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Estado de Minas Online ( Opinião ) - MG - Brasil - 19-06-2018 - 09:54 -   Notícia original Link para notícia
Bruno Falci - Confiança mais uma vez abalada

As incertezas no cenário eleitoral, que já eram grandes, foram agravadas



 


Dependente das rodovias, a paralisação de 10 dias dos caminhoneiros interferiu na política, na economia e na sociedade. Comércio, indústria, turismo, escolas, serviços públicos, saúde, polícia se viram afetados pelo movimento que pedia a redução no preço do diesel e dos impostos que impactam a categoria, entre outras reinvindicações.

Serão necessários meses para recuperar os diversos prejuízos causados pela paralisação dos caminhoneiros. Projeções preliminares de diversos segmentos da economia apontam para perdas de mais de R$ 75 bilhões. A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) estima que, de 21 a 28 de maio, os setores de comércio e serviços de todo o país tiveram perdas de aproximadamente R$ 27 bilhões. A indústria mineira calcula prejuízo de, no mínimo, R$ 2,5 bilhões com a greve.

A maior paralisação dos caminhoneiros em quase duas décadas (em julho de 1999, os motoristas pararam por quatro dias e só voltaram a rodar quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso aceitou rever os reajustes do diesel e dos pedágios federais) deve impactar o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre do ano.

Mas de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda não é possível precisar o tamanho da repercussão da paralisação sobre a atividade econômica. Para o IBGE, a preocupação agora é com possíveis reflexos sobre a coleta de dados para as pesquisas, já que é preciso observar se o impacto aparecerá nos preços e na produção. Mensurar o resultado do PIB ainda é prematuro, e será preciso acompanhar o dia a dia da economia para determinar a profundidade do impacto gerado.

O certo é que a economia, que já vinha se recuperando lentamente, sofreu abalos. Houve prejuízo generalizado na atividade econômica e nas exportações. Para alguns economistas, o país, além de assistir ao adiamento de investimentos internos e externos, sofrerá ainda mais com o abalo da confiança na ainda fragilizada economia brasileira.

A paralisação e seus desdobramentos ampliaram as incertezas de empresários e consumidores.

E essa queda da confiança na economia foi percebida em recente pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha. O levantamento, que foi realizado entre os dias 6 e 7 de junho, mostrou que 72% dos entrevistados entendem que a situação econômica do país piorou. Na última pesquisa sobre o mesmo assunto, em abril, o percentual era de 52%. Outro dado que chama a atenção é que 32% acreditam que a economia ainda vai piorar mais nos próximos meses. Confirmando, assim, o decréscimo e a ruptura da confiança dos empresários e famílias, que vinha melhorando.

Além disso, a solução adotada pelo governo para acabar com a paralisação, de congelamento do valor do diesel e subsídio para o preço do combustível, não foi a melhor e é pouco eficiente. As medidas tomadas trouxeram consequências econômicas para todos os setores. Além de diminuir a confiança empresarial, elas aprofundam ainda mais o déficit das contas públicas brasileiras, pois o Tesouro Nacional terá que bancar os impactos das medidas. E para tentar diminuir esse déficit, mais uma vez os setores produtivos terão que arcar com as contas da ineficiência da gestão pública.

Para viabilizar a redução no preço do litro do diesel, o governo reonerou a folha de pagamento de 39 setores, entre eles o segmento de comércio e serviços, que terão que voltar a recolher a contribuição previdenciária de 20% sobre a folha de pagamento. Com isso, os empresários terão seus custos elevados e sua capacidade de investimentos reduzida, o que pode vir a desestimular a manutenção e geração de novos empregos e renda, e impactar negativamente no crescimento econômico do país. O governo também eliminou benefícios para os exportadores, para a indústria química e reduziu créditos para os concentrados de refrigerantes, entre outras ações.

A gradual retomada da economia, que ocorria em ritmo lento, irá demorar mais tempo para ganhar ritmo e apresentar percentuais maiores de crescimento. As incertezas no cenário eleitoral, que já eram grandes, foram agravadas. Com isso, fica também a percepção de que o próximo governo não terá um ambiente tranquilo para iniciar sua gestão e terá que lidar com grandes desafios para tentar reverter o cenário atual.


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