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O Globo Online (RJ) ( Rio ) - RJ - Brasil - 11-05-2018 - 07:53 -   Notícia original Link para notícia
E o Google sacudiu o mundo digital

Empresa deu um salto ao apresentar novas funções de sua assistente digital para a temporada de conferências do Vale do Silício


Entre maio e o início de junho ocorre a temporada das conferências para desenvolvedores, no Vale. Abre com a F4, do Facebook, passa pela Build, da Microsoft, daí Google I/O, e se encerra com a WWDC, da Apple. É uma oportunidade para as grandes empresas apresentarem a quem escreve programas os caminhos de suas plataformas. Em geral, com muita fanfarra, o que mostram mesmo são pequenos incrementos do que já existia. Muito raramente há algo realmente novo. Foi o caso do Google, este ano. Deu um salto - e, nesta, deixou todo mundo para trás. A sério.


O ANÚNCIO MAIS ESPETACULAR foi Duplex, um adicional à Assistente digital da plataforma. Quem tem celular Android conhece. A Assistente é aquela moça para quem damos comandos de voz. A Apple tem a Siri, a Amazon, Alexa, Samsung programa a Bixby, e a Microsoft, Cortana. Todo mundo tem a sua. Mas, com Duplex, a do Google liga para o salão de cabeleireiro, conversa com a atendente, marca um corte para segunda às 10h porque meio-dia já estava ocupado. E a moça do salão sequer desconfia que está conversando com um computador.


Muitas décadas atrás, o pai do computador, Alan Turing, propôs um teste para uma inteligência artificial. Ela passa no teste quando um ser humano travar uma conversa sem desconfiar que o papo se deu com uma máquina.


O Google passou no Teste de Turing. E, por si, este é um feito extraordinário.


Deixou também muita gente tensa. Será ético? Não custa deixar claro o que a tecnologia faz. Não dá para sacar o telefone e conversar com Google Duplex no bar sobre a vida, o universo e tudo mais. O sistema cumpre missões bem delimitadas: marca hora num salão, explica o serviço e põe na agenda. Pode fazê-lo também num restaurante. Possivelmente será capaz de resolver problemas no banco ou cancelar serviços daqueles que nos penduram três horas e meia ao telefone.


E daí o dilema ético: no primeiro momento, acentua um apartheid social. Enquanto pessoas mal pagas estão penduradas no telemarketing, quem tem acesso à tecnologia não precisa mais se dar ao trabalho de conversar com essa turma. Dificilmente dura muito tempo - na hora que robôs assumirem a burocracia, o processo todo vai se digitalizar, e aqueles empregos acabam.


De qualquer forma, Siri e Alexa sequer viram o caminhão passar. Terão dificuldades de se recuperar desta. Duplex, porém, não está pronto. Vai demorar um tempo para chegar ao consumidor final.


O que está pronto e chega em breve é o novo Android, versão P. Ele faz algo também radical: incentiva o usuário a não consultar seu telefone. Até agora, smartphones haviam sido criados para viciar. Uma engenharia cuidadosamente influenciada pela antropologia e psicologia para nos fazer consultar o aparelho a cada 5 minutos.


Com o novo Android, o usuário pela primeira vez terá ferramentas que lhe informam quanto tempo gastou no Twitter, no Facebook ou no e-mail. Quem achar que uma hora por dia nas redes já é demais pode colocar um timer: bateu naquele limite, o ícone do app fica cinza e não abre de jeito nenhum. Só se dando ao trabalho de voltar e reconfigurar.


Há macetes mais simples. Vire a tela de cabeça para baixo e luzes, bipes e tremores se calam. O aparelho para de ficar chamando sua atenção toda hora. Sim: é possível escolher um grupo de pessoas cujas ligações passam. Mas só aquelas. Dessa forma, o jantar com os filhos ou o chope com os amigos é poupado das tentações.



O vício em tecnologia é, cada vez mais, reconhecido como um problema. Ao invés de conectar, nos desconecta de quem está em volta. Pela primeira vez, um sistema de celular encara este monstro de frente. É só o início. Mas é uma baita transformação cultural no Vale.


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