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Estado de Minas Online ( Gerais ) - MG - Brasil - 19-06-2019 - 04:00 -   Notícia original Link para notícia
Aplicativos de trânsito mudam relações, com perdas e ganhos no mercado

Tarifas de serviço consideradas baixas e ausência de vínculo de emprego expõem condutores a riscos, como longas jornadas de trabalho e perda de benefícios, dizem parceiros dos apps e estudioso do tema. Por outro lado, o serviço garante renda em tempos de crise e beneficia a economia
Um dos pontos mais discutidos com a entrada dos aplicativos de transporte no mercado diz respeito à questão das características do trabalho desenvolvido pelos motoristas e entregadores, interferindo diretamente na economia. Enquanto permitem aos condutores uma liberdade de atuação, com controle da própria jornada e se tornam opção de serviço em um contexto de corte de postos formais de trabalho, as empresas também praticam um preço considerado baixo pelos condutores e não têm nenhum tipo de vínculo com eles. Em consequência, quem dirige termina se expondo a longas jornadas para obter rendimentos almejados sem a proteção de benefícios trabalhistas. Em contrapartida, a chegada de apps de entrega, por exemplo, abre possibilidades para empresários elevarem o faturamento e manter a equipe de colaboradores sem sobressaltos.

Esse assunto é alvo de uma pesquisa comandada pelo professor Fábio Tozi, do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências (IGC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), iniciada em 2016. No caso dos motoristas de carros de passeio, ele observou uma precarização das relações de trabalho a partir do momento em que os altos custos de manutenção, aliados à baixa tarifa aplicada pelas empresas, pressionam os condutores a rodar por horas a fio sem descanso para conseguir o dinheiro suficiente para sobreviver.

Essa precarização se estende aos motociclistas e ciclistas que pilotam e pedalam por muito tempo para conseguir pagar as contas. "Concordo que as plataformas permitiram que as pessoas ganhem dinheiro para a sobrevivência, não resta dúvida. Mas isso é emprego? É esse emprego que queremos? Se o motorista fica doente, ele pode ficar sem trabalhar. E se não se programou para ter reserva nesse período? Ciclistas e motociclistas estão sofrendo acidentes. Quem arca com esse custo? É o SUS", diz o professor.

O motorista Rodrigo Alves, de 29 anos, concorda com as conclusões da pesquisa da UFMG, mas ressalta que o trabalho é uma chance em meio ao desemprego. "Bem ou mal, a gente consegue ganhar um dinheiro, sem passar dificuldades, mas não é fácil. Para ter uma renda boa com aplicativos, a pessoa tem que trabalhar de 12 a 14 horas por dia. Estou falando de um salário bom. E mesmo assim depende de vários fatores, como se o carro é do condutor ou de aluguel, entre outros", afirma.

Rodrigo diz que não pretende continuar no serviço depois de estabilizar sua sua vida financeira. Ele ainda trabalha como motorista em outra função que não pelos aplicativos. "Hoje tenho uma visão que o trabalho com os apps é meio que escravo. Você usa seu carro, desgasta seu veículo, e o retorno é baixo. Se você colocar tudo na ponta do lápis, acho que não compensa. Mas você vê o dinheiro na sua mão todos os dias", completa.

A opinião de Rodrigo é compartilhada pelo motorista Lainnio Soares de Oliveira, de 50. Ele trabalha com aplicativo desde 2014 e inicialmente atuava para complementar a renda. Quando foi demitido de uma empresa em que trabalhava como analista de sistemas, a função de motorista se tornou principal. "Tentei arrumar outro emprego, mas infelizmente, pela idade e a situação do país, tive que permanecer no aplicativo", diz ele. Soares chegou a tirar R$ 12 mil quando tinha um carro que se enquadrava na categoria Uber Black, mas hoje tem dificuldades para arrecadar cerca de R$ 4 mil por mês. "O trabalho hoje de motorista de app tornou-se um trabalho escravo, porque os apps não escutam os motoristas. Tivemos paralisação mundial e não fomos ouvidos. As empresas querem o lucro sem tanta preocupação com bem-estar dos motoristas", completa.

O motorista J. S., de 34, admite que há pontos positivos e negativos, mas se considera satisfeito ao trabalhar só com aplicativos. Rodando só pela Uber, ele se tornou membro da categoria diamante e por isso tem acesso a vantagens e benefícios financeiros quando consegue superar uma determinada quantidade de corridas por semana. "Hoje tenho mais a exaltar o aplicativo, porque me ajudou demais quando eu estava desempregado. Atualmente, só trabalho com isso. A categoria diamante me deixa em uma situação um pouco melhor do que a maioria dos motoristas e aí a gente acaba querendo bater as metas para alcançar um rendimento melhor", diz o motorista, que prefere não se identificar. J. faz cerca de R$ 5 mil por mês sem considerar eventuais gastos com manutenção.

Saída LEGAL O presidente da de Belo Horizonte (/BH), , considera que os aplicativos abriram alternativa de trabalho e lembra que há opções para buscar proteção contra acidentes ou outros problemas. "Hoje as leis permitem que essas pessoas se formalizem, se tornem microempreendedores individuais com o pagamento de INSS e ainda acoplem um serviço de atendimento médico", afirma ele. Silva diz que não acredita em precarização se houver um acompanhamento de perto. "A relação do dono com o colaborador tem que ser pacífica. Se a empresa cresce, o colaborador cresce junto e conquista condições melhores. A gente sabe que existem abusos das duas partes, mas isso vai mudar a partir de evolução da cultura", afirma.


Palavras Chave Encontradas: Câmara dos Dirigentes Lojistas, CDL, Marcelo de Souza e Silva
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