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Portal EM ( Economia ) - MG - Brasil - 28-04-2019 - 06:00 -   Notícia original Link para notícia
Sucesso de pequenos negócios depende muito da cautela

Apesar das facilidades em obter financiamentos para investir, é preciso buscar orientação financeira
Maria Geralda vendia salgados e recebeu seu primeiro empréstimo de R$ 500 há 17 anos, para ampliar o negócio

Os brasileiros ganharam mais oportunidades de acesso a financiamentos para investir em microempreendimentos com a ampliação dos recursos para o microcrédito, a partir da regulamentação, no fim de março, da Lei 13.636 do Programa de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO) e da sanção da Lei do Cadastro Positivo, neste mês, conforme mostrou o Estado de Minas. Mas, para o sucesso do negócio, não basta apenas ter o dinheiro em mãos. È preciso saber investir os recursos, recomendam especialistas. Cientes dessa situação, as próprias instituições financeiras criaram estratégias para orientação dos clientes do microcrédito, oferecendo a eles treinamentos e cursos sobre educação financeira, ação prevista na própria lei do PNMPO.

Com a iniciativa, muitos microempreendedores, que não sabiam nada sobre a gestão das finanças, não somente receberam o empréstimo com viés social como também aprenderam sobre o controle de gastos. O exemplo desse aprendizado é Maria Geralda Paixão, dona de um serviço de bufê em Montes Claros, no Norte de Minas.

Maria Geralda entrou para o programa de microcrédito Crediamigo, do Banco do Nordeste, há 17 anos. Na época, vendia salgados e recebeu o primeiro empréstimo, no valor de R$ 500, para ajudar na compra de um freezer. Como estudou até a sétima série do ensino fundamental, "não entendia nada de finanças", por necessidade, fez o curso rápido sobre gestão e controle financeiro, oferecido pela instituição responsável pelo crédito.

"No curso, aprendi que o controle de gastos é importante para qualquer negócio", afirma a empreendedora. "As vezes, eu misturava as despesas da minha casa com o meu negócio. E isso não pode acontecer. As despesas pessoais devem ser separadas dos gastos do empreendimento", diz Maria Geralda, que antes de montar o negócio trabalhou como cozinheira em restaurantes e hotéis.

Ela ressalta outros ensinamentos financeiros que obteve. "A gente deve sempre analisar os custos antes de qualquer investimento. Mas também devemos realizar uma retirada todo mês, fazendo uma reserva para alguma emergência ou tratamento de saúde", diz a microempreendedora.

"Sei que ainda preciso melhorar muito. A gente precisa se capacitar, pois, o mercado é cada vez mais exigente", declara Maria Geralda, que também confessa a vontade de fazer supletivos para concluir o ensino fundamental e o ensino médio para realizar o sonho de ingressar em um curso superior de gastronomia.

Maria Geralda relata que começou com a venda de salgados e cresceu aos poucos, montando o bufê, com o qual, hoje, atende festas e fornece comida, salgados, doces e bombons. Em março do ano passado, ela perdeu o marido, Robson dos Santos, que ajudava a mulher e teve morte repentina, vítima de um infarto fulminante.

Mãe de quatro filhos já criados, a microempreendedora disse que sofreu com o baque. Porém, não desanimou e manteve o negócio. Depois de ter recebido (em janeiro passado) o último empréstimo, no valor de R$ 3 mil, aplicado na compra do o seu terceiro freezer (usado para armazenar salgados congelados), ela anuncia que pretende montar uma lanchonete e um pequeno restaurante em espaço na sua própria casa, no bairro Santa Rita, próximo à região entral de Montes Claros.

BELEZA Outra que recebeu o pequeno financiamento e recorreu a cursos de educação financeira para aplicar corretamente os recursos foi Rita de Cássia Calazans de Souza, de 44, que trabalha como revendedora de produtos de beleza e de uso doméstico (marcas Natura e Tupperware), em Montes Claros. Ela recebeu o primeiro empréstimo do microcrédito, no valor de R$ 1 mil, há 13 anos, quando revendia roupas de enxoval. Rita de Cássia conta que, ao começar a trabalhar com a revenda de produtos de beleza, percebeu que precisava também de conhecimentos sobre a gestão do dinheiro. Foi aí que fez o seu primeiro curso de educação financeira, promovido pelo Sebrae em parceria com a instituição responsável pelo financiamento.

"Devemos observar as tendências do mercado e saber quais os produtos dão mais lucros. Precisamos trabalhar com os pés no chão", diz a microempreendedora ao falar do que aprendeu na área financeira. Ela disse que evita formar grandes estoques, lembrando da concorrência das vendas diretas pela internet. "Hoje, as empresas trabalham o APP (aplicativo de entrega de rápida). Então, não precisamos mais de grandes estoques. Tem que ter uma boa vitrine", recomenda.

