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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 29-07-2018 - 09:19 -   Notícia original Link para notícia
O desafio da tecnologia

20 ANOS DEPOIS DA PRIVATIZAÇÃO





A internet móvel do Brasil é uma das 50 mais caras do mundo, mas ainda é lenta





Em duas décadas, com o fim do monopólio da Telebrás, o Brasil foi do telefone fixo raro e caro ao celular conectado com a internet, onipresente nas grandes cidades. Agora é preciso ir além, e completar a transição da telefonia para a tecnologia. RIO E BRASÍLIA / Exatas duas décadas após a privatização do Sistema Telebrás, o Brasil é um país mais conectado. É difícil encontra rum brasileiro sema companhia de um celular, que se tornou o principal me iode conexão coma internet. O modelo que permitiu a concorrência ampliou o acesso, mas o investimento não foi suficiente para acompanhara velocidade das inovações tecnológicas. A qualidade dos serviços ainda é baixa e as tarifas são altas, aprofundando desigualdades. As empresas têm pela frente o desafio de completara transição entre telefonia e tecnologia, já que o consumo de serviços de telecomunicações mudou radicalmente no período.





Trama urbana. Com o fim do monopólio estatal, o acesso aos serviços de telecomunicações se ampliou, conectando cidades como Brasília. A capital federal tem a maior concentração de celulares do país: 161 para cada cem pessoas





Se há 20 anos só tinha telefone fixo e celular quem podia pagar entre US $1 mile US $4 mil - ainda que tivesse que esperar muito pela instalação -, hoje o serviço fixo foi universalizado e há mais linhas móveis do que gente no país. Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações( A natel ), o Distrito Feder aléa área com mais celulares emu sono Brasil. São





161,02 linhas para cada cem habitantes. Em seguida vêm São Paulo (138,61) e Rio de Janeiro (123,49).





A espera agora é pela internet. Segundo dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil, quase 40% das famílias não têm acesso à rede. E para quase metade delas, o principal motivoéo preço alto. Entre os mais pobres, em muitos casos, nem há infraestrutura para viabilizara conexão. Para 4 milhões de brasileiros, nem a internet móvel é possível porque não há uma antena sequer perto de casa.





Estudo da União Internacional de Telecomunicações, das Nações Unidas( ONU ), mostra que o Brasil tema50ª tarifa de internet no celular mais alta numa lista de 188 nações. São US$ 19,19 (cerca de R$ 71) mensais, média superior à da Argentina (US$ 10,16), do México (US$ 7,98) e de Portugal (US$ 10,50). Já a média da conta mensal de celular no Brasil (voz e dados) é de US$ 11,16( cerca deR$41),a93ª mais cara entre 196 nações.





BAIXA VELOCIDADE





Enquanto isso, a qualidade ainda deixa a desejar. Desde a privatização, as empresas originadas da Telebrás investiram cerca de R$ 19,4 bilhões por ano, de acordo coma Tele brasil,





a associação que reúne as companhias do setor. Não foi suficiente, dizem especialistas. O resultado cada brasileiro pode sentir na palma da mão, na velocidade de conexão do celular. A da nova rede 4G no Brasil aparece em 52º lugar num ranking da consultoria britânica OpenSignal, que avalia 88 países. Na banda larga fixa, o país fica na 79ª posição entre 200 nações, segundo a americana Akamai.





- O brasileiro sofre com o alto custo médio da internet e a renda mais baixa que a de outros países. Como o processo de privatização trouxe a obrigação de universalização da telefonia fixa, a gente conseguiu expandir essa infraestrutura. O aspecto negativo é que os serviços de maior valor agregado ainda têm qualidade precária - avalia Pablo Cerdeira, coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getulio Vargas (CTS/FGV).





Em defesa das empresas, Eduardo Levy, diretor-executivo da Telebrasil, diz que o investimento anual poderia saltar para cerca de R$ 35 bilhões por ano se o governo atualizasse o marco regulatório. Mesmo com as radicais transformações tecnológicas das duas últimas décadas, a regulação ainda prioriza





a telefonia fixa como serviço essencial, obrigando as empresas a seguir investindo num modal que cada vez menos gente usa.





