São Paulo - Uma desaceleração recente nas vendas de veículos à Argentina e ao México fizeram o setor automotivo brasileiro cortar suas previsões para produção e exportações em 2018, enquanto a greve dos caminhoneiros contribuiu para o setor não elevar expectativas de vendas no mercado interno.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) reduziu, na sexta-feira (6), a expectativa para a produção em 2018 de crescimento de 13,2% para alta de 11,9%, para 3,021 milhões de unidades. No primeiro semestre, o avanço foi de 13,6%, a 1,435 milhão de veículos.
Já a previsão para as exportações foi cortada de crescimento de 4,5%, para estabilidade sobre o recorde do ano passado, a 766 mil veículos.
"Estávamos contando com uma exportação maior. Esperávamos passar das 800 mil unidades este ano, mas, olhando os pedidos do México e da Argentina, vamos ficar no mesmo nível do ano passado, que não é um número ruim, pois estamos rondando o recorde", disse o presidente da Anfavea, Antonio Megale.
"Estávamos vindo em um ritmo mais forte de exportações, mas estamos começando a ver México e Argentina, os dois principais mercados do Brasil, refazendo suas encomendas", destacou Megale.
A Argentina, que elevou os juros para 40% ao ano no começo de maio, em meio a uma forte desvalorização do peso, registrou tombo de 31% nas vendas internas de veículos em junho, sobre o mesmo mês do ano passado, e uma queda de 5% ante maio, para 55,4 mil unidades, segundo dados da associação de montadoras Adefa.
Até a elevação dos juros na Argentina, o Brasil direcionava 70% de suas exportações de veículos para o país vizinho, que registrou vendas internas de 883,8 mil veículos em 2017.
Já no México, segundo maior mercado de veículos do Brasil e que passou a travar uma disputa comercial com os Estados Unidos neste ano, as vendas de veículos de janeiro a maio, segundo dados mais recentes da associação setorial Amia, caíram 9% sobre um ano antes, para 561 mil unidades.
Segundo Megale, as medidas de ajuste tomadas pelo governo argentino deverão fazer efeito nos próximos meses e a expectativa da Anfavea é de que o mercado vizinho vai recuperar o nível de compras de produtos brasileiros em 2019.
Capacidade - A indústria automobilística do Brasil tem capacidade para produzir 5 milhões de veículos por ano e as exportações vinham ajudando o setor a ocupar essa capacidade e a ampliar o número de trabalhadores ocupados.
No primeiro semestre, as exportações de veículos montados do Brasil subiram apenas 0,5%, sobre um ano antes, para 379 mil unidades, registrando em junho recuo de 4,4% sobre um ano antes, para 64,9 mil unidades.
No mercado interno, a expectativa de vendas da Anfavea foi mantida em crescimento de 11,7%, a 2,5 milhões de unidades.
Medida provisória que cria Rota 2030 é publicada
O governo federal publicou, na sexta-feira (6), a medida provisória 843, que cria o programa automotivo Rota 2030, que tem como foco declarado incentivar a pesquisa e desenvolvimento do setor automotivo no Brasil.
Na quinta-feira (5), o ministro da Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Marcos Jorge, afirmou que as montadoras de veículos terão até R$ 1,5 bilhão em crédito anual a ser abatido de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), se fizerem investimentos de pelo menos R$ 5 bilhões.
Questionado, o presidente da Anfavea afirmou que o número de R$ 1,5 bilhão era uma estimativa do governo e que o incentivo poderá até ser maior, uma vez que os investimentos de R$ 5 bilhões pelas montadoras poderão ficar acima disso. "Cinco bilhões é a média do que foi investido durante o Inovar Auto", disse Megale, se referindo ao programa automotivo criado no governo Dilma Rousseff e encerrado no final do ano passado.
Após a publicação da MP e de decreto que reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de veículos com motores híbridos ou elétricos, o governo terá 120 dias para que a medida seja transformada em lei.
Além da própria conversão em lei, o Rota 2030, que tem vigência de 15 anos, também depende de uma série de regulamentações que precisam ser emitidas pelo governo, nos próximos meses e anos, incluindo a forma como serão medidos os investimentos em pesquisa e desenvolvimento e seu abatimento no IRPJ e CSLL das montadoras. "Não resolvemos todos os problemas, mas agora vamos poder nos planejar", destacou Megale, acrescentando que, nos próximos 30 dias, o Mdic deve preparar a norma sobre essa medição.
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