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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 16-06-2018 - 07:59 -   Notícia original Link para notícia
Um novo dono para a Braskem

QUEM SÃO AS GRANDES COMPANHIAS DO SETOR E PARA QUE SERVEM SEUS PRODUTOS









Odebrecht negocia venda de sua fatia para empresa holandesa. Ação da petroquímica sobe 21,4%





A Odebrecht negocia vender sua fatia na Braskem à holandesa LyondellBasell, criando a maior empresa do setor. A ação da Braskem subiu 21,4%. Em meio à busca de compradores para seus ativos com o objetivo de reduzir sua dívida, a Odebrecht começou a negociar a venda de sua fatia na Braskem para a holandesa LyondellBasell. Se o negócio sair do papel, pode criar a maior empresa global do setor petroquímico, líder na produção de resinas plásticas, usadas na fabricação de itens como brinquedos, baldes, autopeças e até fraldas. Hoje, a liderança do setor é da chinesa Sinopec. O anúncio de negociação exclusiva entre as empresas fez com que os papéis da Braskem tivessem um salto de 21,4%, para R$ 49,92, a maior alta em um dia desde a criação da petroquímica, em 2002. O avanço do papel representou um ganho de R$ 5 bilhões no valor de mercado da companhia, para R$ 38,6 bilhões.





O negócio pode resolver os problemas dos acionistas de uma só vez. A Braskem é controlada por Odebrecht e Petrobras. Caso a negociação avance, a Petrobras - que já sinalizou anteriormente sua intenção de sair da companhia - tende a exercer o direito de vender sua participação em iguais condições para a Lyondell, conforme prevê o estatuto da empresa, segundo fontes. Desta forma, a operação aliviaria o caixa da Odebrecht, cuja dívida líquida está em R$ 49 bilhões (excluindo Braskem) e seria uma porta de saída para a Petrobras, que vinha enfrentando dificuldades para encontrar interessados em sua fatia na maior empresa do setor petroquímico na América Latina.





OPERAÇÃO DEVE ENVOLVER TROCA DE AÇÕES





O valor da operação não foi divulgado, mas analistas apostam no pagamento de um bom prêmio pelas ações da Braskem, que sofreram com o escândalo da Lava-Jato e estão subavaliadas. Analistas de mercado de 11 instituições financeiras calculam que, dentro de um ano, as ações preferenciais classe A (sem voto) da companhia têm potencial para chegar, em média, a R$ 55,80. Tomando como base esse preço-alvo, a Braskem seria avaliada em R$ 44,5 bilhões. Neste cenário, a fatia da Odebrecht corresponderia a R$ 17 bilhões. Já a participação da Petrobras seria avaliada em R$ 16 bilhões. Mas o valor final da operação pode incluir um prêmio para as duas principais sócias.





Na avaliação de analistas e de fontes a par das conversas, porém, a operação não deve envolver apenas pagamento em dinheiro e incluiria troca de ações entre empresas. A tendência é que a holandesa feche o capital da Braskem no Brasil, caso todos os acionistas minoritários aceitem vender sua fatia. Pelo estatuto da Braskem, tanto os donos de ações ordinárias voto) como preferenciais podem exercer o direito de vender suas participações pelas mesmas condições ofertadas ao controlador da Braskem, no caso a Odebrecht - que tem 50,1% do capital votante. Segundo uma fonte, a empreiteira poderá manter um percentual na nova empresa. Já no caso da Petrobras, a intenção é vender a totalidade das ações. A estatal tem 47% dos papéis com direito a voto e, desde 2016, vinha anunciando que queria sair do setor.





- A Petrobras certamente vai sair ganhando no negócio, porque a empresa holandesa vai oferecer um bom prêmio para comprar a parcela da Odebrecht, valor que será estendido para os minoritários. Então, a Petrobras vai vender sua participação na Braskem por um valor bem maior do que venderia se fosse em uma operação isolada - explicou uma fonte.





Com o anúncio, as negociações entre a Odebrecht e a Petrobras para rever o acordo de acionistas da Braskem foram suspensas, segundo fontes próximas às empresas. O acordo venceria em 2020, e as duas companhias vinham negociando novos termos. O principal objetivo era tornar a fatia da Petrobras mais atraente para um potencial interessado. Da forma como está redigido hoje, não há garantia no acordo, por exemplo, de que o comprador da parcela da estatal manteria direitos como um assento no Conselho de Administração da Braskem.





Outro foco de tensão entre as sócias era o contrato de fornecimento de nafta, matéria-prima básica da Braskem. A Petrobras fornece cerca de 70% do insumo usado pela petroquímica. Além disso, a estatal controla a infraestrutura de transporte da nafta. Isso faz com que a Braskem dependa dela, mesmo no caso de importação. Na avaliação de Otávio Carvalho, diretor da consultoria Maxiquim, a venda do controle da petroquí(com mica para uma gigante do setor pode beneficiar a Braskem, pois a empresa poderia traçar uma nova estratégia para atender a suas necessidades.





- A Petrobras está querendo vender uma parte das refinarias e terminais que tem no Rio Grande do Sul (Refap) e na Bahia (Relam). São justamente os principais pontos por onde passa a nafta importada, o que poderia deixar a Braskem numa situação mais delicada (do ponto de vista de fornecimento). Com a chegada de um novo sócio com dinheiro, a Petrobras poderia alugar os dutos, por exemplo. O contrato de nafta é a carta na manga que ela tem - afirmou Carvalho.





A conclusão do negócio, que ainda está em fase preliminar, está sujeita "a due diligence (auditoria), negociação dos contratos definitivos e obtenção das aprovações societárias, não existindo, nesta data, qualquer obrigação vinculante entre LyondellBasell e Odebrecht", disse a Braskem em nota. Já a Petrobras disse que "caso a negociação seja finalizada com êxito, irá analisar os termos e condições da oferta da LyondellBasell, de forma a avaliar o exercício dos seus direitos previstos no acordo de acionistas da Braskem". A Odebrecht informou que, dos R$ 12 bilhões que pretende levantar com venda de ativos, já obteve R$ 7,5 bilhões. A empresa também acaba de fechar acordo com bancos para ter acesso a R$ 2,6 bilhões em novos recursos, além de alongar dívidas de curto prazo.





ACORDO DE LENIÊNCIA DE R$ 3,1 BILHÕES





Para Carvalho, é possível que o acordo, se concretizado, tenha alguma restrição por parte das autoridades de defesa da concorrência americanas, pois, juntas, Lyondell e Braskem detêm cerca de 30% da produção de polipropileno (tipo de resina) do país. A Braskem vem investindo fortemente nos EUA, em razão do grande mercado consumidor e da oferta de matéria-prima a preços competitivos, o que reduz sua dependência da Petrobras. Nos EUA, as unidades da petroquímica usam o gás natural. Mas 53% da receita da empresa vêm do Brasil.





Na avaliação de Carvalho, a operação não mudará nada para o consumidor no Brasil, pois não aumentará a concentração do mercado. A Braskem já domina o setor. Logo, haverá apenas uma troca de mãos dos ativos. Já no cenário mundial, a nova empresa ganha escala de produção. Hoje, a Lyondell é a terceira maior do ranking global, e a Braskem, a sexta. Mas o eventual novo controlador terá de negociar o pagamento do acordo de leniência firmado pela petroquímica brasileira, em 2016, com os governos de Brasil, EUA e Suíça. O acordo prevê o pagamento de R$ 3,1 bilhões, dos quais R$ 1,6 bilhão já foi desembolsado. Não se sabe se ele vai assumir a conta ou abatê-la do valor investido.


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