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Isto é Dinheiro online ( Economia ) - SP - Brasil - 30-03-2019 - 09:24 -   Notícia original Link para notícia
Sabe a Apple? Esqueça. Mudou tudo


Tim Cook: ao anunciar cartão de crédito, streaming de vídeo, assinatura de games e serviço de notícias o atual CEO reorienta a empresa, copiando o que fez a Microsoft (Crédito: Michael Short/Getty Images/AFP)


Edson Rossi


29/03/19 - 11h00 - Atualizado em 29/03/19 - 17h59


Imagine se duas tradicionais fabricantes de automóveis - a BMW e a Daimler, por exemplo - se unissem para atuar no segmento de mobilidade urbana porque acreditam que seus produtos perderão espaço enquanto os serviços ganharão relevância. Bem, não precisa mais imaginar, pois foi exatamente isso que a BMW e a dona da Mercedes-Benz fizeram, há um mês. Agora, a Apple faz o mesmo: tirou o pé do portfólio de produtos para acelerar a oferta de serviços. A tech giant comandada por Tim Cook parece ter entendido que num mundo em que toda empresa será de tecnologia, empresas de tecnologia precisam ser outra coisa. Por esse motivo apresentou seu cartão de crédito, serviço de streaming de vídeos, um de assinatura de notícias e uma plataforma de games.


CARTÃO DE CRÉDITO Para entender o anúncio de um cartão de crédito é preciso olhar para o Apple Pay, o sistema de pagamentos da empresa, lançado em outubro de 2014 - e disponível no Brasil desde o ano passado, depois de similares de Google e Samsung. Apesar de crescente, o número de usuários da carteira virtual não deslumbra: 252 milhões de pessoas no mundo. É fato que esse mercado deve dar um salto. Projeções apontam que 80% dos usuários globais de smartphones acabarão usando seus aparelhos como carteiras, em comparação com menos de 20% agora. Mas esse futuro ainda não chegou. Hoje, o Apple Pay representa menos de 2% do volume de redes como Mastercard e Visa. Muitos comerciantes ainda não aceitam esse modelo de pagamento.


Começar pelo cartão de crédito é uma maneira de a Apple contornar um hábito que ainda não se alterou por parte de consumidores do mundo inteiro. Para lançar o Apple Card, a empresa se uniu ao banco Goldman Sachs e à operadora Mastercard. É claro que o cartão não viria sem novidades. Não trará número estampado, nem código de segurança, data de expiração ou espaço para a assinatura. Não haverá também taxas, anuidades ou mensalidades e permitirá um programa de recompensas de devolução de dinheiro conforme for utilizado. E um dos pontos altos, e mais bacanas, resvalando naquela Apple de produtos disruptivos, é a ferramenta de educação financeira para os usuários do cartão controlarem seus gastos. Ele terá mapa interativo para melhor visualização de onde as compras foram efetuadas, ampliando o controle das movimentações e a segurança.


Streaming de vídeos A Netflix não quer saber da Apple, então a Apple está tratando de ser um pouco Netflix. O aguardado anúncio do serviço de streaming da empresa de tecnologia é uma reformulação da Apple TV, que vai virar um agregador de 100% do que for conteúdo audiovisual - produção própria ou de parceiros. Haverá de tudo no balaio. Canais de TV por assinatura, conteúdos de outras plataformas de streaming (como Amazon Prime, ESPN Watch, Hulu, já que a Netflix se recusou a fazer parceria) e programação original. O serviço de streaming com conteúdos originais, que se chamará Apple TV , reúne produções comandadas por pesos pesados, como M. Night Shyamalan, Oprah Winfrey, Steve Carrel e Steven Spielberg. Deve ser lançado no segundo semestre em mais de 100 países, mas os preços das assinaturas não foram divulgados.


Ele funcionará nos dispositivos da marca (iPhones, iPads e Macs), mas também em TVs inteligentes (LG, Samsung e Sony). Não ficou claro se estará disponível para Android, sistema operacional que domina 74% do mercado global de smart-phones (dados de fevereiro de 2019). A Netflix, líder em streaming de vídeo, talvez tenha fornecido uma pista caso o sistema Android não seja mesmo contemplado: 70% de seus assinantes assistem ao conteúdo em uma TV, 15% em PCs, 5% em tablets e 10% em celulares. A Apple provavelmente decidiu que valeria a pena o risco de ignorar o Android como opção de canal de distribuição.


Games Talvez tenha sido a novidade menos reluzente no pacote. Não pela importância, mas por ser um modelo muito parecido com o recém-anunciado Stadia, do Google. O serviço de assinatura de jogos para iPad, iPhone e Mac, chamado Arcade, promete mais de 100 jogos no lançamento, no segundo semestre, em 150 países. O preço da assinatura também não foi divulgado. O dado para entrar de forma mais contundente nesse mercado veio da própria Apple Store: os 300 mil games disponíveis já foram baixados 1 bilhão de vezes.


Notícias De certa forma será um streaming de notícias, com material de mais de 300 publicações e disponível inicialmente nos Estados Unidos (US$ 9,99 ao mês) e no Canadá (US$ 12,99 ao mês). Tim Cook, CEO da Apple, diz que mais de 5 bilhões de reportagens já foram consumidas no Apple News. O novo serviço, News , pretende ser uma espécie de Spotify do jornalismo. Mas há alguns poréns nessa promessa. Publicações bem-sucedidas vendem cada vez mais assinaturas digitais e não querem compartilhar receita e, especialmente, dados de assinantes. Assim como os consumidores encontram o conteúdo jornalístico com mecanismos de busca ou nas redes sociais. E, pelo menos inicialmente, só dispositivos Apple oferecerão o News .


CORAÇÃO NO HARDWARE "A Apple, em seu coração, ainda é uma empresa de hardware relutante em dar aos consumidores mais razões para escolher um telefone Android", afirma uma reportagem da Bloomberg. A questão é que a empresa precisa crescer em serviços. As receitas nessa linha aumentaram 24% entre 2018 e 2017 (ano fiscal encerrado em setembro) contra 18% de alta nas receitas com vendas de iPhones no mesmo período. De certa maneira a Apple começou a seguir os passos da Microsoft, que desde a ascensão de Satya Nadella ao posto de CEO, há cinco anos, se reorientou para vender serviços.


Quando virou CEO, Nadella liderava as frentes de serviço da empresa, incluindo a divisão Cloud. No ano fiscal de 2018, encerrado em junho, as receitas fora da linha de produtos já atingiram US$ 45,8 bilhões (41,5% do total de US$ 110,3 bilhões). No ano fiscal anterior elas representavam apenas 33,9%. "Imagine um futuro em que todos os seus aplicativos e suas experiências girem em torno de você e transcendem qualquer dispositivo", disse Nadella em sua carta aos investidores do ano passado. Não deixa de ser muito irônico a Apple querer ser um pouco mais Microsoft. Afinal, Steve Jobs dizia que nos anos 80 Bill Gates havia surrupiado a ideia original do Mac para desenvolver o Windows.


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