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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 19-08-2018 - 13:34 -   Notícia original Link para notícia
De volta à direção

Empresas planejam frota própria





"Além de a tabela da ANTT ter problemas, o STF pode invalidar tudo. É difícil tomar uma decisão agora"
Maurício Lima, especialista em logística da consultoria Ilos





Para fugir do aumento dos custos do transporte de cargas com o tabelamento criado pelo governo para acabar com a greve dos caminhoneiros, em maio, empresas fazem as contas em busca de alternativas. Algumas já investem em caminhões próprios e outras buscam a navegação. Para fugir da alta de custos gerada pelo tabelamento dos fretes, criado pelo governo para acabar com a greve dos caminhoneiros em maio, empresas buscam alternativas. Em alguns setores, o preço tabelado representa aumentodeaté100%noscustos com transporte. Por isso, empresários planejam criar frotas própria de caminhões ou alugar veículos para reassumir o controle da logística. Ainda não é possível dimensionar esse movimento, mas, a depender do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a constitucionalidade do tabelamento no próximo dia 27, a tendência deve ganhar impulso. - Há empresas estudando a compra de caminhões novos, outras estão alugando e um terceiro grupo está arrendando. Se o STF considerar o tabelamento constitucional, as companhias vão intensificar as compras e o aluguel para fugir do aumento de custos - avalia Edeon Vaz Ferreira, diretor do Movimento Pró Logística de Mato Grosso.





ENTREGA DE MOTO E A PÉ





A JBS, uma das líderes globais em alimentos, já decidiu comprar 360 caminhões para reforçar sua frota própria - que passa de mil veículos. Em nota, a companhia controlada pelos irmãos Batista explicou que a decisão faz parte de uma estratégia para reduzir "os impactos de custo causados pela aplicação do tabelamento do frete rodoviário". Dependendo do setor e da região, o tabelamento provocou alta nos custos entre 30% e100%. Segundo Maurício Lima, especialista da consultoria Ilos, o setor de cimento é um dos que viram seu custo com frete dobrar. -Para as cimenteiras, a frota própria pode valer a pena porque o transporte representa 31% do preço do produto. Outra alternativa é alugar caminhões com motoristas próprios ou contratar uma frota dedicada. Neste momento, as empresas ainda estão fazendo as contas. Além de a tabela da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) ter problemas, o STF pode invalidar tudo. É difícil tomar decisão agora. Há uma insegurança muito grande. Produtores de soja e milho estimam um custo extra de US$ 2,4 bilhões (cerca de R$ 9,3 bilhões) sobre os 118 milhões de toneladas que devem ser exportados este ano, diz a Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec). - Calculamos, por baixo, um custo adicional de US$ 20 (R$ 78) por tonelada. Há o risco de o Brasil deixar de ser o segundo maior exportador de milho do mundo por conta do aumento do frete - diz Sergio Castanho Teixeira Mendes, diretor-geral da Anec. A Amaggi, maior empresa nacional de comercialização de grãos, cogita comprar entre 300 e 500 veículos novos. Hoje, 100% da frota usada pela companhia são terceirizados. Cada veículo próprio representa um investimento de até R$ 600 mil. A Amaggi precisa de 5.000 caminhões para as movimentações envolvidas em suas operações. Em 2017, movimentou cerca de dez milhões de toneladas. - Para os produtos que já haviam tido seu preço definido, o impacto financeiro (do aumento do frete) deverá ser bastante significativo -estima o presidente executivo da Amaggi, Judiney Carvalho. A Cargill, gigante do agronegócio, está orçando a compra de mil caminhões. Números da Fenabrave, associação que representa os revendedores de veículos, mostram aumento da venda de caminhões este ano,comagrevedoscaminhoneiros em maio. Entre janeiro e julho foram vendidas 39.005 unidades, contra 29.981 no mesmo período de 2017.









Já a Via Varejo -que reúne Casas Bahia e Pontofrio - busca outras saídas. Estabeleceu que fabricantes devem entregar mercadorias nos seus centros de distribuição mais afastados, sem passar por suas unidades de São Paulo e Rio, de onde os produtos eram transportados por terceirizados. E fez parceria com a Eu Entrego, rede de aplicativos que conecta entregadores independentes a empresas. O produto pode ser entregue de carro, moto, bicicleta ou a pé. Para isso, a Via Varejo transformou pelo menos 70 lojas em pequenos centros de distribuição, reduzindo a demanda por caminhões. -Reduz custo, a chance de avarias e a entrega é mais rápida. É uma mudança que já havia começado e ajudou a contornar a greve - diz Edgard Filho, diretor de operações logísticas da Via Varejo.



