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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 15-05-2018 - 07:17 -   Notícia original Link para notícia
Pressão nos preços

Com escalada de dólar e petróleo, indústria reduz margens, mas deve reajustar produtos em junho


As fortes altas do dólar, que ontem atingiu R$ 3,62, e do barril de petróleo devem pesar ainda mais no bolso do consumidor. Alguns setores, como o de pães industrializados e eletroeletrônicos, que estão segurando reajustes para evitar retração do consumo, preveem aumentos de preços a partir de junho. As indústrias química e de combustíveis já incorporaram a pressão dos custos. O aumento nas cotações do dólar e do petróleo nas últimas semanas acendeu o alerta das empresas. Levantamento feito pelo GLOBO mostra que indústrias tão diversas como as de trigo e eletroeletrônicos têm segurado os repasses para evitar a queda no consumo. Mas, com margens mais reduzidas, afirmam que, se a tendência persistir, o consumidor começará a sentir no bolso em junho os reflexos da escalada da moeda americana, que chegou ontem a R$ 3,62, e do barril do Brent, que já supera os US$ 78. Estes segmentos vão se juntar a outros, como a indústria química e a de combustíveis, que já incorporaram no preço dos produtos a pressão nos custos.



Somente neste ano, a divisa subiu 9,5%. O barril do petróleo acumula avanço de 19% até ontem. A expectativa, dizem economistas, é que os preços continuem subindo no mercado internacional em meio a tensões geopolíticas com a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã, a expectativas de aumento de juros nos EUA e a incertezas com a eleição no Brasil.


De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães (Abimapi), as empresas ainda não repassaram para os consumidores os preços maiores do trigo, cujo valor segue a cotação do dólar. Claudio Zanão, presidente executivo da Abimapi, lembra que o trigo mais caro se reflete na farinha de trigo, matéria-prima para pães, que responde por 70% do custo dos produtos.


As empresas estão absorvendo os custos crescentes e reduzindo suas margens. Estamos tentando segurar o aumento, mas não vai ter jeito. Os custos para as empresas já subiram 10% no último mês. E o repasse vai ocorrer conforme o dólar subir - disse Zanão.


'NÃO VAI CRIAR UM CHOQUE NA ECONOMIA' O embaixador Rubens Barbosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), lembra que o preço para a indústria já subiu 40% neste ano. Um fator adicional de pressão é que os exportadores argentinos estariam adiando embarques de trigo ao Brasil à espera de novos aumentos na cotação do dólar para elevar ganhos.


- A safra brasileira foi ruim, o que ajudou os preços a subirem. Temos um problema para abastecer o mercado até setembro deste ano, quando começa a colheita. Os moinhos brasileiros estão sofrendo com a falta de produto e estão preocupados em saber como vão conseguir atender à demanda. Estamos tentando que o governo autorize a importação de trigo fora do Mercosul sem as tarifas de importação - afirmou Barbosa.


Além dos pães, os fabricantes de eletroeletrônicos evitam aumentar preços num momento de demanda ainda fraca. Mas, segundo Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), se a cotação da moeda americana continuar em alta, o setor terá de repassar para o consumidor. Ele destaca que o segmento de eletroeletrônico importa US$ 25 bilhões por ano. Desse valor, 60% são componentes para televisores, celulares e computadores.


- As empresas estão segurando repasses, reduzindo margens. Ninguém esperava o dólar tão alto. É uma surpresa para as empresas, que têm seu balanço afetado. Vamos esperar o que acontece com o câmbio até o fim de maio e início de junho. Dependendo da evolução, o repasse vai acontecer, e os descontos, comuns em produtos que estão sendo lançados, vão ser menores - disse Barbato.


O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Aloisio Campelo destacou que as empresas vivem um momento difícil, pressionadas pela alta de custos e pelo consumo fraco:


- Há um desânimo e uma piora na confiança. As indústrias estão segurando o investimento. Mas as altas de petróleo e dólar pioram as contas das empresas. Se continuar subindo, não tem o que fazer, e haverá repasse. Mas isso não vai criar um choque na economia.


A inflação acumulada em 12 meses até abril está em 2,76%. Nos quatro primeiros meses do ano, porém, a taxa é de 0,92%, o menor patamar para o período desde o Plano Real. O centro da meta de inflação para este ano é de 4,5%.


Diferentemente do setor de alimentação, a indústria química já repassa parte dos custos. Dados da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) mostram que os preços dos produtos químicos básicos importados subiram 38% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Abiquim, lembra que os itens mais comprados no exterior são as matérias-primas para a produção de fertilizantes, defensivos agrícolas e fármacos. Entre o que é impor- tado e produzido no país, os preços dos produtos químicos básicos subiram 7,2% de janeiro a março.


