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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 09-06-2018 - 10:53 -   Notícia original Link para notícia
Atuação do BC faz dólar cair 5,5% em um dia

Instituição oferece US$ 3,75 bi ao mercado para conter alta





Diretor do FMI para as Américas diz que Brasil enfrenta 'incerteza interna'









A disposição anunciada pelo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, de usar toda a artilharia da instituição para conter a alta do dólar frente ao real surtiu efeito ontem, produzindo uma queda de 5,5% na cotação da moeda americana. Foi o maior recuo registrado durante um só dia em quase dez anos. Além da oferta diária de US$ 750 milhões, o BC fez um leilão extraordinário de US$ 3 bilhões. Alejandro Werner, diretor do FMI para as Américas, disse que o Brasil lida com "incerteza interna". -SÃO PAULO E BRASÍLIA- A disposição do Banco Central (BC) em usar toda a sua artilharia para conter a volatilidade no mercado de câmbio surtiu efeito e fez o dólar comercial ter a maior queda em quase dez anos. A moeda americana encerrou cotada a R$ 3,709, com queda de 5,50% - a maior para um dia desde 13 de outubro de 2008. O presidente do BC, Ilan Goldfajn, que na quinta-feira, quando o dólar fechou a R$ 3,925, havia convocado uma entrevista coletiva para anunciar as ações relativas ao câmbio, voltou a afirmar ontem que a autarquia está preparada para garantir recursos ao mercado, bem como minimizar o efeito da recente alta do dólar sobre a inflação.





- Temos nossos amortecedores. Agora, o que queremos é dar tranquilidade, liquideze hedge (proteção) para o mercado. Basta ter demanda e necessidade. Vamos ajudar o mercado enquanto for necessário - disse Goldfajn em evento do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças (Ibef ), em São Paulo, no início da tarde.





Na quinta-feira, ele havia anunciado que, até o fim da semana que vem, o BC colocará no mercado US$ 24,5 bilhões em contratos de swap cambial, operação que equivale a uma venda da moeda no mercado futuro. Isso inclui os US$ 750 milhões que o BC oferece diariamente desde o fim de maio, mais US$ 20 bilhões. O volume pode ser elevado caso haja necessidade, ressaltou Ilan, que não descarta o uso de reservas, atualmente em US$ 380 bilhões.





Essa estratégia começou ontem mesmo. No total, o BC injetou US$ 3,75 bilhões no mercado. Além da oferta diária de US$ 750 milhões, fez um leilão extraordinário de US$ 3 bilhões.





Não é a primeira vez que o BC eleva o estoque de swaps cambiais para conter a volatilidade. Na gestão anterior, de Alexandre Tombini, esse estoque chegou a US$ 115 bilhões. Quando Ilan assumiu, recuou para cerca de US$ 20 bilhões. Com as operações das últimas semanas, o montante subiu para os atuais US$ 60 bilhões.





Apesar da disposição de conter a volatilidade no câmbio, que ele atribui principalmente ao cenário externo, Ilan explicou que a atuação do BC não inclui a política monetária, ou seja, uma elevação da Taxa Selic, hoje em 6,5% ao ano. Ele reforçou que a decisão sobre os juros leva em conta as expectativas de inflação, atualmente abaixo da meta do governo, de 4,5% para 2018.





- As expectativas de inflação estão ancoradas na meta, o que faz com que o repasse da alta do dólar para os preços seja baixo - observou Ilan.





BOLSA TEM QUARTO DIA DE QUEDA





À plateia de executivos, o presidente o BC deixou claro que as decisões sobre a Selic são tomadas nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Na véspera, operadores especularam que a autoridade monetária poderia convocar reunião extraordinária para elevar juros a fim de conter a alta do dólar e minimizar um possível impacto sobre a inflação, mas, na própria quinta-feira, o BC negou a hipótese.





- Isso é o que fazemos a cada 45 dias. Vemos o impacto desses choques na economia - disse Ilan, referindo-se ao intervalo das reuniões do Copom.





O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, endossou o discurso de Ilan e destacou a pronta reação do mercado às medidas do BC. Em entrevista à Rádio Bandeirantes, Guardia reforçou que o governo não pretende aumentar a taxa de juros.





- Estamos vendo o mercado reagir às medidas que anunciamos - afirmou. - A política de juros está relacionada ao controle da inflação, e a inflação no Brasil está sob controle. Hoje tivemos a divulgação do IPCA de maio, e a inflação acumulada em 12 meses é baixa.