Muitas famílias preferem ter apenas celulares, com os quais se comunicam cada vez mais com amigos e familiares por mensagens de texto ou áudio pela internet. O





Brasil é um dos países de maior sucesso do WhatsApp.





- Hoje não há antenas em distritos porque a lei diz que não é preciso. Está errado. É urgente atualizar o marco e transferir os investimentos em telefonia fixa para a banda larga. Ao fazer isso, cria-se um novo ciclo de investimento, que permitirá melhora da qualidade. A telefonia é o maior programa de inclusão social do Brasil nos últimos





20 anos -diz Levy.





Não fosse a privatização, diz o especialista Hermano Pinto, talvez o Brasil ainda não tivesse universalizado nem os serviços fixos:





-As teles locais não teriam uma coordenação, o que iria atrasar achegada de novas tecnologias. Isso sem considerar os prováveis problemas causadospela influência política nas empresas. Era um pesadelo.





Para o presidente da Anatel, Juarez Quadros, as tarifas no Brasil são altas por causa dos impostos. Segundo ele, em média, 43% das tarifas são compostas por tributos, pouco mais do que calcula o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT): 37%. Em algumas regiões do Brasil, como no Norte, a carga tributária chega a 60%, dizem asem presas. O grande vilão dessa contaéoIC MS, cobrado nos estados.





- No ranking dos tributos, estamos na antepenúltima posição entre os países de porte. O consumidor de telecomunicações brasileiro é altamente afetado pelo tributo. Como preço para mim é qualidade, isso afeta a avaliação da prestação do serviço -diz Quadros.





Um estudo do pesquisador do Ipea Mário Jorge Mendonça mostra o impacto que o









acesso das pessoas à internet e na tem economia, na vida promovendo ganhos de produtividade. Segundo o trabalho, com cada 1% de aumento de investimento em banda larga seria possível garantir um crescimento de 0,19 ponto percentual do PIB. Mendonça critica a alta carga tributária: - Desde 2002 cerca de 60% do valor adicionado, R$ 1,18 trilhão, foi apropriado pelo Estado na forma de tributos. Não há como dizer o que teria acontecido se a carga tributária tivesse sido menor ou reinvestida no setor. Os investimentos no setor ainda são insatisfatórios. O secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, André Borges, avalia que, sem os impostos, as tarifas ficariam "razoáveis". Mesmo assim, o governo não tem planos para desonerar o setor. Em vez disso, os fundos setoriais bancados pelo consumidor são contingenciados para ajudar a cobrir o rombo nas contas públicas. - O que se paga de ICMS numa comunicação é esdrúxulo, na contramão de qualquer política de universalização. A carga tributária repassada ao consumidor é elevada, onera quem explora o serviço. Criamos um troço quase insolúvel -admite Borges.





UMA DIFÍCIL TRANSIÇÃO AO DIGITAL





A relação do brasileiro com o celular mudou. Novas tecnologias entram no cardápio das empresas, como streaming, 5G e internet das coisas. Mas, para chegar lá, precisam investir mais e superar a perda de receita com serviços tradicionais



Obrasileiro, cada vez mais vidradonas telas do celular, fala menos ao telefone. Alternativas como o Skype e o WhatsApp mudaram o comportamento e fizeram cair o número de clientes e a receita das empresas com voz. Para sobreviver, elas se esforçam para se transformar em companhias de tecnologia. O objetivo é elevar o faturamento como desenvolvimento de sistemas de armazenamento de informações na nuvem, inteligência artificial e soluções para analisar milhares de dados ao mesmo tempo. Mas essa transição não tem sido fácil.



Segundo especialistas, a busca por novos mercados é essencial. Pesquisa da Huawei revela que só a internet móvel terá crescimento de 12% anual nos próximos três anos. A TV por assinatura deverá ficar estável, e a voz vai recuar 13%, seguida pelas mensagens SMS (-12%).



- Para crescer, as teles precisam sair do tradicional emigrar para o digital, investindo em serviços de streaming de música, de games e soluções para conectar objetos, a chamada internet das coisas - diz Julio Sgarbi, consultor da Huawei para a América Latina.



