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O Globo Online (RJ) ( Rio ) - RJ - Brasil - 01-07-2018 - 08:24 -   Notícia original Link para notícia
Uma geração cidadã que vai em busca de dados

Projetos aliam tecnologia com redes colaborativas para reunir informações e melhorar a qualidade de vida nas cidades


"Queremos mostrar como o morador de favelas pode se apropriar de ferramentas para incidir sobre seus direitos e sugerir políticas públicas" Gilberto Vieira Cofundador do data_labe


Eles trabalham no Complexo da Maré, entre dois polos de referência em inovação, a Fiocruz e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mas não conseguem acesso à internet com mais velocidade. Apesar das dificuldades, Gilberto Vieira, de 30 anos, e Clara Sacco, de 27, descobriram o poder dos dados públicos, fundaram o laboratório data_labe e, junto com uma rede colaborativa, têm contribuído para melhorar a qualidade de vida em comunidades como a Nova Holanda. Nesse Rio de contrastes, é que a cidade tenta driblar a crise para encontrar suas vocações e se tornar mais sustentável com a ajuda da tecnologia e da participação cidadã.


NELSON PEREZ Novas ações. A equipe do data_labe (Eloi, Clara, Fernanda, Juliana, Gilberto e Jessica): dados mostram a realidade das comunidades


- A gente se sentia incomodado de não ter narrativas que representem a diversidade do Rio. No data_labe, queremos formar uma geração cidadã de dados e mostrar como o morador de favelas pode se apropriar de ferramentas para incidir sobre seus direitos e sugerir políticas públicas que reflitam e melhorem a nossa realidade - diz Gilberto.


No data_labe, os jovens aprendem onde buscar os dados e a fazer a limpeza, o cruzamento, a análise e a visualização dessas informações. A doula Vitória Lourenço passou por essa capacitação. Ao consultar o Data SUS, descobriu que as grávidas que mais morriam eram jovens, negras, com baixo nível de escolaridade e atendidas em unidades da periferia. Vitória levou seu levantamento para a vereadora Marielle Franco, com quem trabalhou. Esses dados serviram de base para o projeto de ampliação das Casas de Parto, lei da parlamentar aprovada em vida. Marielle foi assassinada em março deste ano.


Entre os projetos do data_labe, em parceria com outras instituições, está o Cocozap, que pretende criar uma nova base de dados com fotos de locais com esgoto a céu aberto nas favelas da Maré, enviadas pelos moradores. O projeto ganhou prêmio internacional e terá acompanhamento da Casa Fluminense, para ajudar na elaboração de uma política de saneamento para comunidades carentes, a ser apresentada às autoridades públicas.


- Pelos dados oficiais, o Rio tem 65% de acesso a serviços de coleta de esgoto. Não é nossa realidade. Queremos gerar nossos dados. A tecnologia nos permite esse poder - defende Gilberto.


FERRAMENTA CONTRA O "AEDES"


O engenheiro Sergio Rodrigues, de 38 anos, também trabalha com sistemas integrados de informação, mas combina uma série de tecnologias, como internet das coisas e inteligência artificial, para buscar solução para as cidades.


A startup de Rodrigues, a Lemobs, faz parte da incubadora da Coppe, na UFRJ, e desenvolve aplicativos e ferramentas de tecnologia para gestão pública e privada. Um dos projetos, o Sigelu Aedes, em parceria com o Ministério do Planejamento, visa a consolidar ações de vistoria de prédios e instituições federais para o enfrentamento do Aedes Aegypti. A ferramenta também está disponível para moradores que queiram contribuir com informações sobre focos do mosquito. Basta se cadastrar no link Brasil Cidadão, com acesso pelo site aedes.sigelu.com/login.


- No primeiro ano do projeto, aumentamos de duas mil para 200 mil vistorias. Deste total, seis mil tiveram focos comprovados - afirma Rodrigues.


O aumento só foi possível por causa do aplicativo, que recebeu novas informações e fez a gestão rápida do grande volume de dados. Ao ampliar o cadastro, o governo conseguiu outro resultado: adequar campanhas de combate ao mosquito.


- Dos seis mil focos analisados, metade ficava em áreas externas. Mas todas as campanhas privilegiavam cuidados nas áreas internas dos prédios. Esses dados redirecionaram toda a propaganda.


Para Gabriel Pinto, gerente da Indústria Criativa da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan), é nessa cidade inteligente que o Rio deve investir:


- Não existe uma cidade inteligente sem o lado humano. Cidades para serem inteligentes precisam da conexão entre as pessoas. Soluções em rede são muito mais potentes, com alcance muito maior.


O Rio perdeu posições no ranking do Connected Smart Cities, promovido pela Urban System. Caiu do 1º lugar, em 2015, para terceiro, no ano passado. A cidade manteve bom desempenho em Tecnologia (1º lugar), devido ao Centro de Operações Rio, à infraestrutura com fibra ótica e a seus centros de pesquisa. Mas outros quesitos, como Segurança Pública, Saneamento, Saúde, Educação Básica e Meio Ambiente, puxaram a nota para baixo.


- Não tem como pensar em cidade inteligente sem ter o básico. O Rio precisa maximizar seus talentos e minimizar seus pontos fracos - defende Thomaz Assumpção, CEO da Urban System.


O coordenador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), Eduardo Magrani, acredita que o contexto de hiperconectividade exige novas políticas para aumentar a segurança e a privacidade dos dados. Mas o investimento nas cidades inteligentes pode trazer benefícios, com impactos positivos na economia do estado. Para Magrani, falta ao Rio pensar em projetos mais inclusivos para valorizar sua diversidade.


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