Seis em cada 10 pessoas têm no mínimo uma compra parcelada, segundo pesquisa da Câmara dos Dirigentes LojistasCâmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDLCDL-BH) divulgada ontem. A maioria delas, o equivalente a 80%, utiliza o cartão de crédito para dividir o pagamento. Especialistas ponderam que o endividamento é saudável, mas deve ser feito com cuidado para que o sonho não se transforme em pesadelo. "Colocar todos os gastos no papel e se programar para pagar as contas em dia é fundamental", afirma o professor e consultor financeiro Paulo Vieira.

Antes de sair parcelando as compras, são necessários alguns cuidados. Conforme levantamento do Banco Central, 43,14% da renda das famílias brasileiras está comprometida, o pior índice desde agosto de 2016, considerado o ano do pico do arrocho financeiro. Isso significa que elas estão bem acima do limite aceitável de endividamento, de 30%, mesmo percentual utilizado para fornecimento de crédito consignado.

Além disso, o número de inadimplentes chegou a 62,7 milhões de brasileiros em março, conforme o SPC Brasil e a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), o equivalente a 41% da população. "O número de inadimplentes comprova que a crise é forte e deve ser monitorada", alerta Vieira.

Para não fazer parte dessa estatística, a piloto de avião Janaína Duarte anota todos os gastos. "Além disso, utilizo um aplicativo bem completo para controlar as compras", diz. A maioria das aquisições é realizada pela internet, em um site que permite parcelar. "Se o valor for alto, eu sempre parcelo. Também opto por dividir quando acho que vale a pena", conta.

Apaixonada por bicicletas, a piloto comprou duas "magrelas" a prestação. E os acessórios para equipá-las também foram divididos. Nas lojas físicas, ela costuma financiar quando o estabelecimento não oferece desconto. "Antigamente, era comum o desconto à vista, mas hoje isso não acontece mais", lamenta.

Janaína possui apenas um cartão de crédito, assim como 36% da população. Ainda segundo a pesquisa da CDLCDL-BH, 35,5% não tem o dinheiro de plástico. De acordo com a economista da entidade, Ana Paula Bastos, devido à crise e ao medo do desemprego, que já afeta 14 milhões de brasileiros, é comum que pessoas menos abonadas utilizem apenas dinheiro para as compras.

"A maioria das pessoas das classes D e E, especialmente, preferem pagar à vista e com dinheiro. E isso acontece, muitas vezes, porque elas evitam adquirir bens mais caros", justifica.