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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 10-02-2019 - 11:31 -   Notícia original Link para notícia
Experiência tem valor

Idade mínima ajuda economia ao alongar carreira dos mais produtivos



A adoção de uma idade mínima para a aposentadoria no Brasil, prevista na reforma da Previdência, deve aumentara produtividade da economia ao manter no mercado por mais tempo os profissionais com maior qualificação, apontam especialistas. Isso ocorre porque, no Brasil, aposentados têm maior probabilidade de permanecer sem ocupação. E os que se aposentam mais cedo, por tempo de serviço, têm nível educacional e salários mais altos. O sistema incentiva a saída precoce dos que têm maior capacidade de contribuir com ageração de riqueza no país, que param de contribuir coma Previdência e passam a receber os maiores benefícios por mais tempo. Atualmente no Brasil, homens podem se aposentar com 35 anos de contribuição e mulheres, com 30 anos. Enquanto os profissionais mais instruídos conseguem se aposentar por tem pode serviço, os trabalhadores de menor escolaridade tendem ase aposentar por idade-homens aos 65 anos e mulheres aos 60. Isso porque são mais vulneráveis ao desemprego eà informalidade, oque dificulta atingir o tempo de contribuição. Assim, ficam na ativa por mais tempo trabalhadores cuja produtividade cai com o avanço da idade, pois ela depende da sua capacidade física, como operários da construção civil ou empregados domésticos. -Acurvada produtividade do trabalhador com ensinos upe ri oré ascendente porque sua capacidade laboral não depende da força física, mas sim do seu acúmulo de experiências, que pode estar no ápice ao se aposentar - explica Luis Henrique da Silva de Paiva, cientista social do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Um estudo do qual ele participou identificou que 87% dos aposentados precoces brasileiros( homens entre 53 e 59 anos e mulheres entre 50 e 54) teriam condições dese manter ocupados hoje, considerando características como sexo, raça, escolaridade e região onde vivem. No entanto, com o recebimento de aposentadorias, apenas 38% deles trabalham. O impacto sobre a renda agregada da economia brasileira é bilionário. Exercício feito pelos economistas Bruno Ottoni e Fernando Holanda Barbosa Filho concluiu que o país perde entre 0,4% e 0,7% do Produto Interno Bruto brasileiro (PIB) por ano com aposentadorias precoces. Para se ter uma ideia, em 2017, isso correspondeu a algo entre R$ 26 bilhões e R$ 46 bilhões.



É a riqueza que esses aposentados deixaram de agregar à economia ao pararem de trabalhar ou migrarem para ocupações com salários mais baixos, situação também comum entre os pensionistas, explica Bruno Ottoni, pesquisador do Ibre/ FGV e da Consultoria iDados: -Quando apessoas e aposenta e par ade trabalhar, deixa de gerar renda. Alguém perde par apagara sua aposentadoria, já que, no nosso regime previdenciário, quem está na ativa contribui parapa garo benefício de que mé aposentado. Essa conta recai não apenas sobre os que ficam mais tempo trabalhando e contribuindo coma Previdência, que tende maser os mais pobres, mas sobre toda a sociedade. Isso porque o governo precisa tirar recursos de outras áreas ou se endividar para cobrir o déficit do sistema e garantir o pagamento das aposentadorias.



 



EDILSON DANTAS



Ainda na ativa. A publicitária Celina Freitas, de 62 anos, decidiu de aposentar aos 58 após perder o emprego e não conseguir nova posição, mas se reinventou como intérprete para seguir trabalhando



