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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 27-06-2018 - 09:10 -   Notícia original Link para notícia
Risco de juro maior

BC menciona greve de caminhoneiros e cenário externo. Analistas veem mais inflação e PIB menor



-BRASÍLIA E RIO- A greve dos caminhoneiros pode levar o Banco Central (BC) a mudar os planos de manter os juros básicos da economia em 6,5% ao ano. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, afirma que a paralisação de dez dias da categoria - que causou desabastecimento em maio - provocou alta de preços e diminuiu as chances de a inflação ficar muito abaixo da meta de 4,5% este ano. No ano passado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que orienta o sistema de metas, fechou em 2,95%, abaixo do piso fixado. Os efeitos nos preços da greve foram bem maiores do que o mercado esperava. A prévia da inflação deste mês, o IPCA-15, ficou em 1,11%, praticamente o dobro do que esperavam os analistas, com alta disseminada de preços.



PAULO NICOLELLA/5-6-2018Mais cara. Posto no Rio logo após a greve: com aumentos da Petrobras e paralisação, preço da gasolina subiu 6,98%, respondendo por quase 30% da inflação de junho no IPCA-15



Mas os efeitos do movimento ainda estão sendo apurados, e o BC informou que não sabe quais os reflexos secundários da greve e da alta do dólar tanto nos preços como na atividade. Por isso, os diretores resolveram não indicar os próximos passos na condução dos juros, mudando a prática adotada desde que Ilan Goldfajn assumiu a presidência do BC. Assim, deixaram sobre a mesa a chance de uma alta da taxa básica, a Selic. "Em termos de sinalização futura, todos (os membros do Copom) concordaram que o maior nível de incerteza da atual conjuntura recomenda de se abster de fornecer indicações sobre os próximos passos de política monetária", afirmou o BC na ata.



- A principal diferença nessa ata é a ausência dessas sinalizações que o BC vinha fazendo para as reuniões seguintes. Acabaram gerando mais ruído, e ele resolveu abandonar essa comunicação. A mudança de prática está associada à incerteza maior do cenário externo e ao cenário doméstico mais conturbado - afirma Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco.



O Itaú não acredita em alta de juros este ano, mas diz que o próximo movimento será para subir a Selic. O banco prevê crescimento de 1,7% da economia e inflação de 3,7%, esperando que a inflação baixe depois que o abastecimento for completamente normalizado. META DE INFLAÇÃO DE 3,75% EM 2021 O BC tem de assegurar que a inflação fique em 4,5% este ano e em 4,25% em 2019. Em 2020, a meta cai para 4%. Já a meta para 2021, conforme havia antecipado O GLOBO, foi definida ontem pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 3,75% ao ano, podendo oscilar entre 2,25% e 5,25%. O Conselho manteve o ritmo de queda de 0,25 ponto percentual anual na meta.



Perguntada se a decisão do CMN não seria ousada, tendo em vista que o BC vem citando em suas atas a importância das reformas para equilibrar as contas públicas e garantir inflação menor a longo prazo, a secretária-executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, afirmou que a política monetária tem sido eficiente para manter a inflação dentro da meta e que o patamar de 3% é aquele observado em países emergentes:



- A política monetária tem sido bem-sucedida no sentido de ancorar essa expectativa. Os dados do Focus (pesquisa realizada pelo BC junto ao mercado) estão ancorados (de acordo) com metas de longo prazo. É um fator importante de previsibilidade.



Há dificuldade de prever o comportamento da economia nos próximos meses, depois da greve dos caminhoneiros, com o cenário externo de aumento de juros em economias importantes, como os Estados Unidos, e da guerra comercial entre americanos e chineses, que deve reduzir o crescimento global.



- A visibilidade diminuiu muito. Não se sabe qual o impacto na inflação de todos esses choques, e a postura do BC tem de ser vigilante. É um choque de efeitos desconhecidos, nem sempre temos eventos (greve dos caminhoneiros) como esses. A curto prazo, os efeitos tanto da greve como do câmbio reduzem a visibilidade para frente. A médio prazo, a agenda de reformas, explícita nas atas desde que Ilan pôs o pé no BC, é essencial para manter a inflação baixa ao longo do tempo - afirma Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. SEM RISCO PARA META DE 4,5% Mesmo sem sinalizar seus passos futuros, o BC não vê risco para o cumprimento da meta este ano: "Os membros do Comitê pontuaram que as diversas medidas de inflação subjacente (quando se exclui das taxas oscilações muita altas, como da gasolina, da energia e dos alimentos, entre maio e junho) se situavam em níveis baixos no passado recente", afirmou a autarquia na ata do Copom.



E não é apenas a greve que se mostrou um risco a mais para a inflação, a ponto de as projeções do Focus estarem em 4%, na sexta semana seguida de alta. No fim de abril, a previsão era de 3,49%. Também haverá impacto da alta do dólar. Para o BC, o cenário externo "seguiu mais desafiador." Há riscos maiores de o processo de alta de juros nos EUA afetar as economias emergentes, com os investidores tirando seus recursos de ativos de risco. Os diretores do BC citaram ainda os possíveis impactos das medidas protecionistas do governo americano sobre o comércio internacional e, consequentemente, o crescimento global.



- Essa foi uma mudança na ata, ao citar o cenário externo. A atividade caiu, as projeções para o PIB (Produto Interno Bruto) desabaram: estão em 1,55% de alta, chegaram quase ao dobro no início do ano. Nós tínhamos uma janela de oportunidade no cenário externo, os juros estavam baixos no mundo, mas não aproveitamos isso para fazer as reformas. Essa janela de liquidez internacional se fechou. Foi-se embora. Ainda teremos o fator político - avalia Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio.



Novas quedas de juros não fazem parte dos cenários dos analistas de mercado. O próximo movimento, seja quando for, será para subir a taxa, diz Gonçalves, do Itaú:



- O próximo movimento será para cima, mas não é muito provável que vá subir os juros pelo menos até o fim do ano, a não ser que o cenário global tenha reflexo muito intenso na desvalorização da moeda, com alteração nas expectativas.



Para Cunha, até outubro, o BC deve manter a taxa em 6,5%, até para não criar mais ruído de uma das mais imprevisíveis eleições da História recente.



Para Alessandra Ribeiro, sócia da Consultoria Tendências, no entanto, a turbulência com as eleições e o cenário externo podem mexer no câmbio, a ponto de obrigar o BC a aumentar os juros já no segundo semestre:



- Num cenário pessimista, pode haver alta já na próxima reunião (em 1º de agosto).



O Copom voltou a afirmar que não combaterá a alta do dólar com juros mais altos. Ressalta que esse instrumento somente será usado se houver contaminação maior dos preços internos.


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