O recuo do dólar mostra que o discurso e a ação do BC surtiram efeito. Mas analistas ainda veem tendência de alta para o dólar, devido à indefinição eleitoral e à expectativa de que os EUA elevem sua taxa básica de juros na semana que vem, o que reduzirá a atratividade dos papéis de economias emergentes, como o Brasil.





- O que ocorreu ao longo da semana foi um ataque especulativo. A situação da economia não teve uma piora tão grande assim em dez dias. O BC decidiu elevar o tom e garantiu que ofertará esse volume de recursos. Isso não quer dizer que reverteu a tendência de alta da moeda, mas tirou um pouco da loucura dos últimos pregões - avaliou Cleber Alessie, operador da corretora H.Commcor.





Houve também alívio no mercado de juros. Os contratos com vencimento em janeiro de 2019 caíram de 7,585% para 7,34%, e os de 2020, de 8,84% para 8,71%.





Apesar da melhora no câmbio, o Ibovespa, principal índice do mercado acionário local, teve queda de 1,23%, aos 72.942 pontos, a quarta seguida. Em uma semana, perdeu 5,56%.



Brasil lida com 'incerteza interna', diz diretor do FMI



Avaliação é que não há grande vulnerabilidade externa



"Nos últimos anos, o Brasil passou a enfrentar um desafio fiscal muito importante e que já está presente no debate político" Alejandro Werner Diretor do FMI para as Américas



-WASHINGTON- Alejandro Werner, diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) para as Américas, disse ontem que o Brasil não possui grandes vulnerabilidades externas, apesar da volatilidade da cotação do dólar. Durante entrevista coletiva, em Washington, na qual apresentou detalhes do acordo com a Argentina, ele disse que há "incertezas internas", referindo-se indiretamente às eleições. E elogiou a decisão do Banco Central brasileiro de não usar os juros para tentar conter a valorização da moeda americana.



JUAN MANUEL HERRERA/ARQUIVO Acerto. Werner elogiou a decisão do BC de não usar juro para frear dólar



- Entendo a posição do Banco Central do Brasil sobre usar a política monetária para controlar a inflação. Para administrar, suavizar e evitar condições desordenadas nos mercados financeiros, como no de câmbio, há outros instrumentos, como os que foram usados no passado para ajudar a controlar essa situação - disse Werner.



Depois de um dia de forte turbulência no mercado financeiro na última quinta-feira, quando o dólar se aproximou dos R$ 4, o Banco Central anunciou que, até o fim da próxima semana, injetaria até US$ 24,5 bilhões no mercado por meio de contratos de swap cambial. Esse tipo de operação equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. O presidente do BC, Ilan Goldfajn, negou o uso dos juros para tentar frear a escalada da moeda. O anúncio surtiu efeito, e a moeda americana teve a maior queda ontem desde 2008.



CENÁRIO ELEITORAL



Werner afirmou que o Brasil não possui uma elevada necessidade de financiamento externo e que tem boas reservas, mas alertou que o país está vivendo desafios fiscais "importantes", que seriam a base das incertezas internas. E o cenário eleitoral amplia este movimento:



- O Brasil, quando analisamos as vulnerabilidades externas, é um país que não tem este tipo de questão, é uma economia que não tem uma necessidade de financiamento externo grande - disse ele. - Nos últimos anos, o Brasil passou a enfrentar um desafio fiscal muito importante, e que já está presente no debate político com as discussões da reforma previdenciária. A agenda do Brasil para os próximos anos, para que seja possível consolidar sua situação econômica, está muito clara, estará presente no processo eleitoral, e o próximo governo dará os sinais importantes para ver se estes pontos avançam ou não.



O diretor do Fundo disse que este deverá ser o ano de maior incerteza externa e que diversos países, inclusive nações avançadas menores e produtores de matérias-primas, como Canadá e Austrália, vivem momentos de forte volatilidade nos mercados cambiais. Neste sentido, disse Werner, a ação da Argentina em pedir rapidamente o acordo com o FMI ajuda neste momento, que também deverá viver uma desvalorização do real.



- Muitas moedas de economias emergentes e de países pequenos avançados, produtoras de matérias-primas, costumam ter movimentos importantes do tipo de câmbio. No que o Brasil vive hoje, o detonante é diferente, é um pouco o endurecimento das condições financeiras internacionais, mas também é obviamente a incerteza local - finalizou Werner.




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