MENOS CONTRIBUINTES



A urgência de um reequilíbrio do sistema aparece em projeção feita por Paulo Tafner, pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e um dos maiores especialistas em previdência do país. Em 2010, havia 6,5 pessoas em idade ativa (15 a 59 anos) para cada idoso (60 anos ou mais) no Brasil. Em 2050, essa relação vai cair para 1,9. Ou seja: o INSS terá de sustentar cada vez mais beneficiários com menos contribuintes. Parar de trabalhar nunca esteve nos planos da publicitária Celina Freitas, de 62 anos, mas ela acabou requerendo a aposentadoria aos 58, por tempo de contribuição. Demitida



três anos antes depois de uma carreira construída nas principais agências de publicidade do país, ela não conseguiu um novo emprego e recorreu ao benefício a que já tinha direito para ter uma renda fixa. Mesmo assim, com experiência e conhecimento acumulados, decidiu se reinventar para continuar trabalhando. Hoje, atua como intérprete e tradutora, mas como autônoma. Não tem o mesmo salário da carreira na publicidade, ganha por projetos. Mas o importante, para ela, é manter-se ativa: -Não é só a necessidade de ter uma renda complementar, mas, intelectualmente, não dá para parar de produzir tão cedo. Quando fui demitida, percebi que meu meio era muito cruel com as pessoas mais velhas. Pesquisei quais carreiras valorizavam o rolde conhecimentos que só chega coma idade e fiz um curso para me tornar intérprete e tradutora.



'QUASE UMA JABUTICABA'



A equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, cogita idade mínima de 65 anos para a aposentadoria de homens e mulheres, mas apalavra final caberá ao presidente Jair Bolsonaro. Para especialistas, essa medida prolongaria carreiras como ade Celina, impulsionando a produtividade do país, indicador cuja estagnação é um dos principais problemas da economia brasileira. Mas também reduziria desigualdades.



De acordo comum estudo do Ipea, 63% dos aposentados precoces (homens e mulheres comidade inferiora 60 e 55 anos, respectivamente) estão entre os 40% mais ricos do país. O mais recente Anuário Estatístico da Previdência Social, do governo federal, mostra que, em 2017, o valor mé diodo benefício concedido a quem se aposentou por tempo de contribuição foi de R$ 2.326. Os aposentados por idade receberam, em média, R$ 1.119. Em um artigo publicado pelo Centro de Políticas Públicas do Insper, os economistas Gustavo Marcos Szniter Mentlik, Naércio Menezes Filho e Bruno Kawaoka Komatsu argumentam que a adoção da idade mínima afetaria, no futuro,trabalhadores com maior inserção no mercado formal, logo, os menos vulneráveis. Eles apontam várias evidências de que o atual sistema aumenta desigualdades e prejudica o crescimento econômico. Paiva, do Ipea, concorda: -A aposentadoria por tempo de contribuição, sem idade mínima, é quase uma jabuticaba. Existe em um número muito peque node países e colabora par aos altíssimos custos da Previdência, incompatíveis com nossa situação demográfica, de envelhecimento da população. Para piorar, tem impacto negativo na economia.É urgente migrar para um sistema com idade mínima.



87%



dos aposentados precoces teriam condições de se manter hoje no mercado de trabalho



38%



dos beneficiários com menos de 60 anos (homens) e 55 anos (mulheres) voltam a trabalhar depois de se aposentar





0,7%



do Produto Interno Bruto É a parcela máxima de riqueza perdida por ano com aposentadorias precoces, segundo estimativas





63%



dos que se aposentam cedo estão entre os 40% mais ricos da população brasileira, de acordo com um estudo do Ipea







