Leitura de notícia
O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 01-05-2018 - 09:38 -   Notícia original Link para notícia
Setor público tem pior março em 17 anos com déficit de R$ 25,1 bi

Graças a resultado de janeiro, trimestre registra superávit de R$ 4,4 bi



-BRASÍLIA E RIO- O setor público consolidado encerrou março com um resultado negativo de R$ 25,1 bilhões, o pior desempenho para o mês em 17 anos - o maior rombo da série histórica, iniciada em dezembro de 2001. Isso significa que as despesas do setor público superaram as receitas com impostos e tributos. Os dados, divulgados ontem pelo Banco Central, incluem as contas do governo federal - que é a maior fatia do resultado -, das estatais, dos estados e dos municípios. A conta não inclui as despesas com o pagamento dos juros da dívida pública.



No primeiro trimestre, o número ainda é positivo, um superávit de R$ 4,4 bilhões, mas essa não é a tendência para o restante do ano. Segundo analistas, o país segue no caminho para cumprir a meta fiscal deste ano, que é de um déficit máximo de R$ 161,3 bilhões.



- Essa meta é praticamente a mesma do ano passado. Se em 2017 o governo conseguiu cumpri-la com a economia patinando, este ano, com a perspectiva de melhora da atividade e consequentemente da receita, será mais fácil - observa Fábio Klein, economista da Tendências Consultoria Integrada.



No acumulado em 12 meses até março, o rombo está em R$ 108,4 bilhões ou 1,64% do Produto Interno Bruto (PIB).



O resultado negativo de março foi puxado por outro déficit histórico, de R$ 24,8 bilhões, do governo central (formado por Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social). Foi o pior desempenho para meses de março em 22 anos. O governo disse que o resultado ruim foi influenciado pela decisão de antecipar o pagamento dos precatórios (pago quando a União perde em causas judiciais) para março e abril. Em 2017, esses valores foram pagos em maio e junho. Economistas observam, no entanto, que, mesmo excluindo esse movimento, ainda haveria déficit e ele seria o pior resultado para o mês de março em 22 anos. No ano, o governo central tem um déficit de R$ 8 bilhões.



- Com a exclusão do pagamento dos precatórios, ficaria em R$ 14 bilhões, frente aos R$ 11 bilhões registrados em março de 2017 - pontua Klein. SITUAÇÃO FISCAL SEM PERSPECTIVA Já o resultado positivo no trimestre é considerado excepcional.



- O resultado do trimestre é enganoso, pois só foi alcançado graças à arrecadação fora do comum de janeiro, quando pesaram o Refis e o aumento do PIS/Cofins sobre os combustíveis. Não há perspectiva de melhora para a situação fiscal do país enquanto as reformas estruturais não forem encaradas, especialmente a da Previdência e a tributária - avalia Kleber Pacheco de Castro, consultor em finanças públicas da Finance Consultoria Econômica.



Segundo Castro, ainda que os governos estaduais e municipais estejam passando por um período crítico, do ponto de vista fiscal, geralmente eles são pouco relevantes na determinação do indicador agregado. No mês, os governos regionais tiveram um desempenho positivo de R$ 552 milhões. Tanto estados quanto municípios tiveram resultados positivos. No ano, o superávit é de R$ 13,1 bilhões. Já as estatais registraram déficit de R$ 156 milhões em março e de R$ 721 milhões no trimestre.



Com os gastos com Previdência avançando sobre o Orçamento, o governo tem dificuldades de equilibrar receitas e despesas. Boa parte dos gastos que existem hoje é obrigatória, como aposentadorias e folha de pagamento dos servidores. Assim, sobra pouco para ser cortado, e o ajuste das contas acaba avançando sobre os investimentos. A dívida bruta do governo já chega a 75,3% do PIB, segundo o Banco Central, e o estoque é de R$ 4,9 trilhões.



- A tendência crescente de déficit se dá pelo excesso de vinculação de receitas em favor de um rol de despesas, principalmente da Previdência. Parece que é falta de criatividade dos analistas de contas públicas falar tanto em Previdência, mas não é. É preciso bater nessa tecla quantas vezes forem necessárias para mostrar que isso já é um grande problema, mas que ainda pode ser contornado. Se deixar como está, talvez o INSS passe por situações como as que estão sendo observadas nas previdências estaduais, como atraso em pagamento de aposentados e pensionistas. Hoje, o INSS explica o déficit do setor público praticamente sozinho - diz Castro, da Finance. ITAÚ: DÚVIDA SOBRE O FUTURO DOS JUROS O banco Itaú ressaltou ainda, em relatório assinado pelo economista Pedro Schneider que, sem essas reformas, aumenta a chance de o governo não conseguir cumprir a emenda constitucional do teto de gastos a partir de 2019. Consequentemente, crescem "as dúvidas sobre a manutenção da retomada da atividade econômica e das taxas de juros em patamares baixos à frente". Hoje, a Selic está em 6,5% ao ano, e as apostas são de um novo corte, para 6,25%, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, que ocorre em meados deste mês.



A expectativa é que as contas públicas só voltem a ficar no azul em 2022.


Nenhuma palavra chave encontrada.
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.