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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 08-06-2018 - 08:53 -   Notícia original Link para notícia
Com dólar perto de R$ 4, BC promete ampliar ação



Incerteza eleitoral e dúvida sobre juros alimentaram alta da moeda



ANA PAULA RIBEIRO, GABRIELA VALENTE, CÁSSIA ALMEIDA LETICIA FERNANDES E economia@oglobo.com.br



Presidente do Banco Central descarta reunião extraordinária sobre taxa Selic





A incerteza eleitoral e especulações sobre uma reunião extraordinária do Copom para elevar os juros, já negada pelo Banco Central, derrubaram os mercados ontem. O dólar fechou cotado a R$ 3,925, mesmo depois de o Banco Central despejar US$ 2,75 bilhões para segurar o câmbio. O presidente do BC, Ilan Goldfajn, disse que o governo irá usar a quantidade de dólares de que o mercado precisar, inclusive ultrapassando a marca histórica de oferta, de US$ 110 bilhões. Goldfajn destacou que o país tem fundamentos sólidos para resistir a um choque externo. A Bolsa fechou com perda de 2,97%, e os juros no mercado futuro subiram. -SÃO PAULO, BRASÍLIA E RIO- As incertezas em torno da eleição presidencial e rumores sobre uma possível reunião extraordinária do Banco Central para elevar os juros - uma hipótese negada pelo Banco Central - dominaram ontem os mercados. O dólar disparou, renovando as máximas do ano, enquanto a Bolsa despencou, e os juros futuros voltaram a subir. O presidente do BC, Ilan Goldfajn, convocou uma entrevista coletiva no início da noite para dissipar boatos e acalmar os investidores. A moeda americana fechou em alta de 2,24%, a R$ 3,925, a maior cotação desde 1º de março de 2016. O Ibovespa, principal índice do mercado acionário, encerrou em queda de 2,97%, aos 73.851 pontos - no pior momento, chegou a cair 6,96%. E a tônica, segundo analistas, deverá ser essa a cada vez que as pesquisas eleitorais apontarem na dianteira candidatos que não agradem aos agentes financeiros. Já se fala em dólar acima de R$ 5 até o fim do ano.



Durante o dia, o BC reforçou sua atuação e aumentou a injeção de dólares no mercado futuro, operação conhecida como swap cambial. Mesmo assim, o dólar atingiu, na máxima do dia, R$ 3,968. Foram ofertados US$ 2 bilhões no início da manhã, além dos US$ 750 milhões que vêm sendo oferecidos diariamente desde o mês passado.



Ilan informou que, até o fim da semana que vem, o BC fará uma oferta adicional de US$ 20 bilhões em contratos de swap. Atualmente, há no mercado cerca de US$ 30 bilhões em contratos. Ele assegurou que ofertará a quantidade de que o mercado precisar e que pode ultrapassar a máxima histórica de oferta. No governo Dilma Rousseff, o BC chegou a ter quase US$ 110 bilhões em contratos ativos.



- Podemos ir além dos máximos históricos do passado. Até hoje vimos apenas necessidade na parte de swap para hedge (proteção). E não temos nenhum preconceito de usar qualquer instrumento - disse Ilan, ressaltando que, se necessário, poderão ser usadas as reservas internacionais, hoje em US$ 382 bilhões. CÂMBIO TURISMO CHEGA A R$ 4,30 NO CARTÃO A escalada do dólar foi ainda maior no câmbio turismo. Nas casas de câmbio, a divisa no cartão já supera os R$ 4,30. Em espécie, chegava a R$ 4,15.



Maurício Oreng, economista-chefe do Rabobank no Brasil, avalia que o BC está correto, mas sua ação não é suficiente para controlar a escalada do dólar. O banco estima que, caso seja eleito um candidato que não defenda a reforma da Previdência e o controle dos gastos públicos, e mude a política econômica, o dólar chegará a R$ 5,25 no fim do ano, e o risco-país passará de 500 pontos, mais do que o dobro do patamar atual.



No cenário em que um candidato reformista ganhe, o risco cairia a 150 pontos, e o dólar iria para R$ 3,40. Já em uma situação intermediária, na qual o eleito passe a mensagem de que manterá a política econômica, o dólar ficaria entre R$ 4,40 e R$ 4,50.



