Indústria de brinquedos faturou mais de R$ 6 milhões no ano passado, em que apresentou mais de 4 mil lançamentos. Na área mais lúdica, os papagaios vêm rendendo bons números para pequenos empreendedores

Elian Guimarães

Publicação: 07/04/2019 04:00 

Paulo Leandro, da PP Pipas, disse que o ramo é muito atrativo e cresceu muito nos últimos dois anos





A indústria brasileira de brinquedos apresentou 4.100 lançamentos no ano passado. Entre 21 e 28 de março, o Expo Center, em São Paulo, recebeu o terceiro maior evento do setor no mundo, a Feira Internacional de Brinquedos (Abrin), reunindo 130 expositores, 15 mil lojistas e compradores, com mais de 1.200 novidades. Foram realizados 153 encontros, resultando em negócios no valor de R$ 7,7 milhões para os próximos 12 meses.

A novidade dessa edição foi o Game Show, espaço exclusivo dedicado a um mercado em ascensão e que vem conquistando adeptos de todas as idades a cada dia: os jogos de tabuleiro. Em 2018, o faturamento de jogos superou os R$ 600 milhões.

O setor de brinquedos fechou 2018 com faturamento de R$ 6,871 milhões, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos (Abrinq) e os produtos nacionais superaram em faturamento os importados. "A indústria brasileira melhorou bastante em qualidade e em preços competitivos, fazendo com que os brinquedos chineses deixassem de atrapalhar", reconhece o representante comercial do ramo, Geraldo Sena de Lima, que atende 50 municípios em Minas Gerais. O profissional atua há 20 anos nesse mercado e diz que muitas novas empresas surgiram nos últimos anos com "propostas muito interessantes".

A ideia de unir o empreendedorismo com uma forma lúdica de trabalhar despertou a atenção de Eduardo Lopes Linhares quando um sobrinho apresentou canais do segmento de pipas e papagaios no YouTube, e descobriu grande potencial no próprio bairro onde mora, na região de Venda Nova. "São inúmeras crianças soltando papagaios pelas ruas", observou.

Depois de muita pesquisa, Eduardo resolveu criar uma marca MPG - Minas das Pipas Gerais, e abrir uma loja para pipas, papagaios e acessórios, como manivelas e carretilhas (as plásticas custam R$ 23 e as de madeira, R$ 90, em média). No Rio de Janeiro e em São Paulo, encontrou uma diversidade de fornecedores. A taquara de bambu pode ser substituída pela fibra. "Com 400 fibras, a R$ 15, consigo produzir 200 pipas." O empreendedor também lançará, no próximo mês, um canal no YouTube, em que poderão ser encontradas as atividades do setor, como festivais, competições e inovações. Belo Horizonte e região metropolitana já tem diversas equipes que competem e fazem exibições em festivais. No dia 21, ocorre um festival num terreno atrás da montadora Fiat, já tradicional em Betim.

Sem pagar aluguel, já que a loja física será em sua própria casa, Eduardo conta que o investimento inicial será em torno de R$ 2 mil, com balcão de mostruário, estoque, além de câmera e tripé para filmar suas atividades. Pretende divulgar seus produtos nas diversas feiras e festivais que ocorrem por todo o país. Uma das formas de apresentar seus trabalhos será a soltura de balão solar: esse balão carrega vários papagaios com os endereços físico e virtual, que vão se desprendendo ao longo do percurso de navegação.

GERAÇÃO DE RENDA

Paulo Leandro, da PP Pipas, disse que o ramo é muito atrativo e chegou com mais força em BH há dois anos. "Muitas famílias são sustentadas pela venda de pipas, papagaios, rabiolas, bambu, fibra, linha pura e barbela, entre outros. Há empresas que chegam a faturar mais de R$ 20 mil por mês." As altas temporadas ocorrem entre maio e julho, e dezembro e fevereiro, principalmente durante as férias escolares. "Temos megafestivais, que ocorrem em pastos, campos de futebol, fazendas, fora de bairros urbanos, e isso gera uma gama de negócios em seu entorno, como carrinhos de bebidas e de alimentação, além de artigos para fabricação das pipas." Há também o campeonato sul-americano, no Chile, que serve como seleção para o mundial na China. Esses campeonatos são famosos também na França, Japão e Afeganistão. O brasileirão ocorre em maio, em Maricá, no Rio de Janeiro.

PP conta que o termo papagaio, praticamente conhecido somente em Minas Gerais, é também usado como peixinho ou arraia em outros pontos do país, mas que há diferença para a pipa. "O papagaio tem duas taquaras, uma reta e outra de envergadura, e a pipa usa três taquaras, no mínimo." Para montar um negócio, ele sugere contatos com fornecedores em São Paulo e no Rio de Janeiro, além de acessar lojas pela internet. Paulo Leandro sugere agregar ao negócio orientações, como não usar cerol ou linha chilena, e defende a construção de pipódromos em áreas abertas, longe de fiações ou antenas e protegidas de prédios e trânsito. "O importante é atrair as crianças para essas áreas reservadas, evitando acidentes de trânsito com os xeperos" (meninos que correm atrás de papagaios que tiveram a linha cortada).

O custo para montar uma loja pode variar de R$ 300 - compra de plástico e seda, cola, durex, tesoura e uma pequena loja - a R$ 2 mil, em estabelecimento mais top. O custo, em Belo Horizonte, de um papagaio de plástico de tamanho médio (35cm) chega a R$ 0,60 a unidade, e pode ser vendido a R$ 1. Ganha-se na quantidade de vendas.