Deixar o mercado de trabalho formal muitas vezes não é uma escolha



Adotar uma idade mínima para a aposentadoria terá efeito positivo para a economia. A mudança, prevista na reforma da Previdência, aumentaria a produtividade, ao manter profissionais mais qualificados em atividade por mais tempo. Acada ano, o país perde até 0,7% do PIB com aposentadorias precoces. Nem sempre parar de trabalhar é uma opção para quem se aposenta cedo. Ana Amélia Camarano, coordenadora de Estudos e Pesquisas de Gênero, Raça e Gerações do Ipea, observa que um dos principais incentivos à inatividade prec oc eéa dificuldade de profissionais mais velho sacharem emprego. Fatores como dificuldade de acompanhar evoluções tecnológicas ou limitações de saúde acabam expulsando muita gente do mercado depois dos 50 anos. Como o governo quer fazer o brasileiro trabalhar por mais tempo,é preciso criar soluções no mercado de trabalho para incluir esse novo perfil de mão de obra, alerta a pesquisadora: -Em 2030,50% da força de trabalho terão mais de 45 anos. Empregaram ã ode obra mais madura não será opção, mas necessidade - avalia Ana, para quem nem mesmo o plano do ministro Paulo Guedes de flexibilizar direitos trabalhistas de jovens para incentivara contratação deles per mi tiráà economia prescindir de profissionais mais velhos. Melhorar as condições de trabalho para que os jovens de hoje envelheçam de forma mais saudável é um dos desafios. Segundo a especialista, as aposentadorias por invalidez têm crescido, num indicativo de más condições de trabalho. Ela também chama a atenção para a importância de investir em mobilidade urbana para atender às limitações dos idosos. -É importante estabelecer idade mínima para se aposentar, mas não basta uma canetada. Mexeu na Previdência, tem que pensar em formas de melhorara empregabilidade do profissional mais velho. Capacitá-lo, criar mecanismos de incentivo a essa contratação. Trabalhar ajuda a saúde no envelhecimento. Layla Vallias, da Hype60 , consultoria especializada em economia da longevidade, observa que aposentados mais escolarizados e saudáveis costumam migrar para atividades autônomas, como consultoria, com horário mais flexível. Além da experiência, têm geralmente uma rede de contatos: - Muitos profissionais sofrem com a aposentadoria forçada. Param de ser promovidos ou são os primeiros das listas de demissões, mas ainda têm muita vitalidade. Essa é uma das maiores perdas emocionais dos maduros. (D.C. 







Idade mínima ajuda economia ao alongar carreira dos mais87%produtivos



Aadoção de uma idade mínima para a aposentadoria no Brasil, prevista na reforma da Previdência, deve aumentara produtividade da economia ao manter no mercado por



mais tempo os profissionais com maior qualificação, apontam especialistas. Isso ocorre porque, no Brasil, aposentados têm maior probabilidade de permanecer sem ocupação. E os que se aposentam mais cedo, por tempo de serviço, têm nível



educacional e salários mais altos. O sistema incentiva a saída precoce dos que têm maior capacidade de contribuir com ageração de riqueza no país, que param de contribuir coma Previdência e passam a receber os maiores benefícios por mais tempo. Atualmente no Brasil, homens podem se aposentar com 35 anos de contribuição e mulheres, com 30 anos. Enquanto os profissionais mais instruídos conseguem se aposentarportem pode serviço, os trabalhadores de menor escolaridade tendem ase aposentarpor idade-homens aos 65 anos e mulheres aos 60. Isso porque são mais vulneráveis ao desemprego eà informalidade, oque dificulta atingir o tempo de contribuição. Assim, ficam na ativa por mais tempo trabalhadores cuja produtividade cai com o avanço da



idade, pois ela depende da sua capacidade física, como operários da construção civil ou empregados domésticos. -Acurvada produtividade do trabalhador com ensinos upe ri oré ascendente porque sua capacidade laboral não depende da força física, mas sim do seu acúmulo de experiências, que pode estar no ápice ao se aposentar - explica Luis Henrique da Silva de Paiva, cientista social do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Um estudo do qual ele participou identificou que 87% dos aposentados precoces





brasileiros( homens entre 53 e 59 anos e mulheres entre 50 e 54) teriam condições dese manter ocupados hoje, considerando características como sexo, raça, escolaridade e região onde vivem. No entanto, com o recebimento de aposentadorias, apenas 38% deles trabalham. O impacto sobre a renda agregada da economia brasileira é bilionário. Exercício feito pelos economistas Bruno Ottoni e Fernando Holanda Barbosa Filho concluiu que o país perde entre 0,4% e 0,7% do Produto Interno Bruto brasileiro (PIB) por ano com aposentadorias precoces. Para se ter uma ideia, em 2017, isso correspondeu a algo entre R$ 26 bilhões eR$46bilhões.Éa riqueza que esses aposentados deixaram de agregar à economia ao pararem de trabalhar ou migrarem para ocupações com salários mais baixos, situação também comum entre os pensionistas, explica Bruno Ottoni, pesquisador do Ibre/ FGV e da Consultoria iDados: -Quando apessoas e aposenta e par ade trabalhar, deixa de gerar renda. Alguém perde par apagara sua aposentadoria, já que, no nosso regime previdenciário, quem está na ativa contribui parapa garo benefício de que mé aposentado. Essa conta recai não apenas sobre os que ficam mais tempo trabalhando e contribuindo coma Previdência, que tende maser os mais pobres, mas sobre toda a sociedade. Isso porque o governo precisa tirar recursos de outras áreas ou se endividar para cobrir o déficit do sistema e garantir o pagamento das aposentadorias.



