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O Globo Online (RJ) ( Sociedade ) - RJ - Brasil - 29-09-2018 - 07:07 -   Notícia original Link para notícia
Excesso de tecnologia prejudica cognição

Exposição demasiada a telas e pouco sono atrapalham desenvolvimento, aponta estudo


O"dia ideal" para o desenvolvimento físico e cerebral de uma entre 5 e 13 anos deve ter de 9 a 11 horas de sono ininterrupto, ao menos uma hora de exercícios moderados e no máximo duas horas em frente a uma tela com fins recreativos. Mas poucas delas cumprem essas recomendações nos EUA - em fenômeno que especialistas acreditam se repetir no Brasil -, com o tempo de tela excessivo apresentando o maior custo em termos de desempenho cognitivo, indica estudo publicado nesta semana no periódico médico "The Lancet Child & Adolescent Health". Tendo como base essas diretrizes de "dia ideal" apontadas em 2016 pela Sociedade Canadense para Fisiologia do Exercício (CSEP, na sigla em inglês), os cientistas liderados por Jeremy Walsh, do Instituto de Pesquisas do Hospital Infantil do Leste de Ontário (CHEO), aproveitaram a divulgação dos primeiros dados de outro amplo estudo envolvendo crianças nos EUA para avaliar seu impacto na cognição delas. De acordo com o levantamento americano, intitulado Desenvolvimento Cognitivo do Cérebro Adolescente (ABCD), das 4.520 crianças com média de idade de 10 anos avaliadas, apenas 5%, ou uma em cada 20, cumprem integralmente as diretrizes do CSEP, enquanto 29% não seguem nenhuma das recomendações no seu dia a dia. Já 41% só cumpriam uma das diretrizes, e 25%, duas delas. Comparando os desempenhos cognitivos globais dessas crianças, os cientistas verificaram que, quanto maior a adesão às recomendações canadenses, melhor o resultado nos testes, com as maiores diferenças a favor das que aderiam à limitação do "tempo de tela" para fins recreativos e das que cumpriam esta e a relativa ao sono. - Descobrimos que mais de duas horas de tempo recreativo de tela estão associadas a um pior desenvolvimento cognitivo - resume Walsh. - São necessárias mais pesquisas sobre a ligação entre tempo de tela e cognição, inclusive o estudo dos efeitos dos diferentes tipos de tempo de tela, seja educacional ou de entretenimento. Mas pediatras, pais, educadores e autoridades devem promover a limitação do tempo de tela e priorizar rotinas saudáveis de sono. Clay Brites, neuropediatra e fundador do Instituto NeuroSaber, concorda. Segundo ele, os resultados do estudo são um novo alerta para pais e comunidade científica de que mais pesquisas são necessárias para jogar luz sobre se crianças e jovens podem e devem ter tanto tempo dedicado a essas tecnologias.


- Estamos apenas começando a entender os efeitos do consumo excessivo de mídias digitais no cérebro em desenvolvimento - diz. -De três a quatro anos para cá, vemos cada vez mais estudos mostrando que o tempo de tela pode levar ao desenvolvimento de sintomas de transtornos como déficit de atenção e hiperatividade. Ainda não temos certeza, mas já há evidências disso.


'FAZ PARTE DO MUNDO DELA'


Segundo Brites, embora não haja estudos ou estatísticas sobre o tempo de tela de crianças e jovens no Brasil, é provável que a situação aqui seja similar à observada nos EUA, com poucos cumprindo as diretrizes canadenses, que também não existem no país. Aqui, as únicas recomendações nesse sentido são da Sociedade Brasileira de Pediatria, que adverte que crianças com até 2 anos não devem ter qualquer tempo dedicado a esse tipo de atividade, enquanto as de 2 a 5 a devem passar no máximo 40 minutos diários em frente a esses aparelhos, sob supervisão. Acima de 5 anos, não existem orientações quanto a tempos máximos.


- As tecnologias digitais têm seus momentos, contexto e espaço para consumo, mas nada em excesso - defende. - Assim, é papel dos pais ensinar seus filhos a diversificar suas atividades, especialmente nos primeiros anos de vida. As crianças devem ter um dia a dia o mais analógico possível, com experiências presenciais, reais, concretas, de montar e construir processos, antes de ter acesso ao mundo digital. Caso contrário, como no digital tudo é mais fácil, previsível e rápido, corre-se o risco de elas virarem adultos que não vão conseguir lidar com as frustrações da vida fora do digital. Já a psicóloga Andréa Jotta, pesquisadora do Laboratório do Estudos da Psicologia em Tecnologia, Informação e Comunicação da PUC-SP, acredita que o verdadeiro impacto do consumo excessivo de mídias digitais no desenvolvimento das crianças de hoje só será conhecido daqui a dez ou mais anos, quando elas crescerem e se tornarem jovens adultos. Ela destaca, porém, que a solução não deve ser demonizar a tecnologia: -Oproblemanãoéatecnologia em si, mas que ela se torne uma fuga. A tem que ser educada fora da rede, mas também dentro dela, já que faz parte do mundo no qual ela vai viver. As redes são saudáveis como treinamento.


Palavras Chave Encontradas: Criança
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