Enquanto essa transição não acontece, não há perspectivas de aumento do consumo dos serviços tradicionais dessas empresas, o que prejudica sua capacidade de investimento num setor que demanda constantes atualizações tecnológicas e de infraestrutura. A receita das teles deve fechar 2018 em cerca de R$ 235 bilhões, mesmo patamar do ano passado.



A aposta ocorre no momento em que as teles amargam uma das menores gerações de caixa do mundo, de acordo com estudo do Bank of America Merrill Lynch: em uma lista de 50 nações, as brasileiras só estão à frente das de Peru, México, Índia, Turquia, Holanda, Israel e Reino Unido.



Eduardo Tude, presidente da consultoria Te leco, destaca que Vivo, TIM, Claro e Oi somam dívidas de quase R$ 110 bilhões. Disso, a Oi, protagonista da maior recuperação judicial da América Latina, responde por R$ 64 bilhões.



- As teles tentam cortar custos e aumentara eficiência em seus processos com novos serviços -diz Tude.



PORTFÓLIO DE SERVIÇOS



Douglas Benitez, diretor da Qualcomm, também destaca que as companhias já estão se estruturando para ter cada vez mais soluções de serviços de tecnologia em seu portfólio. Mas ressalta que, para ganhar mais clientes, será necessário aumentar os investimentos:



-Toda essa transformação acontece em velocidade muito grande. A maior delas vai ocorrer com a internet das coisas e o 5G, pois tudo estará conectado 100% do tempo. Nesse processo, as teles têm um desafio econômico, pois será necessário investir em mais antenas, por exemplo.



De olho nos números, as empresas pisam no acelerador. O grupo América Móvil, dono da Claro, Embratel e Net, criou uma diretoria específica para internet das coisas, que conecta objetos como automóveis e eletrodomésticos. José Félix, presidente do grupo, cita como apostas soluções como big



data e machine learning. - Estamos reestruturando a nossa infraestrutura para que a rede fique mais potente. Assim, vamos conseguir vender novos serviços. Queremos gerar oportunidades em agricultura, cidades inteligentes e saúde - diz Félix. - O que foi privatizado perdeu valor com a internet. A indústria de 1998 não existe mais.



A Oi criou uma incubadora, chamada Oito, para investir em empresas da área digital. O objetivo, disse Carlos Eduardo Monteiro, diretor da tele, é ajudar a criar novos aplicativos e mais receitas. Eurico Teles, presidente da Oi, destaca a necessidade de elevar o investimento em rede:



-Nos últimos vinte anos, o mercado mudou bastante. Houve não só a universalização da telefonia fixa como um avanço acelerado da móvel, e, hoje, a demanda da sociedade é por banda larga de alta velocidade.



Nesse novo cenário, o presidente da Telefônica Vivo, Eduardo Navarro, cita o aumento no investimento em fibra ótica para se preparar para o futuro. Ele acredita que, com a revolução digital, nos próximos vinte anos as empresas vão se voltar para a gestão da informação de dados:



- Com a revolução digital, tudo vai estar conectado. Por isso, temos que preparar a matéria-prima, que é a conectividade. O desafio é a necessidade de renovar a rede constantemente. O serviço que a gente vendia era a voz fixa e páginas amarelas. Com a internet, tudo mudou. As empresas tiveram que se reinventar.



Mario Girasole, vice-presidente da TIM Brasil, observa que esse novo futuro é cercado de desafios para as companhias. Ele cita como um dos principais a busca por um modelo rentável de negócios para a internet das coisas e a tecnologia 5G:



-É preciso alterara legislação, pois hoje atelefo ni aé de serviço móvel pessoal. Mas, coma internet das coisas, tudo muda. Enquanto isso, investimos em banda larga residencial sem fio, já que a rede pode entregar uma experiência boa em cidades menores.



Segundo o consultor em telecomunicações Hermano Pinto, abaixa rentabilidade das teles no Brasil pode ser atribuída à falta de agilidade para lançar serviços. Em alguns casos, diz, um novo produto não chega ao consumidor antes de um ano:





- É preciso que as companhias criem receitas. Mas isso requer mais investimento


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