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Isto é Dinheiro online ( Notícias ) - SP - Brasil - 19-10-2018 - 16:22 -   Notícia original Link para notícia
Liquida tudo

Um dos maiores símbolos do varejo americano, a loja de departamentos pede proteção contra a falência em mais uma tentativa de reviver seu passado de sucesso



Efeito Amazon: sob o comando de Edward Lampert, a Sears foi incapaz de se adaptar aos impactos da transformação do varejo



Moacir Drska



19/10/18 - 11h00



A Amazon do seu tempo. Volta e meia, essa alcunha é usada para definir parte da história da americana Sears. A referência não surge por acaso. Se a gigante do comércio eletrônico fundada por Jeff Bezos está revolucionando o varejo a partir dos bits e bytes, a Sears começou a desbravar caminhos no setor em 1886, com selos e pacotes. A empresa foi pioneira nas vendas via correio, com um catálogo que chegou a ter mais de 200 mil produtos e incluía relógios, calçados, eletrodomésticos e até mesmo casas pré-fabricadas. A estratégia antecipava em mais de um século a diversidade dos canais de e-commerce. E foi estendida aos pontos de venda a partir de 1925, quando a companhia abriu sua primeira unidade, em Chicago, dando o pontapé para a consolidação do conceito de lojas de departamento. A relação entre as duas varejistas, no entanto, não se esgota no ímpeto pela inovação. A Sears luta, há anos, para que sua relevância não fique perdida no passado. E um dos pontos cruciais para o futuro da empresa é sobreviver e se adaptar ao avanço das vendas digitais, mais conhecidos no mercado como o "efeito Amazon".



O episódio mais dramático desse desafio veio à tona na segunda-feira 15, quando a Sears pediu proteção no Capítulo 11 da lei americana de falências. A decisão foi sacramentada com a impossibilidade de a empresa pagar empréstimos de US$ 134 milhões, que venciam na data. A varejista declarou ter US$ 11,3 bilhões de passivos, ante US$ 6,9 bilhões em ativos. No processo, a empresa assegurou um financiamento de US$ 300 milhões. E informou que negocia US$ 300 milhões adicionais com a ESL Investments, fundo de Edward Lampert, CEO e, ao mesmo tempo, maior acionista e credor da Sears. "O Capítulo 11 dará mais flexibilidade para acelerar nossa transformação", afirmou, em nota, Lampert, que anunciou sua saída do cargo de CEO, que ocupava desde 2013. O executivo, que liderou a fusão c om a Kmart, em 2004, e, desde então, dita as regras na varejista, seguirá como presidente do Conselho de Administração.



Outras medidas foram divulgadas no processo. A principal delas é o fechamento de 142 lojas deficitárias até o fim de 2018. Hoje, a rede tem 697 unidades. Lampert, por sua vez, será substituído por um trio formado por Robert Riecker, diretor financeiro, Leena Munjal, executiva-chefe digital, e Gregory Ladley, presidente de vestuário e calçados da rede. Esse ponto, em particular, é visto com ressalvas por analistas. "Já vimos esse desenho no passado, quando Lampert era apenas o presidente do Conselho, mas todos sabiam quem era o verdadeiro CEO", diz Craig Johnson, fundador da consultoria americana Customer Growth Partners. "A recuperação só será bem-sucedida com um CEO de fato, especializado em reestruturação."



No pacote: entre as medidas anunciadas para conter a derrocada e ganhar uma sobrevida, a Sears vai fechar 142 lojas até o fim do ano. As liquidações nessas unidades estão previstas para começar em breve



A despeito de quem estiver no comando, não são poucos os desafios à frente. Desde a sua chegada, Lampert liderou a venda de ativos e o fechamento de lojas com o objetivo de injetar recursos em uma estratégia multicanal. Esses esforços, no entanto, nunca geraram resultados concretos. "Hoje, a Sears não tem uma operação robusta de e-commerce e suas lojas são muito próximas do que eram trinta anos atrás", diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo. Ele destaca que combater o "efeito Amazon" também passa, necessariamente, por repensar as lojas físicas. "A Sears parou no tempo. Eles seguem com formatos errados e em lugares equivocados, como os shoppings, que estão em declínio nos Estados Unidos."



Esse cenário crítico não está restrito à companhia. O avanço dessas tendências tem feito outras "vítimas" no mercado americano. Em 2017, por exemplo, a Toys R US, varejista de brinquedos, encerrou as operações de todas as suas 735 lojas, depois de pedir falência. No ano passado, o setor registrou um recorde de 7 mil pontos de venda fechados nos Estados Unidos, segundo a consultoria Coresight Research. Em 2018, o volume registrado até o início de outubro já chega a 4,8 mil lojas. Os números também não são nada favoráveis à Sears. A empresa, que chegou a ter um valor de mercado de US$ 29 bilhões, em 2007, estava avaliada em
US$ 33,7 milhões na segunda-feira 15.



Desde 2011, a varejista só registra prejuízos. De lá para cá, a rede acumulou uma perda de mais de US$ 11 bilhões (veja mais no quadro ao final da reportagem). O pedido de concordata talvez seja a última tentativa da companhia reverter esse contexto e reviver o seu passado de sucesso. Mas mesmo quem estará no comando desse novo respiro coloca essa possibilidade em dúvida. "A Sears será relegada à lata de lixo da história e 68 mil americanos perderão seus empregos. Ou a companhia entrará no próximo capítulo de sua vida como uma empresa americana icônica?", afirmou Robert Riecker, um dos componentes do trio que substituirá Lampert. A conferir.




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