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Estado de Minas Online ( Gerais ) - MG - Brasil - 18-06-2019 - 04:00 -   Notícia original Link para notícia
Mobilidade na era dos apps: conheça os riscos por trás dos aplicativos de entrega

3ª reportagem da série do EM mostra que tecnologia traz rapidez e comodidade, mas também arrasta riscos no trânsito e põem em xeque a Lei do Motofrete
Trafegar por Belo Horizonte passou a ser uma tarefa com novos - e mais rápidos - desafios desde a popularização do fenômeno dos aplicativos de entregas. Mochilas coloridas presas às costas de motociclistas e ciclistas tornaram-se detalhes frequentes a cada esquina, multiplicando a agilidade sobre duas rodas, mas também os riscos de condutores sem experiência ou equipamentos de proteção se aventurando em velocidade entre corredores formados por um número também cada vez maior de carros. Na terceira reportagem da série sobre mobilidade urbana na era da tecnologia, o Estado de Minas mostra que uma das mudanças mais perceptíveis no setor é a proliferação de serviço de entregas, principalmente - mas não só - de comidas prontas para consumo. E explica por que o cada vez mais popular hábito de encomendar algo com poucos toques na tela do smartphone vem colocando em xeque os avanços da segurança sobre duas rodas trazidos pela chamada Lei do Motofrete.

Basta andar alguns quarteirões pela Região Centro-Sul da cidade para perceber uma enxurrada de mochilas com as logomarcas de empresas como Rappi, iFood ou Uber Eats, que demonstram em termos práticos os efeitos da demanda dos apps. Próximo de áreas com grande concentração de bares e restaurantes, ciclistas ou motociclistas formam grupos enquanto esperam pelas chamadas nos programas de celular. Da mesma forma como ocorre no transporte de passageiros, essa mudança da lógica entrega avanços, ao mesmo tempo em que reboca uma carga de novos desafios, na visão de especialistas, BHTrans e empresas.

O principal destaque positivo é a facilidade e rapidez de receber em casa uma pizza, um sanduíche, qualquer tipo de alimento ou mesmo outros produtos não necessariamente alimentícios. Quando se trata do que pode ser entregue pelas motos muitas vezes ziguezagueando em ritmo frenético pelas ruas, a criatividade de cada cliente é o limite. O presidente da de Belo Horizonte (/BH), , destaca que, sob essa perspectiva, há uma ajuda à mobilidade. "Quando eu estou esperando receber algo, não preciso sair de casa. No fim, é uma pessoa se deslocando para atender a várias outras", diz ele.

Por outro lado, a proliferação principalmente de entregadores sobre motos torna ainda mais difícil o controle dos acidentes envolvendo motoqueiros. Enquanto existe uma curva de queda dos acidentes em geral na capital mineira nos últimos cinco anos, no caso das batidas com motos essa redução não se verifica no mesmo período. Em 2017, último ano com estatísticas fechadas pela BHTrans, os acidentes com motos aumentaram 1,65%. No geral, quando se consideram todos os tipos de veículos, o total caiu 1,88% entre 2016 e 2017. A boa notícias é que em ambos os casos o número de mortos em acidentes vem caindo.

A obrigação da agilidade pelos motoentregadores impõe muitas vezes a necessidade de abusar da velocidade em meio ao tráfego pesado. Com a falta de experiência de muitos condutores que entram para esses serviços, criam-se as condições para uma situação preocupante. O motociclista Saint Clair Ramalho de Paula, de 29 anos, trabalha como despachante, mas há dois meses iniciou entregas pelos aplicativos para complementar a renda. Uma das exigências de um dos aplicativos mais populares de entrega de alimentos, segundo ele, obriga os pilotos a acelerar cada vez mais. "Se o entregador não cumpre o tempo estimado entre o local em que aceita a entrega até a loja onde vai buscar o produto, ele leva um bloqueio do aplicativo", afirma.

Para a BHTrans, a oscilação dos acidentes com motos em BH tem influência direta dessa massificação das entregas pelos apps, sem o cumprimento das regras estipuladas para o motofrete. "Esses aplicativos exigem um tempo de deslocamento do motociclista que o leva a cometer uma série de infrações", diz Célio Freitas, presidente da empresa que monitora trânsito e transporte na capital. Nesse contexto, Freitas defende que as empresas de aplicativos tomem medidas para melhorar a segurança dos motociclistas.

"Nessa crise econômica é uma alternativa para muitas pessoas que eventualmente estão ali por necessidade e nem tinham uma prática de pilotagem. Então, o motociclista vai 'cru' para isso", afirma. Para ele, as empresas de apps não estão cuidando da parte de qualificar o prestador de serviço. "Se a cada motociclista que entrasse a empresa desse um treinamento, fizesse um programa de direção defensiva, muito provavelmente poderia se tornar um indutor de segurança, enquanto hoje elas são indutoras de acidentes", afirma.

O raciocínio do presidente da BHTrans é rejeitado pelo diretor da Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O), que congrega empresas de base tecnológica. Para Marcos Carvalho, não são as empresas que causam os acidentes. Ele defende que, a partir do momento em que o Estado concede habilitação para o motociclista ou para outros modais de condução de veículos, é necessário avaliar se o condutor tem condições para a prática. "Quando você se habilita a pilotar a moto, quem autoriza é o governo. Nesse ponto, acho que temos que buscar políticas públicas para fomentar o desenvolvimento dessa segurança. Precisamos de educação e conscientização como principais fatores para mudar esse quadro, pois o gargalo educacional é gigante no Brasil e temos que harmonizar a convivência", afirma.

Mas quem também acredita que as empresas precisam ser mais atuantes na promoção da segurança, principalmente no quesito motocicletas, é o consultor em transporte e trânsito Silvestre de Andrade. O especialista pontua que o problema das motos sempre existiu, o que mudou foi a tecnologia, que agora permite que grandes empresas assumam um mercado que antes era pulverizado. "Todas as empresas têm uma responsabilidade social muito grande. Elas não podem trazer pessoas sem preparo. Acho que, ao acionar entregadores, você precisa ter critérios de seleção, formação e treinamento. Afinal, as pessoas que estão fazendo maluquice na rua ostentam a marca da empresa do aplicativo e isso fica ruim para a própria imagem dela", afirma o consultor.


Palavras Chave Encontradas: Câmara de Dirigentes Lojistas, CDL, Marcelo de Souza e Silva
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