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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 26-08-2018 - 09:25 -   Notícia original Link para notícia
Start-ups de crédito buscam espaço aberto por bancos

Com juros até 40% menores e menos burocracia, fintechs miram pessoas físicas e pequenos empreendedores


"O movimento desse novo canal de crédito ainda é inicial, mas vai avançar nos próximos anos"
Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper
"Há muitas empresas precisando de recursos para crescer e muita gente procurando retornos melhores"
Daniel Gomes, um dos fundadores da Nexoos


Cada vez mais conhecidas como alternativa para investimentos pessoais, as start-ups financeiras chamadas de fintechs também começam a ocupar a brecha deixada pela seletividade dos bancos na concessão de empréstimos. Financeiras digitais querem se firmar como uma alternativa para quem precisa de dinheiro e já oferecem consignado, crédito com garantia e ainda fazem intermediação entre investidores e pequenas empresas em busca de aportes de recursos para crescer. A vantagem, segundo especialistas, é que o juro cobrado por elas é, na média, 40% mais baixo que o das instituições financeiras tradicionais. A burocracia também é menor, já que as operações são feitas por meio de plataformas digitais. Cálculos feitos por especialistas indicam que a fatia de crédito oferecida pelas fintechs está em torno de 0,5% do estoque total de crédito no país, de R$ 3 trilhões -o que equivale a cerca de R$ 15 bilhões. Estimase que, nos próximos cinco anos, as fintechs de crédito possam responder por 5% do crédito nacional. Uma pesquisa da Lendico, plataforma digital de crédito pessoal, mostra que entre julho de 2017 e julho de 2018 os pedidos de empréstimo online cresceram quase 60%. - Os cinco maiores bancos respondem por 80% do estoque de crédito, enquanto os outros 20% estão com bancos médios e pequenos, incluídas as fintechs. O movimento desse novo canal de crédito ainda é inicial, mas vai avançar nos próximos anos - diz Ricardo Rocha, professor de Finanças do Insper.


MARCOS ALVESFilão promissor. Murilo Bassora, Daniel Gomes e Nicolas Arrelalga, sócios da Nexoos: fintechs devem deter 5% do estoque de crédito do país em cinco anos


BC ESTIMULA O SEGMENTO


Muitas dessas start-ups de tecnologia foram criadas por ex-executivos do mercado financeiro que enxergaram uma oportunidade de empreender num cenário de juros ainda elevados no Brasil. O espanhol Sergio Furio fundou a Creditas, que tem uma carteira de empréstimos de R$ 350 milhões e cresceu oito vezes entre 2017 e 2018. Ele trabalhava no mercado financeiro em Nova York quando descobriu que os bancos brasileiros cobram taxas de juros de até 200% ao ano nos empréstimos. Viu uma oportunidade de negócio e mudou-se para o Brasil. A Creditas oferece recursos para pessoas físicas e pequenos empreendedores que estão com as contas desarrumadas, precisam de dinheiro para ampliar seu negócio ou querem reformar a casa. As taxas de juros variam de 19% a 25% ao ano. Para dar acesso aos recursos, a Creditas exige do cliente uma garantia, que pode ser o carro dele ou a casa própria.


- Toda a operação é feita via celular, o que tona o negócio rápido - diz Furio, que em 2015 tinha 17 funcionários e hoje tem cerca de 500. O Banco Central aposta nas fintechs para aumentar a concorrência no mercado de crédito brasileiro e estimular a queda mais rápida dos juros - tanto que está regulamentando o setor. Essas empresas trabalham hoje com contratos de correspondente bancário e, com as novas diretrizes, poderão ser independentes. -O órgão regulador acredita que essas iniciativas ajudam a destravar o crédito com juros menores -diz Pedro Englert, ex-sócio da XP Investimentos e um dos fundadores da Startse, fintech que promove conexões entre investidores e empresas que precisam de capital. Para oferecer dinheiro a preço mais baixo, as fintechs captam recursos com fundos de investimento, investidores qualificados e family offices, fundos que gerem recursos de fortunas familiares. Para Miguel Ribeiro de Oliveira, coordenador de pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), quando a competição entre as fintechs aumentar, as taxas de juros por elas praticadas devem cair ainda mais. Anualizadas, as taxas delas para empréstimos pessoais variam de 23% a 45%, menores que as dos bancos, mas ainda bem acima dos 6,5% da taxa básica de juros estabelecida pelo Banco Central, a Selic. Um dos alvos desse tipo de fintech são novos empreendedores, que têm dificuldades no mercado de crédito tradicional. Artur Kenji, dono da microcervejaria Prime, tentou obter um empréstimo no BNDES, mas não tinha as garantias exigidas pelo banco de fomento. Fez uma pesquisa nos bancos privados, mas as taxas de juros eram altas demais, entre 4% e 4,5% ao mês. Acabou recorrendo à Nexoos, uma fintech que coloca em contato empresas que precisam de dinheiro para crescer e investidores que querem um retorno mais generoso que os 6,5% da taxa Selic paga pelos títulos públicos. Tudo é feito por meio de uma plataforma digital. Kenji conseguiu um empréstimo de R$ 26 mil em três dias. A Nexoos já intermediou R$ 80 milhões em financiamentos e mais de 50 mil empresas participam da rede criada por ela, que também tem 15 mil investidores cadastrados. As taxas de juros variam de 1,8% a 3,2% ao mês. O tíquete médio de empréstimo é de R$ 110 mil a serem pagos em 24 meses. - Nossa estimativa é emprestar R$ 200 milhões este ano e dar um salto para intermediar R$ 1 bilhão em empréstimos em 2019. Há muitas empresas precisando de recursos para crescer e muita gente procurando retornos melhores - diz Daniel Gomes, um dos três fundadores da empresa, com passagens pelo banco Itaú e pela gestora de recursos Rio Bravo.


FOCO EM APOSENTADOS


Pioneira das fintechs no chamado consignado, empréstimo com parcelas descontadas diretamente na folha de pagamento de quem contrata, a Geru foca no segmento de aposentados do INSS. Com taxa de 1,8% ao mês, um pouco mais baixa que a média do mercado, a start-up promete mais agilidade para os idosos, que muitas vezes se atrapalham com a burocracia e taxas cobradas pelos bancos. - Falta transparência nas operações de crédito consignado. Além de taxa de juros competitiva, queremos que o processo seja rápido e fácil, pelo celular ou pelo computador - diz Ana Carla Rodrigues, gerente do consignado da Geru.


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