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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 09-12-2018 - 12:45 -   Notícia original Link para notícia
Na corrida tecnológica, China ameaça EUA

Prisão de executiva da Huawei coloca em evidência preocupação americana com avanço de empresas do país asiático em campos cruciais como computação quântica e internet das coisas. Ocidente teme espionagem


"Se o mundo não acordar, dentro de dez ou 20 anos a indústria de tecnologia será controlada pela China" Robert Atkinson, presidente da Information Technology & Innovation Foundation
"O tempo (2030) é curto, mas tangível para a China Carlos Affonso, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade


Aprisão, no Canadá, de Me ngWanzh ou, executiva d agigante chinesa de tecnologia Huawei, apedido dos Estados Unidos, derrubou Bolsas de Valores do mundo inteiro na quinta-feira elevou analistas a temerem o fim da tré guana guerra comercial entre EUA e China. No último dia 1º, Donald Trump e Xi Jinping fecharam um acordo, na reunião do G-20 em Buenos Aires, para suspender um aumento recíproco de tarifas sobre US$ 200 bilhões em exportações bilaterais, que entraria em vigor em janeiro. Mas o alívio durou pouco. A crise desencadeada pela prisão da executiva da Huawei deixou claro que, muito além de aço, soja e automóveis, o que está em jogo na guerra comercia lé uma corrida tecnológicaque, segundo especialistas, pode determinar quem vai guiara próxima revolução industrial. Antes líderes incontestes no setor, co mG oogle, Facebook, Microsoft e Amazon, os americanos veem os chineses se aproximando rapidamente e, em algumas áreas, já ficaram para trás.


GIULIA MARCHI/BLOOMBERG/5-6-2018Chip da discórdia. Componentes de uma placa-mãe: autoridades americanas já acusaram a Huawei de usar seus equipamentos como portas de espionagem no Ocidente. Mas nunca apresentou provas, e a empresa sempre negou as acusações


Da lista de 50 start-ups mais valiosas do mundo, 22 são chinesas, incluindo as duas primeiras do ranking: Ant Financial e Bytedance. Os EUA têm 18 companhias no ranking. No relatório anual da Organização Mundial da Propriedade Intelectual, divulgado no último dia 3, o escritório chinês foi recordista de patentes em 2017: 1,38 milhão de pedidos, mais que o dobro de sua contraparte americana, com 607 mil. - Os EUA têm uma liderança significativa na indústria de tecnologia, porque temos um grande mercado consumidor e investimos em pesquisa e desenvolvimento. O problema é que a China também tem - ressalta Robert Atkinson, presidente do think tank Information Technology & Innovation Foundation e que copresidiu o Escritório da Casa Branca para Políticas de Ciência e Tecnologia no governo Barack Obama. -O que os chineses estão fazendo é uma ameaça sistemática a essa liderança. Se o mundo não acordar, dentro de dez ou 20 anos a indústria de tecnologia será controlada pela China.


META DE SER LÍDER ATÉ 2030


O crescimento exponencial das empresas chinesas de tecnologia nos últimos anos ocorreu graças a pesados subsídios de Pequim à indústria local, o que gera no Ocidente o temor de risco de espionagem governamental em uma área sensível. O governo chinês também impõe barreiras à entrada de companhias estrangeiras no seu mercado doméstico, exigindo contrapartidas que incluem o repasse de tecnologias. Para Atkison, Pequim usa a espionagem cibernética "de forma agressiva" para roubar segredos da indústria e de governos e repassá-losa companhias chinesas. Nocas odap risão da executiva da Huawei, o pedido dos EUA se baseou na acusação de que a empresa usou uma companhia de Hong Kong para fazer negócios com o Irã, violando sanções impostas pelo Ocidente. No entanto, há meses a Huawei já estava na mira dos americanos. Agências de inteligência alegam que a empresa mantém relações como governo chinês eque seus equipamentos têm portas secretas para espionagem. Nenhuma prova foi apresentada, e a empresa nega a acusação. Mas a pressão americana levou Austrália e Nova Zelândia a banirem equipamentos Huawei na construção de suas redes de telefonia 5G. E operadoras do Reino Unido e Canadá -países que completam o grupo conhecido como "Five Eyes", de compartilhamento de informações de agências de inteligência -também excluíram os aparelhos da Huawei. A suspeita de espionagem se soma a um temor de ficar atrás na corrida tecnológica, que hoje ocorre em diferentes campos além da rede 5G, como inteligência artificial, painéis solares ou computação quântica.


