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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 12-04-2018 - 07:24 -   Notícia original Link para notícia
Crise afeta mais os pobres

Desigualdade sobe em todas as regiões em 2017, menos no Sudeste. No país, fica estacionada





Um dos 15 países mais desiguais do mundo, o Brasil manteve a elevada taxa de concentração de renda em 2017, segundo o IBGE. Os pobres perderam mais renda que os ricos. O Índice de Gini - que quanto mais próximo de um indica maior concentração - ficou em 0,549, o mesmo de 2016. Apenas no Sudeste houve recuo desse indicador, e ainda assim devido à queda na renda dos mais ricos. Em todas as demais regiões ele cresceu e, na média, o país ficou estagnado na desigualdade. Houve perda de 0,56% no rendimento de todas as fontes, mas a queda dos rendimentos do trabalho foi maior: 1,36%. Juntos, os 10% mais ricos ganham o mesmo que os 80% mais pobres. O Brasil, um dos 15 países mais desiguais do mundo, viu a concentração de renda ficar inalterada em 2017, e os mais pobres foram mais afetados do que os ricos no ano passado. O Índice de Gini - que, quanto mais próximo de um, mostra que a renda é mais concentrada - ficou em 0,549, o mesmo de 2016. O agravante foi que apenas na Região Sudeste houve queda nesse indicador, o que pode ser explicado pelo recuo no rendimento dos mais ricos. A concentração aumentou no Norte, Nordeste, Sul e Centro-Oeste, mostrou o IBGE ontem, ao divulgar o comportamento do rendimento de todas as fontes em 2017, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc).







Carência. A diarista Maria Alessandra da Silva lava roupa no fosso da Catedral de Brasília. Em todas as regiões do Brasil, com exceção do Sudeste, a concentração de renda cresceu





- É mais um ano perdido, a renda não aumentou, a desigualdade não caiu - afirmou o economista Sergei Soares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).





Pela primeira vez, foi possível avaliar a evolução da desigualdade recente, já que os dados sobre todas as rendas na atual metodologia da Pnad passaram a ser compilados apenas a partir de 2016, numa pesquisa mais abrangente e completa.





Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, toma como exemplo o Rio para explicar a queda da desigualdade no Sudeste:





- Houve perda expressiva de emprego com carteira, com renda mais alta. A crise do petróleo também afetou trabalhadores com rendimento maior. ENTRE OS 5% MAIS POBRES, RENDA 38% MENOR Em 2017, houve queda de 0,56% no rendimento de todas as fontes, que inclui, além dos salários, aposentadorias, pensões, benefícios sociais como Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC), passando de R$ 2.124 em 2016 para R$ 2.112 em 2017. Nos rendimentos do trabalho, a queda foi mais intensa, de 1,36%. Mais forte ainda entre os que ganham menos. Entre os 50% mais pobres, o recuo foi de 2,45%. Essa massa de 43,4 milhões de trabalhadores passou a receber R$ 754, valor 20% menor do que o salário mínimo de R$ 937 vigente no ano passado. A distância entre a base da pirâmide de renda e o topo aumentou. Os 10% mais ricos perderam 2,98%, enquanto os 10% mais pobres viram os rendimentos caírem 15,2%. Entre os 5% mais pobres, a perda chegou a 38%. Nessa faixa, o rendimento mensal é de R$ 47:





- É preocupante essa queda na cauda inferior, uma faixa muito afetada pelo desemprego e pelo congelamento dos benefícios do Bolsa Família. O problema é que, entre os 5% mais pobres, houve uma queda de renda duas vezes maior que a média nos anos anteriores. São pioras sucessivas, houve nova piora num grupo que já tinha perdido 14% - afirmou Marcelo Neri, diretor da FGV Social.





Paulo (nome fictício), que cata latinhas de madrugada em Botafogo, foi um dos milhões de atingidos pelo desemprego. O estaleiro onde trabalhava até o início do ano passado faliu. Ele mora em Niterói com a mulher e quatro filhos (entre 8 e 13 anos). Vivem do salário da mulher, auxiliar de limpeza, e das latas que consegue catar. De dia, descansa em um barraco montado em um píer de pedra atrás do Aeroporto Santos Dumont, no Centro do Rio.





