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O Globo Online (RJ) ( Sociedade ) - RJ - Brasil - 20-10-2018 - 11:44 -   Notícia original Link para notícia
Escola da nova geração

Empresas usam tecnologia para ajudar estudantes


Era ainda início da manhã, e os alunos de Renata Constantinov, numa escola particular de Santo André, em São Paulo, discutiam animadamente o tema "crônica", gênero que as crianças da 4ª série, com cerca de 9 anos, tinham acabado de descobrir: -Isso que a gente vive agora podia ser uma crônica. Uma história engraçada, sem nada muito surpreendente -explicou a pequena Rafaela Okajima, mal desviando os olhos do tablet que segurava. O aparelho eletrônico não era uma distração. Era o material didático de Rafaela. Desde 2016, os alunos do Colégio Arbos usam, nas aulas de português, uma plataformadeleiturachamadaGuten. O nome é inspirado em Johannes Gutenberg, considerado o pai da imprensa, e batiza um aplicativo que reúne textos - a maioria, sobre atualidades -voltados a estudantes de diferentes idades. Criado em 2014 pela economista Danielle Brant, a plataforma pretende, segundo a própria empresa, ajudar a criar "leitores críticos". Faz parte de uma nova onda de empresas inovadoras, que aos poucos amadurecem no Brasil, e que usam a tecnologia para resolver problemas ligados a educação. O grupo recebe o apelido de edtechs (uma junção dos termos educação e tecnologia em inglês). Segundo um levantamento organizado pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb), em parceria com a Associação Brasileira de Startups (Abstartup), há 364 edtechs em funcionamento no Brasil, atuando em diferentes ramos. A maioria está concentrada nas regiões Sul e Sudeste, mas há edtechs em 27 estados brasileiros. A única exceção é o Tocantins: - O que a gente observa é um boom dessas empresas por todo o país - diz Mairum Andrade, um dos pesquisadores do Cieb responsáveis pelo estudo. Negócios que aliam tecnologia e educação não são propriamente uma novidade. Andrade explica que a primeira onda de empresas do setor -surgida antes mesmo do termo edtech ser cunhado -apareceu no Brasil em meados dos anos 1990: -A maioria atuava no ramo de hardware, oferecendo à escola soluções como lousas digitais ou, mais tarde, simulações em 3D. Coisas que estavammuitoemmodanaépoca.


PROFESSOR É O CENTRO


O número de companhias, então, era pequeno. Foi somente nos últimos cinco ou seis anos que o cenário nacional se expandiu. O crescimento foi impulsionado pela difusão da internet e dos dispositivos móveis. Hoje, a maioriadasempresasdosetortrabalha na criação de softwares usados em sala de aula. Ou na coleta e análise de dados capazes de ajudar educadores e governos a identificar problemas nas redes de ensino. A Guten, que encantava os alunos naquela manhã, esteve entre as pioneiras dessa nova vaga. A plataforma, contratada pelas escolas para ser usada por alunos e professores, oferece textos e exercícios. Quem define como o material vai ser usado é o professor. O docente também pode acessarumconjuntodedados sobre o desempenho de seus alunos. Desde a pontuação obtida em testes (jogos eletrônicos que exigem conhecimento sobre o texto trabalhado) até o tempo que o estudante dedica à leitura. As informações podem apontar dificuldades para serem trabalhadas na sala de aula: -A gente entende que o professor é a figura central no processo de aprendizagem. E que a tecnologia pode ser um instrumento para auxiliá-lo -afirma Danielle Brant. A maior parte dessas inovações, por enquanto, é utilizada em escolas particulares. O contato das empresas com a rede pública sofre de entraves provocados pela crise econômica, pela burocracia do setor e por dificuldades de conectividade: - Ainda falta acesso à internet na maioria das escolas públicas. Quando ela existe, é comum que a velocidade seja baixa - diz Andrade, do Cieb.


Há tentativas de sanar esses problemas. No final do ano passado, o Ministério da Educação criou o Programa de Inovação Educação Conectada. O objetivo é estimular que as escolas públicas adotem novas tecnologias. E criar condições apropriadas para isso. Uma das medidas planejadas é, justamente, ampliar o acesso à internet na rede pública. Paralelamente, o MEC promove uma atualização do Guia de Tecnologias Educacionais - um documento que relaciona quais tecnologias, na avaliação do órgão, são eficientes, e que serve de orientação a gestores públicos. Para as edtechs, as escolas públicas são um mercado importante. -E é, também, onde existe maior possibilidade de provocar impacto social - diz Harry Cerqueira, CEO da Tuneduc.


Criada em 2012, a Tuneduc trabalha com escolas privadas e secretarias de educação. Reúne e analisa dados educacionais (como notas do Enem) e socioeconômicos. As aplicações que a empresa cria ajudam a identificar dificuldades de aprendizagem e formular políticas públicas melhores:


- O Brasil coleta muitos dados sobre educação. Mas eles raramente são usados para melhorar o que acontece em sala de aula. Queremos preencher essa lacuna -diz Cerqueira.


Para as escolas e secretarias, essa busca por modernização impõe desafios. Num cenário de parcos recursos, é importante saber selecionar quais inovações podem trazer benefícios. Segundo Andrade, do Cieb, não há uma receita pronta: é importante que a tecnologia esteja de acordo com o projeto pedagógico da escola. E que, sobretudo, engaje os estudantes: -Essas tecnologias criam a oportunidade de a produzir conhecimento, em lugardesermeroconsumidor. Os casos de sucesso também ensinamque,porvezes,asmelhores inovações são as mais simples. O Eduqmais, da startup Mgov, tenta melhorar a educação enviando mensagens para pais de alunos de escolas públicas. São lembretes, conselhos. Ou, nas palavras de Rafael Vivolo, "empurrõezinhos" destinados a encorajar os pais a participar mais ativamente da vida dos filhos:



- A gente percebeu que mesmo pequenas inovações, se bem pensadas, podem provocar grandes saltos.


Palavras Chave Encontradas: Criança
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