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O Globo Online (RJ) ( Especial ) - RJ - Brasil - 22-11-2018 - 08:49 -   Notícia original Link para notícia
Na crise, crédito para inovação se retrai

Recursos de BNDES e Finep para pesquisa e desenvolvimento recuaram R$ 10 bi em três anos, mas há alternativas no setor privado


"Vamos começar 2019 com estoque elevado e pretendemos fechar os primeiros quatro meses com a contratação deR$2 bilhões" _ Francisco Aguiar, diretor de Inovação da Finep


Pilarincontornáveldainovação, o financiamento foi enxugado pela crise. Apenas no BNDES e na Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), principais agências estatais de fomento à pesquisa e desenvolvimento, o volume desembolsado no ano passado para esse fim ficou R$ 10 bilhões abaixo do de 2014, antes da recessão. Passadas as eleições e com a expectativa de recuperação da economia, a tendência é que esse crédito volte a crescer junto com o apetite dos empreendedores. Mas quem ainda está disposto a correrriscossequeixadequeo pouco dinheiro que existe para incentivo é de difícil acesso.



Só no BNDES, o crédito à inovação totalizou R$ 2,27 bilhões no ano passado, menor volume desde de 2010 e 62% menos que no pico (2015).


-O valor absoluto, de fato, diminuiu, mas isso é natural diante da demanda menor provocada pela crise e pela própria estratégia de menores desembolsos do banco como um todo nos anos recentes. O importante é que tentamos manter o patamar de valor relativo - justifica Maurício Neves, superintendente de planejamento.


O crédito à inovação respondeu por 3,2% da atividade do BNDES em 2017, menos que nos dois anos anteriores, mas mesmo patamar de 2014. O valor é, porém, bem superior ao que havia antes disso - em 2009, por exemplo, ele representava apenas 0,4%.


Se a proporção se mantiver no ano que vem, o volume de crédito à inovação deve dobrar, uma vez que o presidente do BNDES, Dyogo Oliveira, espera que os desembolsos cheguem a algo entre R$ 140 bilhões e R$ 150 bilhões. A questão é que o comando do banco mudará de mãos. A chegada do economista Joaquim Levy, de acordo com especialistas, poderia levar a novas reduções de desembolsos. No entanto, segundo interlocutores, um dos seus focos será justamente a inovação.


Para os técnicos do BNDES, o programa é efetivo. Empresas apoiadas por seu crédito à inovação investiram de 32% a 40% mais em pesquisa e desenvolvimento do que outras, diz um estudo do banco.


Na Finep, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, os últimos anos foram de encolhimento. Em 2017, a agência desembolsou R$ 2,12 bilhões em créditos reembolsáveis, queda de 11,6% ante 2016 e apenas uma fração dos R$ 8,7 bilhões liberados em 2014. Uma das razões foi a redução de sua maior fonte, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que chegou a arrecadar R$ 5,1 bilhões em 2014 e iniciou este ano com R$ 1,1 bilhão de orçamento aprovado. Mas a crise também reduziu a demanda de empresas por financiamento.


Este ano, porém, houve reaquecimento. O volume total de novas contratações foi de R$ 1,7 bilhão, 25% mais do que em 2017.


- Conseguimos reverter uma situação de dois anos de queda. Temos mais R$ 1 bilhão em fase final de contratação -afirma o diretor de Inovação da Finep, Francisco Rennys Aguiar. - Vamos começar 2019 com estoque bastante elevado de recursos e pretendemos fechar os primeiros quatro meses com a contratação de R$ 2 bilhões.


Já o BNDES criou recentemente o programa Garagem, de aceleração de start-ups, e vai lançar no ano que vem um hub para concentrar empresas nascentes. O banco avalia a criação de um quarto fundo Criatec, carro-chefe no pilar de investimento direto em empresas de base tecnológica. Iniciados em 2007, os fundos Criatecjáestãoemsuaterceira edição, têm patrimônio de R$ 500 milhões e já investiram em mais de 70 empresas.


INVESTIDORES DE RISCO


Embora as fontes públicas de financiamento tenham encolhido, o capital comprometido em venture capital (aportes de risco em start-ups) cresceu de R$ 6,1 bilhões para R$ 8,3 bilhões entre 2016 e 2017. Os números são da Abvcap, que reúne gestoras do segmento. De acordo com o conselheiro Humberto Matsuda, embora BNDES e Finep sejam importantes, não são mais imprescindíveis ao ecossistema.


-Hoje, já há uma variedade muito grande de fontes de investimento, com investidores estrangeiros e pequenas gestoras - afirma ele. - O grande problema não é o financiamento em si, mas o ambiente de negócios. Se você não tem ambiente bom para start-up, por que alguém dará dinheiro para um empreendedor?


Apesar da variedade de opções, os empreendedores reclamam de obstáculos. Um exemplo é Emerson Martins que criou a start-up PrixPay, sistema de pagamento baseado em QRCodes.


- Procurei investidoresanjo, mas a maioria está disposto a colocar valores pequenos. Pelas linhas do BNDES, os bancos que intermedeiam o crédito me cobraram juros impraticáveis. Pela Finep, só consegui financiamento para máquinas, o que não atendia minha necessidade -conta o empresário. - No fim das contas, vendi um apartamento em Copacabana e coloquei dinheiro do próprio bolso.


Martins diz já ter investido mais de R$ 700 mil no projeto. Agora, precisa de mais R$ 500 mil para propaganda:


-Estou voltando a procurar financiamento, mas ainda não consegui. Possivelmente terei que tirar mais dinheiro do bolso para viabilizar meu sonho.



'START-UPS GERAM IMPACTO SOCIAL'


Boa parte da inovação feita hoje no mundo dá origem a novas empresas, não é gerada dentro de uma. Acostumado à relação com companhias, o BNDES busca se aproximar do universo das start-ups para seguir apoiando negócios de base tecnológica, diz a diretora de Investimento do banco, Eliane Lustosa.


O BNDES tem hoje instrumentos para ajudar start-ups a se viabilizar?


O BNDES possui um histórico de apoio ao segmento de "empresas emergentes", com crédito ou participação acionária direta ou indireta, por meio de fundos de investimento, como os Criatec. Criamos o BNDES Garagem para ser um centro de geração de novos negócios e de apoio ao longo ciclo de desenvolvimento das start-ups. O objetivo é contribuir com outros desafios importantes, como o estabelecimento de uma extensa rede de conexões para seu desenvolvimento, incluindo a aproximação com grandes empresas, parceiros, investidores, universidades.


Incentivar start-ups é uma forma de impulsionar crescimento econômico?


Com a economia digital, diversas start-ups se transformaram em grandes empresas. Atualmente, há consenso que as start-ups são loco de desenvolvimento tecnológico, de soluções inovadoras e com grande impacto social. Empregam mão de obra qualificada e alavancam a geração de negócios e riqueza.


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