As desigualdades regionais se acirraram. No Nordeste, o Índice de Gini subiu de 0,555 para 0,567, fator preocupante, segundo analistas, por a região já ser a mais desigual no país. Em 2017, metade da população ganhava, em média, R$ 487, cerca de 50% do salário mínimo. Em 2016, a renda desse grupo correspondia a 57% do salário mínimo.





- É um grande aumento do Índice de Gini. Já era a região mais desigual, ficou mais ainda. Mas já vemos em 2018 uma melhora nos indicadores do mercado de trabalho no Nordeste - diz Neri.





A desigualdade alta no Brasil cria distorções na distribuição do bolo de rendimentos. Segundo o IBGE, os 10% que ganham mais concentram 43,3% da massa de rendimentos mensal, estimada em R$ 263,1 bilhões. Juntos, os 10% mais ricos recebem o mesmo que os 80% mais pobres da população. Com isso, 12,4 milhões de pessoas concentram a renda equivalente à de quase 100 milhões pessoas (99,6 milhões).





Os que estão no topo da pirâmide de renda, o 1% mais rico, manteve sua distância dos 50% mais pobres. Eles recebem 36,1 vezes mais que 50% mais pobres. No Nordeste, essa distância é ainda maior, de 44,9 vezes. Em 2016, a diferença era de 39,9 vezes. No Norte, essa diferença também subiu: passou de 31,9 vezes para 35,9 vezes.





- O Brasil é bastante desigual, encabeçando a lista de países mais desiguais do mundo. Essa desigualdade se materializa quando se olha região, cor, sexo ou escolaridade - afirma Azeredo, do IBGE. SALÁRIO DAS MULHERES É 77,5% DO DOS HOMENS Nos rendimentos do trabalho, a desigualdade se manteve no mesmo patamar. O Índice de Gini passou de 0,525 para 0,524. No Nordeste, a subida foi forte, de 0,545 para 0,550. As mulheres mantiveram a diferença salarial em relação aos homens. Elas recebem 77,5% do salário masculino: R$ 1.868 contra R$ 2.410. Mas já foi pior. Em 2016, as mulheres ganhavam 77,2% do que recebiam os homens. Entre negros e brancos, o fosso social permaneceu. Os pardos ganham o equivalente a 57% do salário dos brancos. Entre os pretos, a diferença é ainda maior: eles ganham somente 55,8% do salário do branco.





Além dos rendimentos do trabalho, caiu a parcela da população que recebia algum rendimento em 2017. Passou de 60,5% para 60,2%, o que Azeredo, do IBGE, considerou significativo:





- Reduziu o número de pessoas trabalhando, provocando queda na população com rendimento. A queda foi mais intensa no Nordeste, caindo de 57,1% para 56,5%.





Essa situação deve perdurar ainda até 2020, na avaliação de Soares, do Ipea. Ele lembra que há defasagem entre a reação da economia e a do mercado de trabalho:





- Não vejo uma reação antes de 2020. De qualquer forma, os níveis de desigualdade devem voltar a cair, mas lentamente, não como foi nos anos antes da recessão. O número de filhos está diminuindo, e o nível de escolaridade, aumentando. São fatores de longo prazo que jogam a favor da redução da concentração de renda.





Colaborou Márcia Foletto

















Aposentadorias respondem por um quinto da renda domiciliar





Desemprego alto explica aumento da participação, diz analista





A pesquisa sobre rendimentos dos brasileiros divulgada ontem pelo IBGE mostra que as aposentadorias e pensões têm forte peso no sustento das famílias. Na média, 19,8% da renda da população vêm dessa forma. A participação subiu em 2017. No ano anterior, esse tipo de rendimento equivalia a 18,7%. No Nordeste, o peso é ainda maior: 23,8% em 2017.





Segundo o economista Paulo Tafner, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP, esse peso de um quinto do rendimento domiciliar é similar ao encontrado em Escandinávia, França, Alemanha e outros países europeus:





- É um padrão muito alto e similar ao de países europeus que têm uma população muito mais envelhecida que a nossa. Isso é grave. A continuar nesse ritmo e com uma perspectiva de déficit fiscal que trava o crescimento, teremos um grupo pequeno de trabalhadores sustentando um enorme sistema de previdência.





