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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 26-08-2018 - 09:18 -   Notícia original Link para notícia
Nas lojas, juros nas alturas

Taxa de cartões oferecidos nas redes de varejo chega ao triplo da média do mercado





"O público do cartão de loja é mais exposto à inadimplência. Então a varejista tenta compensar cobrando juros maiores"
Fabrício Winter, consultor especialista em varejo





No vácuo da retração dos bancos, redes de lojas ampliam a oferta de serviços financeiros como cartões de crédito próprios, que podem se converter em uma armadilha para os clientes: os juros são até o triplo da média do mercado. Varejistas têm ampliado os ganhos com cartões, empréstimos e até seguros. Quase ninguém sai de uma loja de departamentos sem ouvir, com certa insistência: "Deseja fazer um cartão danoss aloja "? Nãoéà toa. Com bancos avessos a emprestar diante da retomada lenta da economia e recordes de inadimplência, o varejo tenta ocupar o espaço coma oferta de serviços financeiros, como cartões de crédito próprios, empréstimos e seguros. Mas, se resolve a carência de crédito dos consumidores - muitos deles "negativados" -e turbina o lucro das redes, a estratégia pode ser uma armadilha para o cliente. Os juros dos cartões de redes de varejo -chamados private label









(sem bandeira) e co-branded (com bandeira, masco mm arcada loja )- podem chegara quase o triplo da média do mercado no país, que já é alta. - O varejo percebeu o cartão como ferramenta de fidelização e diferenciação. Enquanto o sistema financeiro tem crédito restrito, a varejista consegue proporcionar isso a um público muitas vezes desbancarizado, de baixa renda e negativado. Só que, com custos operacionais maiores e risco elevado de inadimplência, os juros são bem mais altos explica Anderson Olivares, da CSU Card System, que emite e processa cartões. Os juros de cartão mais altos do país, segundo dados do Banco Central do início de agosto, são da Da casa Financeira. A taxa do rotativo dos seus cartões é de 791,19% ao ano. Em maio, dado mais recente, a média do mercado foi de 291%. A Da casa explora o filão dos private label, cartões que não têm bandeira e só usados na loja. No Rio, atua com redes como ade colchões Sono Show e ade óticas Fábrica de Óculos. Perguntada sobre a taxa elevada, a Da casa disse apenas que atua de acordo comas regras do BC eque, apesar do alto custo do rotativo, oferece a quarta melhor taxa de parcelamento. Na Marisa, o Custo Efetivo Total (CET) dos cartões no rotativo é de 568, 46%ao ano. Na Renner, a taxa máxima é de 526,98%,segundo seu site. De acordo com dados do BC, a financeira das Lojas Riachuelo, a Midway, cobra 382,95% no rotativo. Nos cartões C&A, os juros são de 357,03%. Carlos Tamaki, diretor da DM Card, que administra cartões sem bandeira com foco em pequenas redes de supermercados, atribui ao espaço deixado pelos bancos a maior adesão de consumidores aos seus cartões. Só no primeiro trimestre deste ano, a empresa registrou R$ 812 milhões em transações, 32% mais que o mesmo período do ano passado.





O público do cartão private





label é geralmente das classes C e D, mais exposta à inadimplência. Além disso, as varejistas não recebem a chamada receita de intercâmbio, parcela de cada transação recebida pelos bancos que emitem cartões. Então, a varejista tenta compensar essas questões cobrando juros maiores - diz Fabrício Winter, da consultoria Boanerges & Cia. Além do maior risco de inadimplência, o custo de captação contribui para juros mais elevados. Enquanto bancos contam com depósitos dos correntistas para financiar suas operações de crédito, as financeiras buscam alternativas mais caras. A DMCard recorre à emissão de títulos de dívidas (debêntures), por exemplo.





CARTÕES TURBINAM LUCROS





O universo de private label é ainda pequeno - responde por 7% do mercado -, mas vem crescendo nesta década. Segundo a Boanerges & Cia, eles intermediaram R$ 94 bilhões no ano passado, 38% a mais do que em 2010. Os cartões de crédito com bandeira cresceram 46% no período, tendo movimentado R$ 735 bilhões em 2017. Parte disso inclui os co-branded, que têm a marca da loja, mas podem ser usados em qualquer lugar. - A tendência é a substituição dos private label pelos





co-branded, que têm maior apelo junto aos consumidores e apresentam custo de operação muito próximo - diz Antonio Cerqueiro, da consultoria Bain & Co. As redes também têm usado os serviços financeiros para compensar a redução das





margens com as vendas em tempos difíceis. A participação dos serviços financeiros cresce nos resultados das empresas. Na Marisa, a geração de caixa operacional com eles foi de R$ 107,7 milhões no primeiro semestre, enquanto a do seu segmento de varejo ficou negativa em R$ 18,1 milhões. Além de cartão, a rede oferece empréstimos, assistência odontológica e até seguro contra furto de bolsa (desde que o cartão Marisa esteja dentro dela).





Na rede de supermercados Carrefour, o faturamento com cartões próprios saltou 36,2% no primeiro semestre, para R$ 11,9 bilhões. Na Riachuelo, a fatia dos serviços financeiros na geração de caixa subiu de 42,5% para 53% no primeiro semestre. Nenhuma dessas varejistas quis falar sobre o assunto. Além de conceder menos crédito, os bancos abriram mão de grande parte desse mercado. Em 2005, houve uma forte procura dos bancos









pelos varejistas, que eram vistos como um canal privilegiado para chegar à classe C. Mas a relação azedou por volta de 2012 com a insatisfação dos bancos com os resultados, fechando centenas de parcerias. Hoje, operam praticamente apenas com grandes redes, o que abriu espaço para administradoras regionais. Agora, até as start-ups estão de olho no filão: em junho, a fintech Trigg entrou no mercado de private label com duas aquisições.


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