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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 14-08-2018 - 07:35 -   Notícia original Link para notícia
Crise se agrava e cria instabilidade nos emergentes

Com desvalorização de 7,31% da lira ante a moeda americana, crise turca volta a contaminar os emergentes. Dólar sobe 0,82% no Brasil. A crise financeira na Turquia voltou a contaminar os mercados globais ontem, pressionando sobretudo as moedas de países emergentes. No Brasil, o dólar comercial avançou 0,82%, a R$ 3,896 - tendo atingido, na máxima do dia, R$ 3,926. Na Turquia, o dólar saltou 7,31%, cotado a 6,897 liras turcas. No ano, a lira já caiu mais de 40%. Foiamoedacom o pior desempenho global, segundo dados da Bloomberg News. O Dollar Index, da Bloomberg, que mede a divisa frente a dez moedas, atingiu o maior valor em mais de um ano e avançou 0,23%.



Fonte: Bloomberg Editoria de Arte



Enquanto acompanha o desenrolar da crise, o governo brasileiro não planeja, neste momento, atuar no mercado, segundo integrantes da equipe econômica. Mas assegura estar pronto para atuar em caso de excesso de volatilidade.



O Banco Central da Turquia anunciou medidas para garantir a liquidez dos bancos, com uma injeção de US$ 6 bilhões no sistema bancário e a redução dos limites de reservas de divisas. Mas não adiantou. O que o mercado mais esperava, a alta das taxas de juros, não veio. Desde junho, a taxa básica da economia está em 17,75% ao ano.



Nafez Zouk, economista para Turquia e Rússia da Oxford Economics, diz que são necessárias medidas drásticas para resolver a crise turca:



- Estas devem incluir aumentos agressivos das taxas de juros; um pacote de consolidação fiscal nos gastos; assistência aos setores atingidos pelo colapso financeiro; e sinais de que o país está disposto a reduzir as tensões geopolíticas, principalmente com os EUA.



'TIRO EM NOSSO PÉ'



O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, já se manifestou várias vezes contra os juros altos. Ele atribuiu o tombo da lira a uma conspiração externa. Em discurso, Erdogan criticou os Estados Unidos, que, na sexta-feira, dobraram as tarifas sobre o aço e o alumínio da Turquia, como forma de pressionar o governo turco a libertar um pastor americano preso.



- De um lado, vocês estão conosco na Otan(a liança militar) e, de outro, tentam esfaquear seu aliado estratégico pelas costas. É aceitável algo assim? - afirmou. - Por um lado, dizem ser nosso sócio estratégico e, por outro, dão um tiro em nosso pé.



Ele prometeu ainda tomar medidas contra quem divulga notícias falsas, como a que o país precisará em breve adotar controle de capital:



- Há terroristas econômicos nas redes sociais. Nós faremos aqueles que estão espalhando especulações pagar o preço necessário.



Os principais índices de ações caíram. A Bolsa de Istambul teve queda de 2,38%. Na Europa, a principal preocupação é com os bancos, que têm muita exposição à Turquia. O FTSE, de Londres, perdeu 0,32%, e o CAC, de Paris, 0,04%. Em Frankfurt, o DAX caiu 0,53%, e o Ibex, de Madri, recuou 0,75%.



- Muitos bancos europeus estão expostos à divida pública turca, mas o efeito imediato é na categoria de moedas emergentes. Não quer dizer que vá arrastar outros países, mas, se o dólar começara flertar com os R $4, talvez o Banco Central tenha motivos para avaliar alguma intervenção - disse Cleber Alessie, operador da corretora H.Commcor.



Em Nova York, o Dow Jones teve queda de 0,50%, e o S&P 500, de 0,40%. A Bolsa eletrônica Nasdaq perdeu 0,25%.



No Brasil, o índice de referência





Ibovespa avançou 1,28%, aos 77.496 pontos. Segundo especialistas, depois de cinco quedas seguidas e coma alta do dólar, as ações brasileiras acabaram ficando baratas para os estrangeiros. Masa percepção de risco associada ao Brasil e medida pelo credit default swap (CDS, espécie de seguro contra calote da dívida) saltou de 236 para 252 pontos. (Colaborou Manoel Ventura)



Governo turco é primeira vítima de Trump



Aturbulência econômica da Turquia não surgiu de repente. É resultado da instabilidade política -o país passou por uma tentativa de golpe de Estado, pela mudança do regime e por eleições presidenciais antecipadas -e de uma deterioração do quadro fiscal. O afluxo de recursos estrangeiros minguou quando os Estados Unidos começaram a elevar sua taxa básica. Juros maiores nos EUA levam investidores a tirarem recursos de mercados emergentes, onde a taxa é maior, mas o risco também.



O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, já declarou várias vezes não apreciar os juros altos. E analistas de mercado veem o fato de o Banco Central do país não subir os juros -o que poderia conter a desvalorização da moeda e combater a inflação -como sinal da interferência de Erdogan na economia. Afinal, ele nomeou seu genro para o Ministério da Fazenda.



O desentendimento com os EUA só agravou a percepção de risco para os analistas. As desavenças começaram na guerra na Síria.



Mais recentemente, o presidente Donald Trump exigiu a libertação do pastor americano Andrew Brunson, acusado de espionagem e terrorismo pela Turquia. Os dois países buscaram uma solução diplomática, sem sucesso.



Trump, então, recorreu a uma de suas armas favoritas: sanções comerciais. Dobrou as tarifas sobre o aço e o alumínio da Turquia. O aço é o quarto produto da pauta de exportações turcas e, em 2017, os EUA foram seu principal comprador: ficando com uma fatia de 13%.



Os investidores estrangeiros veem os emergentes como um bloco. Turbulência em um dos países alimenta a percepção de risco para os demais, e os recursos são levados para ativos de menor risco, como os títulos do Tesouro americano.


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