EDILSON DANTASAinda na ativa. A publicitária Celina Freitas, de 62 anos, decidiu de aposentar aos 58 após perder o emprego e não conseguir nova posição, mas se reinventou como intérprete para seguir trabalhando



MENOS CONTRIBUINTES



A urgência de um reequilíbrio do sistema aparece em projeção feita por Paulo Tafner, pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e um dos maiores especialistas em previdência do país. Em 2010, havia 6,5 pessoas em idade ativa (15 a 59 anos) para cada idoso (60 anos ou mais) no Brasil. Em 2050, essa relação vai cair para 1,9. Ou seja: o INSS terá de sustentar cada vez mais beneficiários com menos contribuintes. Parar de trabalhar nunca esteve nos planos da publicitária Celina Freitas, de 62 anos, mas ela acabou requerendo a aposentadoria aos 58, por tempo de contribuição. Demitida



três anos antes depois de uma carreira construída nas principais agências de publicidade do país, ela não conseguiu um novo emprego e recorreu ao benefício a que já tinha direito para ter uma renda fixa. Mesmo assim, com experiência e conhecimento acumulados, decidiu se reinventar para continuar trabalhando. Hoje, atua como intérprete e tradutora, mas como autônoma. Não tem o mesmo salário da carreira na publicidade, ganha por projetos. Mas o importante, para ela, é manter-se ativa: -Não é só a necessidade de ter uma renda complementar, mas, intelectualmente, não dá para parar de produzir tão cedo. Quando fui demitida, percebi que meu meio era muito cruel com as pessoas mais velhas. Pesquisei quais carreiras valorizavam o rolde conhecimentos que só chega coma idade e fiz um curso para me tornar intérprete e tradutora.



'QUASE UMA JABUTICABA'



A equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, cogita idade mínima de 65 anos para a aposentadoria de homens e mulheres, mas apalavra final caberá ao presidente Jair Bolsonaro. Para especialistas, essa medida prolongaria carreiras como ade Celina, impulsionandoa produtividade do país, indicador cuja estagnação é um dos principais problemas da economia brasileira. Mas também reduziria desigualdades.De acordo comum estudo do Ipea, 63% dos aposentados precoces (homens e mulheres comidade inferiora 60 e 55 anos, respectivamente) estão entre os 40% mais ricos do país. O mais recente Anuário Estatístico da Previdência Social, do governo federal, mostra que, em 2017, o valor mé diodo benefício concedido a quem se aposentou por tempo de contribuição foi de R$ 2.326. Os aposentados por idade receberam, em média, R$ 1.119. Em um artigo publicado pelo Centro de Políticas Públicas do Insper, os economistas Gustavo Marcos Szniter Mentlik, Naércio Menezes Filho e Bruno Kawaoka Komatsu argumentam que a adoção da idade mínima afetaria, no futuro,trabalhadores com maior inserção no mercado formal, logo, os menos vulneráveis. Eles apontam várias evidências de que o atual sistema aumenta desigualdades e prejudica o crescimento econômico. Paiva, do Ipea, concorda: -A aposentadoria por tempo de contribuição, sem idade mí nim a,équa se uma jabuticaba. Existe em um número muito peque node países e colabora par aos altíssimos custos da Previdência, incompatíveis com nossa situação demográfica, de envelhecimento da população. Para piorar, tem impacto negativo na economia.É urgente migrar para um sistema com idade mínima.


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