O economista-chefe da corretora Nova Futura, Pedro Paulo Silveira, ressalta que os investidores estão realinhando suas expectativas sobre as eleições. Importadores e empresas com dívida em dólar, por exemplo, correm atrás de proteção, o que aumenta a demanda pela moeda americana e faz a cotação subir. O fluxo de dólares para o país é positivo, principalmente em razão do aumento das exportações.



- A alta do dólar é um processo que só vai ter fim após as eleições. Ainda tem espaço para o real se desvalorizar e a Bolsa cair. Eu vejo o dólar passando de R$ 5. Ainda assim, é abaixo do que aconteceu em 2002, com a eleição do Lula. O dólar chegou a R$ 4, mas, corrigido pelo IPCA e pela inflação ao consumidor nos Estados Unidos, essa cotação é equivalente hoje a R$ 7,20 - explicou.



O presidente do BC ressaltou que ainda não havia sido necessário ampliar sua atuação porque o fluxo de recursos para o país é positivo. Ilan, porém, admitiu que houve uma mudança relevante no cenário externo, que reduziu o apetite dos investidores pelas economias emergentes. Mas ressaltou que o Brasil tem fundamentos sólidos para suportar esse choque externo, com conta corrente equilibrada e um grande volume de investimentos externos:



- Nosso balanço de pagamentos, se comparado com os de outras economias emergentes, é muito mais confortável. Temos o equivalente a 20% do PIB em reservas.



Ilan evitou dizer se o país estaria sendo alvo de um ataque especulativo. O mercado vinha apostando se, após Argentina e Turquia, não seria a vez do Brasil.



- Isso tudo tem a ver com o momento mais turbulento no mercado. O real tem sofrido depreciações ou não. E também tenho dito: não vemos problema nenhum, inclusive, de passar ou não do máximo histórico de swap. JUROS NÃO SERÃO USADOS PARA FREAR DÓLAR Ele disse que a alta do dólar será tratada por mecanismos apropriados, não pela elevação dos juros:



- A política monetária olha para a perspectiva de inflação e não será usada para controlar a taxa de câmbio - afirmou, afastando rumores de uma reunião extraordinária do Copom. - Nunca ninguém falou sobre isso.



No entanto, a expectativa de um aumento da Taxa Selic desencadeou a elevação dos juros no mercado futuro. Os contratos do DI com vencimento em janeiro de 2020 passaram de 8,06% para 8,84%, tendo atingido, na máxima, 9,25%. Já os que vencem em janeiro de 2021 foram de 9,23% para 9,77%, batendo 10,31% na máxima.



Uma sondagem da XP Investimentos com 204 investidores institucionais mostra como os cenários eleitorais podem afetar a cotação do dólar e os juros. Eles preveem crescimento mais fraco e, se tivessem dinheiro investido no Brasil, estariam muito preocupados. A maior parte desses investidores (44%) acredita num segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) e avaliam que o dólar tem mais chance de ficar entre R$ 3,80 e R$ 4, com a vitória de um dos dois. Segundo fontes do mercado, isso teria influenciado a cotação do dólar.



- O mercado apostou numa agenda econômica que não saiu. O governo até tentou novas medidas, mas é pato manco - avaliou Julio Hegedus Netto, economista-chefe da Lopes Filho & Associados.



Outro fator é a piora do humor dos investidores em relação ao Brasil após a greve dos caminhoneiros. O acordo costurado pelo governo terá custo fiscal. Pesquisas de opinião que mostraram o apoio da população a algum tipo de controle no preço dos combustíveis e a rejeição a uma eventual privatização da Petrobras sinalizaram que um candidato com agenda econômica mais reformista estaria com menos chances na corrida eleitoral.



O cenário político foi citado pela agência de classificação de risco Fitch, que divulgou um relatório em que avalia que as notas de crédito das empresas estão em tendência positiva em todos os países da América Latina, menos no Brasil. "A turbulência política em curso continua sendo uma das principais ameaças para as empresas brasileiras em 2018", disse Debora Jalles, diretora da Fitch.



Apesar da alta do dólar, o presidente Michel Temer negou que haja risco de crise cambial. Ele creditou o movimento à expectativa de elevação de juros nos EUA.



- Não há risco (de crise cambial). É natural, o dólar varia muito - afirmou Temer.


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