Segundo Tafner, outra explicação é a crise econômica. Com o desemprego alto, a renda do trabalho cai - passou de 74,8% para 73,8% no rendimento total das famílias -, o que faz a parcela recebida de aposentadorias e pensões aumentar:





- Em situação de estabilidade, a parcela costuma ser menor. 29 MILHÕES DE BENEFICIÁRIOS O economista afirma que em outros países que têm perfil demográfico semelhante ao do Brasil, como Chile e Argentina, as parcelas no rendimento dessas transferências do governo são menores, entre 8% e 10%:





- Dado que o país ainda é jovem, a participação deveria oscilar nesse patamar de 10%.





No total da população, são 29,141 milhões de pessoas recebendo aposentadorias e pensões, alta de 2% frente a 2016.





O peso de aluguéis e arrendamento na média nacional ficou em 2,4%, e o dos benefícios sociais, como Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC), em 3,3%.









Cai número de lares que recebem Bolsa Família









Em 2017, 330 mil domicílios perderam o benefício, afetando 1,5 milhão de pessoas





-RIO E TERESINA- Em 2017, quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 1%, a parcela de domicílios que recebiam Bolsa Família caiu. Passou de 14,3% em 2016 para 13,7%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc). Essa queda significou menos 330 mil domicílios com o benefício. Como a média de moradores nos lares que recebem a ajuda do governo é maior - 4,8 pessoas, enquanto nos demais são 3,7 - isso indica que cerca de 1,5 milhão de brasileiros deixaram de contar com o Bolsa Família. O Nordeste concentrou a maior parte das famílias que perderam o benefício: menos 130 mil, 40% do total.





EFRÉM RIBEIROAjuda. Irenilda Dourado deixou de receber R$ 120 do Bolsa Família após perder documento da filha: "Faz muita falta"





O Bolsa Família é mais presente no Nordeste, onde 28,4% têm o benefício. No Norte, são 25,8%.





Também não houve reajuste no valor do benefício. No Brasil, o dinheiro de Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC) representa 3,3% da renda familiar. O trabalho continua sendo a principal fonte: 73,8% dos rendimentos, enquanto aposentadorias e pensões são 19,4%.





Irenilda Dourado, de 33 anos, parou de receber R$ 120 do Bolsa Família no ano passado, depois que perdeu a certidão de nascimento da filha numa enchente. Hoje, pede comida na rua para alimentar os dois filhos. Ela participava do programa desde 2013.





- Consegui tirar outra certidão, fiz novo cadastro, mas nunca mais recebi o Bolsa Família. faz muita falta - conta ela.





Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, a folha de pagamentos do Bolsa Família flutua mensalmente em virtude dos processos de exclusão e inclusão. Estas dependem do quantitativo de famílias habilitadas e estratégias de gestão da folha. (Cássia Almeida e Efrém Ribeiro, especial para O GLOBO)













Desemprego alto explica aumento da participação, diz analista





A pesquisa sobre rendimentos dos brasileiros divulgada ontem pelo IBGE mostra que as aposentadorias e pensões têm forte peso no sustento das famílias. Na média, 19,8% da renda da população vêm dessa forma. A participação subiu em 2017. No ano anterior, esse tipo de rendimento equivalia a 18,7%. No Nordeste, o peso é ainda maior: 23,8% em 2017.





Segundo o economista Paulo Tafner, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP, esse peso de um quinto do rendimento domiciliar é similar ao encontrado em Escandinávia, França, Alemanha e outros países europeus:





- É um padrão muito alto e similar ao de países europeus que têm uma população muito mais envelhecida que a nossa. Isso é grave. A continuar nesse ritmo e com uma perspectiva de déficit fiscal que trava o crescimento, teremos um grupo pequeno de trabalhadores sustentando um enorme sistema de previdência.





Segundo Tafner, outra explicação é a crise econômica. Com o desemprego alto, a renda do trabalho cai - passou de 74,8% para 73,8% no rendimento total das famílias -, o que faz a parcela recebida de aposentadorias e pensões aumentar:





- Em situação de estabilidade, a parcela costuma ser menor. 29 MILHÕES DE BENEFICIÁRIOS O economista afirma que em outros países que têm perfil demográfico semelhante ao do Brasil, como Chile e Argentina, as parcelas no rendimento dessas transferências do governo são menores, entre 8% e 10%:





- Dado que o país ainda é jovem, a participação deveria oscilar nesse patamar de 10%.





No total da população, são 29,141 milhões de pessoas recebendo aposentadorias e pensões, alta de 2% frente a 2016.





O peso de aluguéis e arrendamento na média nacional ficou em 2,4%, e o dos benefícios sociais, como Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC), em 3,3%.


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