Rita de Cássia, que é mãe de três filhos e mora no Conjunto José Correa Machado, na periferia de Montes Claros, destaca que conseguiu ajudar o marido (que é motorista de caminhão) a comprar a casa própria e um lote. "Mas, acho que minha grande realização é poder trabalhar como revendedora e ao mesmo tempo continuar perto dos meus filhos", comenta.

Planejamento antes de tudo

Para evitar dor de cabeça no futuro, os tomadores do microcrédito devem saber onde vão investir antes de montar o empreendimento. "A aplicação dos recursos deve ser muito bem estudada antes de fazer a solicitação para que o valor recebido seja suficiente para cobrir o orçamento, mas que não seja excessivo, para evitar custos desnecessários com juros", recomenda o professor Ricardo Teixeira, coordenador do MBA em Gestão Financeira da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O especialista orienta que o microempreendedor também deve elaborar um orçamento prévio antes de ir ao banco em busca do crédito. :"O crédito deve ser solicitado a partir de um orçamento bem elaborado e da projeção do faturamento que permitirá amortizar, e mais adiante, quitar a obrigação financeira", diz. Ele dá outra dica: "quando se contrai um empréstimo, deve-se evitar ter o capital de giro como item muito relevante no orçamento, salvo em situações especiais. O empréstimo deve ser para investimento e não para custeio".

O analista do Sebrae Minas José Márcio Martins chama atenção para a importância da aplicação do financiamento naquilo que foi previsto, sem nenhum desvio. "Todo recurso que será tomado emprestado deverá ser aplicado para a finalidade que foi estabelecida antes de buscá-lo, ou seja, antes de buscar recursos em instituições financeiras", observa Martins.

"O empresário deve pegar o valor do microcrédito e investir em equipamentos que permitam que ele tenha uma atividade empresarial. Pode ser uma máquina de costura para uma dona de casa que queira costurar para fora, por exemplo. Enfim tem que ser destinado para investir em algo que ou faça sua empresa crescer ou aumente a produtividade", observa o professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Administração e Economia e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).

O analista do Sebrae Minas Eric Darioli, que trabalha com o treinamento e cursos para microempreendedores no Norte de Minas, salienta que o tomador do microcrédito deve ficar atento também com os valores das parcelas a serem pagas. "É fundamental que a pessoa verifique, com antecedência, se vai ter condições de arcar com os valores das parcelas dos empréstimos. Para isso, ela precisa ter uma organização financeira e fazer um planejamento, a fim de que possa usar o crédito de maneira consciente e não ficar apenas apagando incêndios em situações emergenciais", recomenda Darioli.

Ao liberar os pequenos empréstimos, os bancos também orientam os clientes sobre como gerir e investir os recursos contratados, por meio de cursos, treinamentos e parcelas. A estratégia é adotada pelo Banco do Nordeste (BNB), que lidera as liberações do microcrédito (responde por 62% das operações), o qual pretende investir R$ 11 bilhões em 2019. Outra instituição financeira que também criou ações para capacitar os tomadores dos pequenos empréstimos é o Santander, que é líder em microcrédito entre os bancos privados e atua no segmento há 16 anos, com desembolsos superiores a R$ 5.7 bilhões e cerca de 630 mil clientes atendidos.

O Banco do Brasil informou que também promove a orientação financeira aos seus clientes de microcrédito. "Essa orientação é realizada pelo agente de crédito e por canais virtuais, como complemento à orientação do agente, alcançando o empreendedor em local e horário da sua conveniência. Por outro lado, destacou que, para avaliação do crédito na medida certa, são levantadas informações sobre o empreendedor e o empreendimento, buscando manter a adimplência ao longo da jornada do crédito.

SAIBA MAIS

Preocupação de entidade

O presidente da de Belo Horizonte (/BH), Marcelo Souza Silva, lembra que o planejamento visando a aplicação correta de empréstimos bancários pelos empreendedores também é uma preocupação da entidade. "A /BH entende que os financiamentos e empréstimos são essenciais para os empresários aumentarem seu capital de giro e promoverem o desenvolvimento de seus negócios, principalmente para os microempreendedores. Mas, consideramos que é de suma importância para os empresários, antes de obter um empréstimo, que realizem uma análise financeira do seu negócio para verificar se a empresa tem condição de demandar aquele financiamento e se o valor desejado realmente é o necessário", pondera Souza Silva.


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