Na fuga do caminhão, companhias buscam navios



Empresários fazem mais consultas a operadoras de cabotagem, cuja movimentação de cargas cresceu 4,5% no 2º trimestre



Em busca de saídas para diminuir a dependência da contratação do frete de caminhoneiros, segmentos que dependem do transporte de longa distância -como os de eletroeletrônicos, petroquímicos e alimentos e bebidas, -intensificaramasconsultas a operadores de cabotagem, modal historicamente subaproveitado no país. Dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) mostram que a navegação cresceu 4,5% no segundo trimestre, quando ocorreu a greve dos caminhoneiros, na comparação com o mesmo período de 2017. Esse percentual corresponde a 1,6 milhão de toneladas a mais transportadas em navios. Angelo Baroncini, diretorpresidente da Norsul, diz que a companhia de navegação foi procurada para manter rotas de transporte marítimo com regularidade para produtos siderúrgicos, que eram transportados por caminhões entre Sudeste e Sul do país. - Esse processo de conversão da carga rodoviária já vem ocorrendo há algum tempo, masaprocuraaumentouapós a greve - confirma Márcio Arany, diretor da Log-In. A navegação é mais barata, mas o setor ainda enfrenta dificuldades estruturais para deslanchar, como excesso de burocracia, falta de dragagem de portos e alto custo de armazenagem. Maurício Lima, especialista da consultoria Ilos, explica que a cabotagem é o modal que tem mais capacidade de absorver cargas das rodovias porque houve expansão recente de terminais, hoje com capacidade ociosa. Mas observa que a contratação da modalidade é mais complexa e precisa ser combinada com o transporte rodoviário, para chegada e saída dos portos. Os móveis feitos em São Caetano do Sul (SP) pela Bartira, da Via Varejo, começaram a ser transportados para o Nordeste por via marítima. A prática adotada após a greve já representa uma economia de 30% a 35%, segundo Diclei Remorini, diretor da empresa: -Ainda não há tantos horários de navios disponíveis. O gerente de infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Wagner Cardoso, também observou mais empresas estudando planos de cabotagem, mas destaca que só vale a pena para longas distâncias. Até 600 quilômetros, o caminhão continua a melhor solução. Para o presidente da Associação Brasileira de Cabotagem, Cleber Cordeiro, a greve dos caminhoneiros representou uma "crônica de uma morte anunciada". Para ele, é inevitável a redução da concentração da matriz brasileira de transporte no modal rodoviário. Hoje, o país escoa 63% da produção por rodovias, 21% por ferrovias e só 13% em transporte aquaviário. Na China, mais de 50% da produção viajam de navio.



Três meses após greve, tabela com preço mínimo ainda não é cumprida



Três meses após a greve dos caminhoneiros, o tabelamento do frete, principal medida do governo para acabar com a paralisação e que desagradou ao setor produtivo, não está sendo cumprido, de maneira geral, pelas empresas. Entre maio e agosto, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), recebeu 2.850 reclamações de caminhoneiros por descumprimento. O órgão, no entanto, informou que o descumprimentonãoépassíveldemulta. Segundo líderes da categoria, o problema ocorre em todas as regiões e em vários setores, como agronegócio e indústria. - Existem muitas empresas que não estão pagando o valor mínimo, e caminhoneiros que não exigem o cumprimento da tabela por medo de ficar sem frete - diz Carlos Alberto Litti Dahmero, presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (Sinditac), de Ijuí (RS). Os empresários alegam que a tabela criada pela ANTT tem distorções e é "inexequível" diante do impacto no custo do transporte rodoviário. Além disso, como o STF ainda vai decidir se o tabelamento é constitucional, muitas empresas preferem não segui-lo. O presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos, Diumar Bueno, espera maior adesão quando uma nova tabela sair considerando, por exemplo, diferentes tipos de carga. Outros dois compromissos do governo com os grevistas não saíram do papel como previsto. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já fez duas tentativas para contratar frete para quase 70 mil toneladas de alimentos e cumprir a reserva de 30% de sua demanda para cooperativas, mas só uma se inscreveu. Já os preços do diesel caíram, em média, só R$ 0,10 nos postos, bem menos que os R$ 0,46 por litro acertados.


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