Como funciona o programa que leva executivos brasileiros à França para um mergulho na teoria e prática da transformação digital - e que impacto isso tem gerado na construção de novos negócios

Thamila Zaher, membro do Conselho do Grupo Seb: "O curso me deu ferramentas para pensar como podemos ser uma companhia capaz de moldar o futuro" (Crédito: Divulgação)

Celso Masson

26/04/19 - 11h00 - Atualizado em 26/04/19 - 19h1762

Diretor de experiência digital da Vivo, onde trabalha há quase seis anos, o executivo Fernando Moulin havia liderado várias iniciativas no âmbito da transformação digital antes de buscar uma capacitação que agregasse à sua bagagem instrumentos para pensar de forma ainda mais inovadora os caminhos para o crescimento da empresa. Foi quando conheceu o pioneiro programa Leadership Transformation - Aprendendo como Evoluir na Era da Transformação Digital, desenvolvido pela empresa de tecnologia brasileira Stefanini em parceria com o Instituto Europeu de Administração de Empresas (Insead), escola mundialmente reconhecida por sua liderança na formação de gestores - e onde Moulin já havia estudado em 2007. "Quando tivemos uma sessão prévia com os participantes que iriam à França, vi que tanto os professores quanto os colegas eram de altíssimo nível, incluindo presidentes de empresas. Isso ratificou minha decisão de participar da primeira turma", diz Moulin, que fez o curso em março do ano passado no campus do Insead em Fontainebleau, a 75 quilômetros de Paris. "Foi uma semana espetacular, sem nada a desabonar", garante. Assim como ele, os demais alunos obtiveram notas excepcionais: a média foi 9,8 sobre 10.

Felipe Monteiro, professor afiliado de estratégia do Insead: "Um dos desafios aqui é fazer com que as pessoas sintam-se energizadas para superar os custos e as dificuldades que virão" (Crédito:Divulgação)

"O curso é muito mais sobre como mudar o mindset da liderança do que sobre tecnologia", afirma Marco Stefanini, fundador da empresa que leva seu sobrenome e idealizador do programa. "Na transformação digital, o ponto mais importante é a mudança do modelo de negócio. Casos de sucesso famosos como Uber e Airbnb se apoiam muito mais na maneira de interagir com o cliente, na plataforma que facilita a interação entre os agentes daquele serviço do que propriamente na tecnologia que a viabilizou". Para atingir o objetivo de mudança de modelo mental dos líderes de grandes empresas, a Stefanini oferece aos alunos uma imersão prévia em que cada um elabora um planejamento do que pretende atingir. "É um curso que tem uma base teórica muito forte e uma visão prática de como aplicar aquele conhecimento após o retorno", diz Stefanini. Para ele, a transformação do modelo mental é que permite vislumbrar e executar novos negócios. "Temos casos de pessoas que retornaram com ideias para redirecionar seus empreendimentos ou até criar novos, dentro dessa perspectiva de transformação digital", afirma. Um desses casos foi o de Fernando Moulin. "Quando eu retornei do curso trouxe novos elementos que foram fundamentais para a implementação do Vivo Digital Labs, hoje um centro de referência em inovação no Brasil com mais de 250 profissionais estruturado de forma colaborativa para atender o cliente a partir de soluções digitais".

A DOR E O SONHO Entre os dias 14 e 20 de abril, uma segunda turma de executivos chegou a Fontainebleau para mais uma imersão no programa, que foi desenhado levando em conta as especificidades do ambiente de negócios do Brasil e também da América do Sul. "Este ano tivemos participantes de outros países, caso de Peru e Argentina, e por isso incluímos discussões sobre fatores regionais relevantes, como as oportunidades em áreas como mídias sociais, internet, conectividade", diz Guilherme Stefanini, diretor de novos negócios da empresa e um dos responsáveis pela coordenação do curso. "Além de uma etapa preparatória para as aulas na Insead, criamos uma extensão, com um comitê de inovação para que os conteúdos possam ser aplicados pelos participantes de forma a ajudá-los a endereçar as soluções para os desafios de suas empresas".

Fernando Moulin, diretor de experiência digital da VIVO: "Trouxe elementos fundamentais para implementar o Vivo Digital Labs, hoje um centro de referência em inovação" (Crédito:Divulgação)

Segundo Felipe Monteiro, professor afiliado de estratégia no Insead e um dos docentes do curso, o programa se baseia na troca de experiências para induzir uma mudança de perspectiva e permitir aos participantes que criem sua própria transformação digital. "Quando as pessoas estão aqui, sentem-se confortáveis para compartilhar o que estão fazendo - e o que não estão fazendo - para que todos consigam visualizar o que pode ser feito", afirma Monteiro, destacando que um dos focos do curso é desenvolver líderes com a habilidade de comunicar e engajar a organização para que todos caminhem na mesma direção. "Transformação, principalmente digital, traz sempre alguma dor. O desafio é fazer com que o sonho seja maior que a dor. Ou seja, como é que elas vão estar energizadas para superar os custos e as dificuldades que virão". Essa é a expectativa de Thamila Zaher, que integra o conselho do Grupo SEB, que administra mais de 250 unidades educacionais no Brasil, com 90 mil alunos. "Esse curso trouxe para mim algumas mudanças significativas no jeito de entender e transportar para a realidade a transformação digital", diz a executiva. "A inovação está no DNA da nossa empresa e eu pretendo aplicar essas novas ferramentas de forma imediata na minha área, que é educação, pensando inclusive em como podemos ser uma companhia capaz de moldar esse futuro."

Além do programa elaborado pela Stefanini e o Insead, outras instituições de prestígio oferecem cursos para executivos que desejam entender a transformação digital. A Fundação Dom Cabral tem uma parceria com IBM e Raja Valley para uma imersão de cinco dias (além de um warm up a distância) em seu campus de Nova Lima, em Minas Gerais. Entre os professores está Luis Liguori, executivo da Amazon. "Digital Transformation: From AI and IoT to Cloud, Blockchain, and Cybersecurity" (em tradução livre: "transformação digital, da Inteligência Artificial e internet das coisas à nuvem, blockchain e cibersegurança") é nome do programa de seis semanas on-line oferecido pelo MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em Cambridge, nos Estados Unidos. A próxima turma terá início em maio.