir que os recursos do FGTS vão resolver o problema de poucas pessoas? Na verdade, esses R$ 500 vão ajudar até quem deve R$ 2.500. Porque essas pessoas terão a oportunidade de renegociar a dívida tendo como ponto de partida os R$ 500.

Qual o perfil dos inadimplentes? Temos no Brasil 62,6 milhões de inadimplentes. Cerca de 10% deles devem dívidas básicas como conta de luz e água, o que reflete tantos anos de desemprego. Além disso, o endividamento entre os mais velhos cresce mais do que entre os mais jovens.


Palavras Chave Encontradas: Câmara de Dirigentes Lojistas, CDL
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