Leitura de notícia
Estado de Minas Online ( Opinião ) - MG - Brasil - 15-05-2018 - 08:15 -   Notícia original Link para notícia
Os bancos e os juros

Em tempos de retomada do crescimento econômico, sempre surgem debates sobre quais são os entraves para que a economia alavanque novamente. Entre tantos, existe um que afeta tanto as empresas quanto as famílias e o próprio governo, que é a taxa de juros. No caso brasileiro, especificamente, diversos esforços foram e são feitos com o objetivo de reduzir essa taxa, que, no entanto, continua a se manter elevada. As justificativas para tal são muitas, porém, uma é muito significativa, já que diz respeito à participação do setor bancário na questão, pois aí, nesse caso, existe uma relação de criatura e criador.


 


Inicialmente, pode-se levar em conta o seguinte mantra: quando uma coisa é ruim para todos, ela tende a não existir, a desaparecer. De modo que se os juros são estratosféricos, como em alguns casos, simplesmente alguém está lucrando com essa situação, pois, caso contrário, não seria tão alto. Contudo, a desproporcionalidade no caso brasileiro vem chamando à atenção, a começar pela relação biunívoca do governo com o sistema financeiro, já que esse financia suas dívidas e, por outro lado, espera receber, com algum lucro, o que foi emprestado. Porém, ao analisar de uma forma muito superficial, sem adentrar em tecnicismos e algumas nuances, fica evidente a relevância da estrutura do setor bancário no Brasil. Embora não exista nenhuma restrição à entrada e criação de novos bancos.


 


Basicamente, o setor bancário é composto por cinco grandes bancos, sendo eles públicos, privados e um estrangeiro. Tal formação de mercado sinaliza um setor fortemente concentrado, embora sempre existam controvérsias a respeito, a começar pela existência de uma acirrada concorrência entre os bancos. Como de fato existe essa peculiaridade, a concorrência, por sua vez, passa ao largo no que tange à preservação de suas margens de lucros, pois não é do interesse dos bancos que haja uma concorrência com esse viés, podendo levar a uma perda para todos os participantes, de modo que prevalece um acordo tácito entre as parte no tocante a manutenção do seu status quo. A concorrência passa a ter outra abordagem.


 


Basicamente, essas instituições têm o controle sobre a oferta de crédito para o mercado, e seu lucro, no período de 2014 a 2017, foi de R$ 244 bilhões, apesar dos calotes ao longo deste período. Contudo, é preciso observar que tal volume de recursos auferidos, além de ser oriundo de uma inflação alta, instabilidade cambial e das diversas crises ocorridas, possui ainda dois pontos de sustentação relevantes. O primeiro diz respeito aos spreads elevados e, entre os motivos que dão sustentação a tal, estão as crises ocorridas - sempre elas -, o próprio Judiciário, no tocante a capacidade de recuperar as garantias dadas, os custos significativos e, também, os lucros elevados das instituições financeiras. Contudo, um se faz particular, que trata da inadimplência, algo bem conhecido no cotidiano que também leva à reflexão se a inadimplência não é tão alta em função dos juros elevados. Uma discussão que, quando começa, é difícil de terminar.


 


O segundo ponto é a facilidade com que essas instituições têm em criar novos produtos, por exemplo, produtos de previdência, capitalização, cartão de crédito, entre outros, e, principalmente, na criação e cobrança de tarifas, algumas delas até então nunca cobradas, gerando rendas que, mesmo em momento de crise, conseguem alavancar significativamente os seus resultados. Uma peculiaridade bem brasileira
O surgimento de bancos de porte médio, bem como a criação das, fintechs - startups do setor financeiro -, caracterizam esse segmento, como uma alternativa à suposta concentração bancária. Contudo, tal faceta requer muita cautela. Por que? Os próprios grandes bancos passam a observar esse segmento e a nele passam a investir, aumentando, assim, seu poderio no setor. A título de ilustração, ocorreu recentemente a aquisição, por parte do Banco Itaú, de 49% da XP Investimentos, em função do desenvolvimento de tecnologias inovadoras em relação a aplicações financeiras.


 


A busca por oportunidades de negócio que se transforme em lucro é uma faceta inerente ao sistema capitalista. Faz parte do jogo. O sistema bancário, assim como qualquer outro, não se faz de rogado em adotar esse lema. Porém, dada algumas características da economia brasileira, esse segmento passa a ter uma relevância que sobressai ao usual. Ter um sistema bancário forte e sólido é essencial para o país, mas, muitas vezes, certos arranjos podem acabar sendo vistos não como uma vantagem, mas como um empecilho à retomada do crescimento. A discussão continua aberta.


Nenhuma palavra chave encontrada.
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.