- A indústria química já chegou ao seu limite de redução de custos e melhorias internas. O setor está pressionando seus clientes. Há um limite para repassar os custos. As altas do dólar e do petróleo podem estimular a produção nacional de químicos, que hoje tem ociosidade de 20%. A dependência de importações no segmento deixou o país vulnerável às flutuações do câmbio e dos preços - observou Fátima.


'NÃO DÁ PARA REPASSAR TUDO' O economista Paulo Bruck diz que não há espaço na economia para um repasse imediato. Ele lembra que o comércio tem buscado novos fornecedores para amenizar as altas nos custos:


- Os aumentos nas cotações refletem a diferença de tempo entre a compra e a chegada da mercadoria. Em razão disso, o efeito na inflação tende a ser um pouco mais demorado.


O consumidor já sente no bolso a alta dos combustíveis. A Petrobras elevou o valor da gasolina para as refinarias de R$ 1,7072, no dia 14 de março, para R$ 1,933, no último dia 12, alta de 13,2%. No caso do diesel, o valor subiu 11,7% para R$ 2,2162. Outros fatores interferem no preço final como os impostos e os reajustes dos revendedores.


Fernanda Delgado, professora da FGV diz que o quadro econômico não permite repasse na mesma proporção:


- Não dá para repassar tudo. As cotações do petróleo e do dólar não dão sinais de que vão cair, o que é bom para as petroleiras.



Moeda americana alcança R$ 3,628, maior patamar desde abril de 2016



Mercado reage a pesquisa eleitoral sem avanço de candidato reformista


-SÃO PAULO- A escalada do dólar nas últimas semanas teve forte influência do cenário externo, mas, daqui para frente, cada vez mais a disputa eleitoral vai influenciar no comportamento da moeda americana. Ontem, isso já foi sentido. A divisa fechou em alta de 0,77% ante o real, cotada a R$ 3,628, maior patamar desde abril de 2016, sendo que, na máxima, chegou a R$ 3,64. O temor de uma alta de juros mais forte nos Estados Unidos fez o dólar subir em relação às moedas de emergentes, mas, no Brasil, o estresse foi maior e veio do ambiente político. O Ibovespa, principal índice de ações do mercado local, ficou praticamente estável (alta de 0,01%), aos 85.232 pontos.


Ignácio Crespo, economistachefe da Guide Investimentos, avalia que o dólar ganhou força este ano devido ao cenário externo. A partir de agora, a eleição começa a pesar mais.


- O cenário externo foi favorável durante boa parte do pregão, e houve a atuação do Banco Central, mas, mesmo assim, o destaque do dia foi a pesquisa eleitoral divulgada pela manhã. Até meados de julho, vamos ter um cenário político muito incerto e que vai se refletir nos preços - disse.


MUDANÇA NA ATUAÇÃO DO BC A pesquisa da MDA encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes mostrou o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde o fim de março, com 32,4% na pesquisa estimulada, seguido por Jair Bolsonaro, com 16,7%. No cenário sem Lula, Bolsonaro aparece com 18,3% das intenções de voto.


De forma geral, os agentes do mercado financeiro querem um nome que defenda as reformas econômicas. No entanto, nenhum dos pré-candidatos com essas características aparece com destaque na pesquisa. O ex-governador Geraldo Alckmin aparece com 4% das intenções de voto e 5,3% no cenário sem Lula.


- A pesquisa mostra Alckmin em uma posição ainda pouco privilegiada. Bolsonaro aparece forte, mas é uma incógnita para o mercado o que seria um governo dele, não só em termos econômicos - avaliou Crespo.


Vitor Suzaki, analista da Lerosa Investimentos, diz que é incômodo não ter um candidato reformista com força nas pesquisas:


- A pesquisa trouxe um cenário eleitoral bastante indefinido, com Geraldo Alckmin com desempenho fraco. E temos o dólar em alta, que afeta o endividamento das empresas.


Do lado externo, pesou o fato de Loretta Meste, presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano) de Cleveland, ter sinalizado que os juros deveriam subir mais neste ano.


- O dólar subiu forte e ganha não só do real, mas de outras moedas emergentes. O pior desempenho é da Argentina. Teve também a pesquisa da CNT - disse Luciano Rostagno, estrategista do Mizuho Bank, que cita que as pesquisas terão impacto maior mais próximo da eleição.


A valorização do dólar ocorreu mesmo com a mudança na atuação do Banco Central no mercado de câmbio. Até sexta-feira, ele apenas rolava contratos de swap cambial (equivalentes à venda de moeda no mercado futuro) que, se fossem mantidos, significariam a injeção de liquidez de US$ 2,85 bilhões no fim do mês. A autoridade monetária decidiu lançar novos contratos, mas a estratégia fez pouco efeito.



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