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Portal Hoje em Dia (MG) ( Primeiro Plano ) - MG - Brasil - 06-09-2018 - 06:30 -   Notícia original Link para notícia
Negócios que desafiam o tempo: donos de lojas do século passado revelam receita do sucesso

Enquanto mais da metade das empresas fecha as portas antes de completar dois anos de funcionamento, segundo levantamento do Sebrae-MG, estabelecimentos comerciais tradicionais de Belo Horizonte resistem ao tempo e se mantêm em pé - alguns, desde a fundação da cidade. A tarefa, segundo especialistas, é árdua e o sucesso depende de preparo na sucessão gerencial, busca por produtos que atendam ao cliente e inovação. Para completar a receita, os empresários acrescentam à lista a paixão pelo negócio, que, na maioria das vezes, carrega o nome da família.

"Não existe nada mais gratificante do que saber que você é a quinta geração de uma empresa que deu certo e que o seu nome, o nome da sua família, está na placa", afirma o atual gestor da Casa Salles, Guilherme Salles.

"Empresas consolidadas por muitas décadas têm em comum a boa gestão e o forte processo de sucessão familiar. A sucessão tem que ser bem feita. Do contrário, ela pode matar o negócio"

Marcio Salvato

Coordenador do curso de Economia do Ibmec

Casa Salles

Fundada em 24 de junho de 1881 em Ouro Preto pelo tataravô de Guilherme, a loja veio para Belo Horizonte há 114 anos, em 1904, para atender aos primeiros moradores da cidade, inaugurada em 1897 nos moldes de Paris e Washington.

Naquela época, a Casa Salles era um armazém de secos e molhados que vendia de tudo: alimentos, como carne seca e farinha, ferramentas, utensílios para o lar e armas. "Belo Horizonte estava começando e não existia segmentação do comércio ainda. Oferecíamos de tudo ao cliente", ressalta Salles.

Acervo -BH

A Casa Salles está instalada no mesmo local desde que veio para Belo Horizonte, em 1904; em 1930 foi construído o prédio sobre a loja, mas a estrutura original foi mantida

Hoje, a loja comercializa armas, facas, jogos e outros. O foco mudou especialmente após a chegada da geladeira ao Brasil. O eletrodoméstico surgiu em 1913 nos Estados Unidos, mas demorou a desembarcar em solo tupiniquim. "Também ficamos um tempo sem cutelaria porque todos os metais do Brasil foram concentrados para esforço de guerra, na década de 40. Depois, começamos a diversificar os produtos e até a importar", destaca o sucessor.

Mesmo ponto

Vale destacar que o estabelecimento funciona no mesmo lugar desde o desembarque da família Salles na capital mineira: na rua São Paulo, entre a rua Caetés e a avenida Santos Dumont. "Em 1930 construímos o prédio em cima da loja, mas a estrutura original foi mantida. O centro, naquela época, era onde tudo acontecia", diz o atual gestor.

A avenida Santos Dumont e as ruas Caetés e São Paulo, aliás, concentraram grande parte do comércio da cidade no começo daquele século. A drogaria Araujo, por exemplo, nasceu ali, bem na Praça Rio Branco, hoje conhecida como Praça da Rodoviária.

"Já nascemos no conceito de drugstore, onde o consumidor encontra de tudo. Vendíamos remédios, mas também oferecíamos ao cliente coalho para fazer queijo, creolina e soda cáustica", exemplifica o neto do fundador e atual gestor, Modesto Araújo Neto.

Acervo

Fundada em 1906 na rua Caetés, a Araujo hoje tem 60% de share

Inovação

Ele destaca que a inovação está no DNA da marca, motivo pelo qual a empresa possui, aos 112 anos, 210 lojas espalhadas pelo Estado, com grande maioria concentrada em Belo Horizonte.

"Criamos o primeiro sistema de entrega da cidade, o primeiro televendas, o drive-thru e o primeiro plantão 24 horas. Hoje, temos 60% do share. Quem quer ganhar mercado tem que buscar o que o cliente quer", enfatiza Modesto.