No ano passado, Pequim divulgou projeto para se tornar líder no campo da inteligência artificial, ainda dominado pelos americanos. Segundo o documento, o primeiro passo é alcançar os EUA até 2020, para se tornar líder global até 2030. Nessa linha, o país respondeu por 48% dos investimentos globais em start-ups de inteligência artificial em 2017, assumindo a posição dos EUA, com 38% do montante total. No ano anterior, a participação chinesa era de apenas 11,3%.


-Acorrida tecnológica está oficializada em documentos do governo chinês. A estratégiade lesem inteligência artificia lé bastante clara ao colocar 2030 como prazo para assumira liderança global-diz Carlos Affonso, diretor do Institutode Tecnologia e Sociedade.-Em geral, no regi mede inovações, o tempo é curto, mas tangível para a China.


PESO NA BALANÇA DO PODER


Historicamente, a liderança do desenvolvimento tecnológico das revoluções industriais pesa na balança de poder. Aconteceu com o Reino Unido no século XVIII e com os EUA na segunda metade do século XX. A China, que perdeu o bonde no passado, tem uma estratégia para estar à frente da próxima onda de inovação. Batizado como Made in China 2025, o plano aprovado pelo governo há três anos pretende transformar o país de fábrica para centro tecnológico do mundo. - Muitos países possuem estratégias para a próxima geração de tecnologias avançadas, como robótica, internet das coisas, inteligência


artificial e bioengenharia, mas nenhum está agindo de forma injusta como a China - critica Atkinson. - Ninguém está roubando tecnologia ou usando subsídios para destruir competidores. A China também investe paras ero primeiro país a alcançara computação quântica. Em vez dos bits binários, esses computadores usam o movimento de partículas subatômicas para processar dados em quantidades impensáveis com as tecnologias atuais, com uma fração da energia. Em 2016, o país lançou o primeiro satélite quântico do mundo e anunciou o investimento de US$ 10 bilhões para a criação de um novo centro de pesquisas na área. Na época, o orçamento do governo americano para a tecnologia era de US$ 200 milhões anuais. O satélite ainda não tem muitas funções, mas ilustra a estratégia chinesa de dominar a tecnologia antes de outras nações. Pelo poder de processamento, os computadores quânticos tornarão os atuais sistemas de proteção cibernética obsoletos. Para o tráfego seguro dedados, a comunicação exigirá criptografia quântica, e o satélite chi nê sé a última palavra em tecnologia. No desenvolvimento de serviços de tecnologia para o dia a dia, empresas chinesas têm uma ferramenta que não está disponível para suas rivais ocidentais: o acesso aos dados pessoais da população de mais de 1,38 bilhão de habitantes do país. Diferentemente do que ocorre nos EUA, na Europa e em outros países do Ocidente, na China as regras para uso de dados pessoais de consumidores e internautas são muito mais flexíveis.


SEM CUMPRIR REGRAS DA OMC


No front do comércio exterior, os subsídios do governo chinês levantam críticas de atuação danosa à concorrência. Como exemplo dessa atividade predadora, Atkinson cita o mercado de painéis solares. A tecnologia foi desenvolvida nos EUA na década de 1940, mas, após a entrada dos chineses no setor com subsídios estatais, pouco depois da virada deste século, a indústria americana foi praticamente dizimada. -As companhias americanas, brasileiras, europeias competem umas com as outras, baseadas nas forças de mercado. Os chineses não - afirma Atkinson. - Com bilhões, ou até trilhões do governo, as empresas chinesas podem reduzir os preços a um nível abaixo do mercado e comprar tecnologias caras, com as quais não poderiam arcar. Isso é uma violação completa do espírito da Organização Mundial do Comércio (OMC). A segunda maior economia do mundo não respeita as regras que todos concordaram em seguir. Hoje, a China detém cerca de 55% do mercado global de painéis solares, com EUA, Índia e Japão somando outros 30%. O temor, diz Atkinson,é que o cenário se repita em outros setores, considerados estratégicos para a indústria do futuro. No campo da supercomputação, os EUA conseguiram retomar o topo da lista pela primeira vez desde 2012, mas os chineses têm maior número de máquinas entre as 500 mais potentes do mundo. (Com agências internacionais)


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