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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 06-05-2018 - 09:13 -   Notícia original Link para notícia
Inclusão bancária na China avança com fintechs

País tem quatro mil empresas financeiras digitais. Crédito por celular aumenta mais de 200%


Quando o salário caiu na conta corrente no fim de março, o irlandês Ian Seymour, que vive na cidade de Guangzhou, no Sul da China, há pouco mais de dois anos, pagou aluguel, luz e gás por meio do aplicativo WeChat (o cruzamento de WhatsApp e Facebook com anabolizantes) que ele e outros 900 milhões de chineses têm no celular. A carteira virtual fica vinculada à conta. Também comprou passagens de trem e avião para duas viagens que faria. Naquele mês, recebeu na mesma conta de WeChat as contribuições da vaquinha virtual que organizou para uma festa que preparava. Foi dali que saíram os pagamentos dos fornecedores. O dinheiro do evento não passou pela sua conta bancária.


ANTHONY KWAN/BLOOMBERGNa palma da mão. Jovem usa smartphone ao lado de anúncio do Ant Financial Services Group. Transações bancárias com celular crescem acima de 100%


De janeiro a outubro de 2017, as transações financeiras digitais na China bateram novo recorde: chegaram a 81 trilhões de yuans, ou cerca de US$ 12,8 trilhões, segundo o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação. Nos Estados Unidos, segundo o eMarketer, essas operações somaram US$ 50 bilhões em 2017.


- Pago tudo pelo telefone. Mando dinheiro para amigos, divido a conta do restaurante usando o aplicativo. Não dependo mais de dinheiro em espécie. Já peguei até empréstimo com uma empresa que anunciava no meu celular, sem precisar ir ao banco - disse o jovem de 26 anos.


NOVE UNICÓRNIOS SÃO CHINESES


Este é apenas um dos segmentos de sucesso das fintechs, empresas financeiras digitais. Os chineses tomam empréstimos, aplicam recursos em fundos de investimento, contratam seguro, investem em ações, sem necessariamente usar o sistema financeiro ou o cartão de crédito. A explosão deste mundo de possibilidades em um sistema financeiro virtual, que cresce às margens dos canais tradicionais, tem sido um dos combustíveis do crescimento da segunda maior economia do mundo, que, embora já não venha registrando expansão na casa de dois dígitos, como nas últimas décadas, mantém-se a um ritmo acelerado de 6,5% ao ano. Dos 27 unicórnios (as startups de valor superior a US$ 1 bilhão) das fintechs que existem no mundo, nove estão na China.


No Brasil, o governo recentemente aprovou nova regulamentação para as fintechs. O objetivo é incentivar o crescimento deste setor e aumentar a concorrência no setor bancário, para reduzir os juros ao consumidor.


Para Oliver Rui, professor de Finanças da China Europe International Business School, de Xangai, que trabalha no grupo de investimento Zhongkun, essas companhias estão democratizando o acesso ao crédito e promovendo a inclusão social, além de obrigar os tradicionais gigantes do setor a se adaptar aos novos tempos. Cidadãos comuns, pequenas e microempresas, que não têm acesso a crédito no sistema tradicional, passam a ter. A China estaria prestes a viver uma revolução neste setor da economia, na avaliação do professor.


CUSTO MENOR NO CELULAR


Essas empresas, cerca de quatro mil no país até o ano passado, tiraram os grandes bancos da sua zona de conforto. Eles estão investindo bilhões em novas tecnologias, reestruturando departamentos e incorporando os setores de novos aplicativos e áreas de internet nos departamentos comerciais. E são estimuladas pelo governo, que passou a se debruçar sobre nova legislação para este segmento, que vive em uma espécie de limbo que as autoridades aceitam, pois são fontes de estímulo para economia.


- A China está contando com o financiamento indireto para crescer. O governo quer diversificar canais de financiamento e isso se faz investindo em inovação e cortando custos - disse Rui.


A tecnologia está remodelando o comportamento das pessoas. De acordo com o professor, as pessoas vão ao banco de uma a duas vezes por ano. Fazem operações por telefone de cinco a dez vezes por ano. O crescimento de pagamentos pela internet na China foi de 55,4% em 2015, e dos pagamentos por celular, de 104,2%. Nos caixas eletrônicos, são de três a cinco transações por mês. Os empréstimos concedidos pelas fintechs saltaram de 252 milhões de yuans (cerca de US$ 39 milhões) em 2014, para 982,3 milhões de yuans (quase US$ 154 milhões) em 2015. Trata-se de expansão de 289%. Espera-se que os saltos anuais sigam na casa dos 200%.


As pequenas e médias empresas, que contribuem com 60% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, não costumam ter acesso fácil a crédito e, por isso, são usuárias das novas modalidades.


- Enquanto o custo de uma operação na agência do banco é de US$ 4, pela internet sai a US$ 0,17, e pelo celular, US$ 0,08. Pelo computador, de US$ 7 a US$ 10 por mês. E pelo telefone, de US$ 20 a US$ 30 por mês - afirma Rui.


A Yu E Bao, criada em julho de 2013, tinha 2,5 milhões de usuários 18 dias após seu lançamento. Um ano depois, tinha mais de cem milhões. Eles concedem crédito de 5.000 yuans, ou cerca de US$ 770. Nos maiores bancos, as transações digitais já respondem por 80% das operações.


Segundo o professor, nem todas as empresas têm acesso ou oferecem dados confiáveis sobre quem toma crédito. Das cerca de 4 mil empresas que operam no setor, em cerca de mil foram identificadas fraudes:



- Tudo isso pode criar uma espécie de bolha de crédito, caso o sistema não seja confiável. Mas pode ser a chave para o sucesso da inclusão e do aumento do crédito no país.


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