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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 26-04-2018 - 11:02 -   Notícia original Link para notícia
Dólar em trajetória de alta

Moeda americana vai a R$ 3,468, com expectativa sobre juros nos EUA e eleições no Brasil



A tendência global de valorização da moeda americana, por causa da expectativa de elevação mais rápida dos juros nos EUA, levou o dólar comercial à quinta alta consecutiva, fechando a R$ 3,486, maior cotação desde 16 de junho de 2016. O dólar comercial registrou ontem sua quinta alta consecutiva, seguindo a tendência global de valorização da moeda devido à expectativa de uma elevação mais rápida do que o previsto dos juros nos Estados Unidos. Na máxima do dia, a divisa americana atingiu R$ 3,517, mas depois perdeu força e fechou com valorização de 0,46%, a R$ 3,486, maior cotação desde 16 de junho de 2016. No mês, o dólar acumula alta de 5,6%; no ano, o avanço é de 5,16%. E, ainda que o movimento da moeda americana seja global - o índice Dollar Spot, da Bloomberg, que mede a divisa frente a dez moedas, avançou 0,45% -, alguns analistas veem influência do cenário eleitoral ainda indefinido.



O dólar turismo acompanhou o movimento. Nas casas de câmbio, a moeda chegou a ser negociada a R$ 3,88 no cartão pré-pago, já incluindo o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Em espécie, as cotações oscilaram entre R$ 3,62 e R$ 3,73.



No mercado de ações, a B3 fechou em queda, com o Ibovespa, índice de referência da Bolsa, recuando 0,50%, aos 85.044 pontos.



Mais uma vez, a pressão sobre o dólar vem dos títulos do Tesouro americano, os Treasuries, cujos juros ultrapassaram os 3% pela primeira vez desde 2014 na terça-feira. O título de dez anos é um dos papéis mais importantes das finanças globais. A taxa de juros associada a ele - chamada de yield pelos agentes do mercado - reflete quanto os investidores estão cobrando para emprestar ao governo americano. Ontem pela manhã, o Treasury de dez anos voltou a quebrar a barreira dos 3%, registrando yield de 3,03%.



'DÓLAR DEVE RONDAR ENTRE R$ 3,40 E R$ 3,60' Esse movimento, segundo analistas, se explica pela expectativa de que o aquecimento da economia dos EUA levará o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a acelerar o ritmo de elevação de sua taxa de juros básica, atualmente entre 1,5% e 1,75% ao ano. Isso eleva o custo de captação de recursos para os investidores, fazendo com que eles cobrem mais do governo. Foi determinante para a alta dos últimos dias a valorização de commodities como o petróleo e os metais básicos, devido às sanções americanas contra a Rússia e à ameaça de Donald Trump de desfazer o acordo com o Irã. Com a alta das commodities, os economistas já veem uma aceleração da inflação americana, o que coloca ainda mais pressão sobre o Fed para elevar seus juros.



Para o economista-chefe para América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos, a valorização do dólar frente ao real não representa um risco macroeconômico, dados o baixo nível de inflação, as contas externas controladas e a redução da alavancagem em moeda estrangeira das companhias brasileiras.



- É óbvio que o dólar tem algum impacto na inflação, mas não o suficiente para que ela represente um problema. Aliás, não necessariamente uma maior pressão inflacionária é algo ruim - disse Ramos, que não espera uma atuação do Banco Central. - Estamos longe de um overshooting (maxidesvalorização). O dólar deve rondar entre R$ 3,40 e R$ 3,60 daqui para frente. E o cenário eleitoral vai influenciar bastante, dadas sua complexidade e a falta de garantia de que haverá continuidade do processo reformista.



De acordo com o economista, um efeito palpável é a diminuição do espaço para que o Banco Central reduza mais a taxa básica de juros (Selic). Ele espera um corte em maio, dos atuais 6,5% para 6,25% ao ano:



- Essa elevação recente do dólar elimina a possibilidade de haver outro corte em junho.



Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, também acredita que o corte de juros em maio será o último, com a Selic permanecendo em 6,25%. E diz que não é hora de intervir no câmbio:



- O BC precisa usar esse momento para reforçar que o câmbio é flutuante. Não estamos sofrendo um ataque especulativo. O mercado terá que absorver esse movimento. Do ponto de vista inflacionário, a economia tem muita margem para absorção, com os preços subindo a ritmo baixo e diante da grande capacidade ociosa.



Com a alta do dólar e dos Treasuries, os juros futuros brasileiros também subiram. O contrato com vencimento em janeiro de 2021 avançou de 7,94% para 7,96%, e aquele com vencimento em janeiro de 2023 passou de 9,21% para 9,23%.



Apesar do pano de fundo internacional, os analistas citam a incerteza que ronda as eleições como um fator importante para a desvalorização do real. Teria pesado no mercado, segundo operadores, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de retirar da alçada do juiz Sérgio Moro trechos da delação da Odebrecht sobre o ex-presidente Lula. Teve impacto ainda a pesquisa Ibope que mostrou que Lula, mesmo preso, tem 22% das intenções de voto dos eleitores de São Paulo para a Presidência. Os agentes do mercado financeiro são favoráveis a um candidato que defenda a agenda de reformas.



Já os economistas Neil Shearing e Edward Glossop, da Capital Economics, veem um peso maior dos fatores domésticos no movimento do câmbio. Eles lembram que o dólar subiu 5,6% frente ao real no mês, contra média entre 1% e 2% nos emergentes. Só o rublo russo e o rand sul-africano perderam mais no período.





"A forte desvalorização do real nos últimos meses, em nossa opinião, tem mais a ver com acontecimentos locais - incluindo a crescente incerteza sobre o resultado das eleições de outubro - do que com a diminuição do apetite global para risco que pesou sobre a maioria das moedas de países emergentes nas últimas semanas", afirmaram em relatório. "Esperamos uma tendência de mais desvalorização nos próximos 12-18 meses."


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