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Estado de Minas Online ( Economia ) - MG - Brasil - 04-08-2019 - 10:58 -   Notícia original Link para notícia
Entrevista - Maria Luquet: "Economizar também é saber gastar bem

Especializada em finanças pessoais, fundadora da agência MyNews diz que são os mais abastados que terão de aprender a lidar com dinheiro para garantir aposentadoria melhor



 Brasília - A queda dos juros vai exigir que os brasileiros aprendam a correr mais riscos em seus investimentos, diz a fundadora da agência MyNews, a jornalista Mara Luquet. O aprendizado, no entanto, não se restringirá aos que têm dinheiro para aplicar. Uma boa educação financeira também será vital na hora de se gastar os recursos. "As pessoas terão que ter as informações corretas para saber fazer escolhas", afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Por que os brasileiros têm tanta dificuldade para lidar com dinheiro?É cultural. Vivemos um período de inflação muito alta por muitos anos. Como a inflação chegou a 80% ao mês, é muito difícil mesmo criar o hábito do planejamento financeiro. Os pais não aprenderam, não conseguem passar para os filhos e por aí vai. Mas veja, você colocou muito bem: lidar com o dinheiro. Quem também só sabe guardar não tem uma relação saudável com o dinheiro. É importante ter o equilíbrio.
Muito se fala em educação financeira, mas esse tema ainda é desconhecido da grande maioria da população. O que fazer para mudar esse quadro?Primeiro, vamos esclarecer o que é educação financeira. Vejo muito conteúdo de educação financeira focando em economizar, economizar, economizar. Para mim educação financeira é outra coisa. É saber gastar, ter as informações corretas para saber fazer escolhas, como taxas de juros, spreads, custo da dívida, renda variável, renda fixa etc. Para mudar, acho importante a participação de pais e professores nesse processo. Pais como o exemplo, professores, com a informação e o conhecimento. Por exemplo, aprendemos função exponencial na escola, mas não aprendemos a importância dela na nossa vida financeira.
O país está prestes a ter um novo regime previdenciário. O que isso vai exigir da população? Ainda dá tempo para poupar?A verdade é que, mesmo com as novas regras da Previdência, a grande maioria da população ainda estará coberta pelo teto do INSS, porque, no Brasil, a renda ainda é muito baixa. É o topo da pirâmide que precisa ver que manter seu padrão de vida, mesmo depois de aposentado, será de sua própria responsabilidade. A boa notícia é que produtos e serviços na área de investimentos melhoraram muito nas últimas décadas. Estão mais acessíveis, mais transparentes e cada vez mais aumenta o cardápio para investidores de todos os tamanhos.
Com os juros nos menores níveis da história, ainda dá para ser conservador ou é preciso correr riscos? Que caminho seguir para manter o patrimônio protegido?O caminho para manter o patrimônio protegido é informação de boa qualidade. Fugir das fantasias e de promessas mirabolantes. Você pode ser conservador, mas, mesmo uma carteira conservadora, terá que avaliar alternativas melhores para diferentes prazos de investimentos. Mesmo uma carteira concentrada em renda fixa pode melhorar sua rentabilidade diversificando em prazos ou risco de crédito, por exemplo. Prazos mais longos tendem a embutir um retorno maior, assim como crédito privado, ou seja, títulos emitidos por empresas, que devem ter retorno maior do que os títulos públicos.
Investir em Bolsa de Valores é um bom negócio, mesmo com o Ibovespa acima dos 100 mil pontos? Como tirar proveito do mercado de ações?O mercado de ações tem que entrar na vida do investidor brasileiro da forma correta, não como um cassino ou especulação com dinheiro de curto prazo. Há espaços para mais altas na Bolsa? Os analistas dizem que sim, se a economia brasileira retornar sua vitalidade. A Bolsa reflete a expectativa e a saúde da economia real e as perspectivas para suas empresas.
O governo promete alívio nas finanças dos trabalhadores ao liberar o saque de parte do FGTS? Vale a pena? O que fazer com esse dinheiro?O rendimento do FGTS é tão baixo que, sim, vale a pena resgatar e aplicar em alternativas com retornos maiores. Mas a população ainda está muito endividada. Então, é possível que uma parte seja direcionada a pagar dívidas e também para o consumo. Aliás, o que o governo quer é que o dinheiro vá para o consumo, para dar um folego para a economia.
Com os juros cobrados pelos bancos, que passam de 300% ao ano em algumas linhas, qual é o risco de se endividar? É inadimplência na certa?Juros de mais de 300% podem não ser inadimplência na certa, porque o brasileiro, apesar do que dizem por aí, quer pagar suas dívidas. Agora, é sofrimento, porque a pessoa entrará certamente em situação de risco e sofrerá para conseguir pagar, com atrasos e muitas vezes ficando inadimplente.
É possível acreditar que ainda veremos juros de empréstimos e financiamentos mais parecidos com os do mundo civilizado? Por que os bancos cobram tão caro nas operações de crédito?Acho que esta é a nova fronteira. Primeiro, vencemos a hiperinflação; agora, conseguimos vencer os juros básicos altos. O próximo passo é vencer o spread bancário (a diferença entre o que os bancos pagam aos investidores e cobram dos devedores). A agenda BC , claramente, está com esse foco. Aumentar a concorrência faz parte do processo, e o fortalecimento das cooperativas de crédito e da fintechs ajuda muito neste sentido.
O governo tem alguma culpa pelo crédito ser tão caro no Brasil? Por quê?Todos nós temos culpa nesse cartório. Mas acho que, nos últimos anos, o Banco Central tem feito um esforço grande, reduzindo compulsório (recursos que os bancos são obrigados a repassar à autoridade monetária) e estimulando concorrência, por exemplo. Mas nós, consumidores, precisamos ter cidadania financeira e fazer a nossa parte, nos informando corretamente e utilizando esses instrumentos, como portabilidade de crédito, só para citar um exemplo, para fazer a concorrência funcionar.
Que dicas são importantes para quem está começando a investir? Há caminhos seguros a seguir?Não há investimento sem risco. Conheça sempre qual o risco a que você estará exposto antes de colocar a mão no bolso. E sempre, sempre desconfie de quem lhe acena com ganhos exorbitantes, fáceis e rápidos. Nós não somos uma nação de idiotas, que não ficam ricos rapidamente porque não sabem. Investir tem risco, e construir um patrimônio leva tempo, simples assim. Mas é possível se você tiver tempo, informações corretas e, claro, um pouco de disciplina para guardar dinheiro.


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