Aos 89 anos, a proprietária da Casa Pérola, Lélia Gonçalves Bedran, viaja constantemente para encontrar produtos que agradem aos consumidores. "Vou a São Paulo, Jacutinga, Monte Sião, Petrópolis, Fortaleza e onde tiver produto que agrade o meu cliente", afirma.

Comércio no sangue

As peregrinações da empresária acontecem desde o início da loja. Ela, que tem a paixão pelo comércio no sangue, fundou, com o marido, a primeira Casa Pérola, no bairro Floresta, há 68 anos.

Até hoje Lélia está à frente dos negócios. "Vou à loja todos os dias. Os clientes me conhecem e sempre me pedem novidades. Para o negócio dar certo, o dono tem que ser muito presente, não adianta. Funcionários bons e fiéis também é fundamental. Tem uma funcionária que está conosco há 40 anos", diz Lélia.

Arquivo / Flávio Tavares

O avô de veio do Rio de Janeiro para Belo Horizonte no começo do século 20 em busca da ascensão econômica que a cidade planejada prometia

História do comércio que resiste ao passar dos anos confunde-se com a de Belo Horizonte

Quando a construção de Belo Horizonte começou a se firmar, ainda no início dos anos 1900, a avenida Santos Dumont e a rua Caetés foram definidas como as ruas do comércio. O motivo é simples. Na época, o meio de transporte utilizado era o trem, que desembarcava na Praça da Estação visitantes, novos moradores e os produtos que seriam comercializados.

Mais tarde também houve concentração de comércio acima da avenida Afonso Pena. Ali, no entanto, os produtos eram mais sofisticados. "O comércio era a alma da cidade que, ao crescer, se organizou por setores. E a Praça da Estação era o começo de tudo", afirma o pesquisador Osias Ribeiro Neves.

, presidente da (-BH) e proprietário da Casa Falci, concorda. "Toda cidade começa por um comércio e em Belo Horizonte não foi diferente. No começo do século, as pessoas da classe A iam para o Centro fazer 'footing' e olhar vitrines", explica.

Oportunidade

Foi nesse cenário de ascensão econômica e social que o bisavô de Bruno decidiu dar continuidade à empresa da família, que hoje tem 110 anos. "Ele transferiu a loja do Rio de Janeiro para a avenida Afonso Pena. Todos os prédios antigos de Belo Horizonte têm material da Casa Falci", afirma.

E a relação do comércio da família Falci com o desenvolvimento de Belo Horizonte foi muito além. "Na época, a Casa Falci tinha o único computador da cidade. O prefeito Luiz Sousa Lima ia à loja para fazer os serviços da prefeitura. Sempre tivemos uma relação muito estreita com a cidade, por isso estamos de pé até hoje", relata.

Influência no esporte

O esporte também foi impulsionado pelo varejo. O avô de Bruno, Antônio Falci, foi presidente do Palestra Itália, hoje Cruzeiro, nos anos de 1927, 1929 e 1930. E jogar bem futebol era um diferencial e tanto na hora de ser contratado pela loja. "Somos descendentes de italianos e meu avô amava o time. Ele contratava os bons jogadores pela loja e os liberava para os jogos e para treinar", comenta.

Acervo

A Lalka foi fundada em 1925; em polonês, "Laka" significa "boneca"

Boneca

Fundada em 1925, a Lalka, tradicional indústria e comércio de balas e chocolates, também é de origem estrangeira. Neto do fundador, Roberto Grochowski conta que abrir uma empresa do segmento era um sonho da família.

"Quando meus bisavós vieram da Polônia, trouxeram uma série de livros de receitas de doces. Meu avô decidiu fazer um curso de chocolates na companhia de um amigo alemão, que mais tarde fundou a Garoto. Lá, ele decidiu abrir a Lalka, que em polonês significa 'boneca'", diz Grochowski.


Palavras Chave Encontradas: Bruno Falci, Câmara dos Dirigentes Lojistas, CDL
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