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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 20-08-2018 - 07:49 -   Notícia original Link para notícia
Na corrida da internet das coisas

Brasil investe abaixo da média mundial para tentar conectar objetos


Obaixo nível de investimentos em telecomunicações no Brasil nos últimos anos vai fazer com que o país chegue atrasado na corrida mundial da chamada internet das coisas. Enquanto vários países aceleram os planos para lançar redes ultrarrápidas que permitem ampliar a conexão de objetos para gerar ganhos de produtividade, o Brasil destina menos recursos que a média mundial. Estudo da Huawei, gigante chinesa de infraestrutura de telecom, aponta que por aqui o ritmo de expansão de fibra ótica é cerca de um terço do que é feito no resto do mundo. A oferta de data centers é outro gargalo: cresce no Brasil a um ritmo 50% menor que a média internacional.


Esse cenário já se reflete na projeção de crescimento da internet das coisas no país. Dados da GSMA, a associação internacional do setor de telefonia, apontam que o volume de objetos conectados no Brasil vai aumentar 13% até 2022, para 266 milhões de aparelhos em geral, incluindo carros e eletrodomésticos, por exemplo. A previsão é inferior à de países desenvolvidos como Estados Unidos (45%), França (32,5%) e Alemanha (23%). O país também fica atrás de emergentes como China (28%) e México (19%).


Para Julio André Sgarbi, consultor da Huawei para a América Latina, o Brasil investe pouco na preparação para a economia digital. Ele explica que o país precisa desenvolver uma infraestrutura que permita a criação de um ecossistema para a internet das coisas envolvendo operadoras de telecomunicações, fabricantes de dispositivos e indústria:


- O investimento hoje é centrado na estratégia das teles, que é a telefonia móvel. O resto acaba ficando em segundo plano. Veja o caso dos data centers, necessários para a economia digital. As empresas até fizeram um investimento, mas como o retorno inicial não foi o planejado, pisaram no freio. O Brasil hoje investe bem menos que o necessário para se tornar uma economia digital.


POTENCIAL DE CRESCIMENTO


Se o país está atrasado, por outro lado o potencial de crescimento é alto, dizem empresas do ramo. Bertrand Ramé, vice-presidente da Sigfox, uma companhia especializada em objetos conectados que tem a espanhola Telefónica entre os acionistas, diz que o plano da companhia é largar na frente, criando soluções e fomentando o mercado no Brasil. Ele cita casos como sensores na agricultura que ajudam a aumentar a produtividade da plantação ou de equipamentos nas lixeiras das cidades que ajudam a medir o volume do lixo, ajudando a reduzir os custos com coletas desnecessárias. Mais para isso ocorrer, afirma, é preciso aprofundar a relação entre teles e fabricantes de equipamentos.


- Serão investidos no Brasil mais de US$ 50 milhões até 2019 na construção de rede. Mas é preciso buscar mais parceiros. É isso que estamos fazendo agora. Temos que incentivar a produção de sensores no Brasil. Hoje, a Europa tem mais potencial, pois a rede é mais desenvolvida. Aqui, estamos ainda desenvolvendo - destaca Ramé, que pretende chegar a 60 países até dezembro deste ano.


Com a chegada da rede 5G ao Brasil, Amadeu Castro, diretor da GSMA no país, lembra que será preciso aumentar o número de antenas no país. Hoje, há cerca de 90 mil unidades, segundo a Telebrasil, associação das companhias do setor. Castro lembra que a chegada de objetos conectados vai exigir uma rede de maior capacidade.


- Hoje já temos uma carência com o 4G. E com o 5G isso vai aumentar, pois mais capacidade vai exigir mais antenas, que vão consumir mais eletricidade. No futuro, para que o país seja de fato uma economia digital será preciso ter antenas ao longo das ruas para que os objetos fiquem de fato conectados - afirma Castro.


Chris Battalard, presidente-executivo da operadora WND, que é focada em internet das coisas, lembra que é preciso estimular a própria demanda no Brasil. Ele lembra do potencial de setores como agricultura, logística e transporte. Por isso, a companhia, diz ele, vem instalando rede em municípios com mais de 200 mil habitantes e cidades do CentroOeste, polo do agronegócio. Hoje, a empresa já está presente em 500 cidades no Brasil. Com sede no Reino Unido, a companhia atua ainda em dez países da América Latina.


- A tecnologia vai permitir um avanço da produtividade. Por isso, é importante escolher os setores que serão desenvolvidos e fornecer soluções, como a agricultura. Vamos investir US$ 80 milhões até o final de 2019 em todo o mundo. E o Brasil vai representar cerca de 60% desse total. O maior desafio é desenvolver uma tecnologia que seja barata o suficiente para que as pessoas consigam tê-las em seu dia a dia -diz Battalard.


NÃO BASTA A REDE


Mas não basta apenas oferecer internet, argumentam consultores. O especialista Christopher Fourtet avalia que é preciso desenvolver sistemas com inteligência artificial capazes de processar e refinar os dados que navegam na rede, o que tende a tornar os investimentos mais altos. Para ele, a infraestrutura, como a fibra ótica, precisa ser capaz de processar esse tipo de informação em tempo real para centenas de milhares de aparelhos conectados:



-Esse é o próximo desafio. A rede precisa fazer seu próprio processamento. O setor precisa buscar novas tecnologias. O próximo passo é começar a desenvolver soluções que não necessitem de baterias e que consigam acumular energia com o sol. Já existem soluções sendo feitas nesse sentido. Sem isso, não haverá avanços sobretudo em países onde o investimento é baixo. O investimento em pesquisa é essencial para que essa transformação ocorra.


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