Sobretaxa da China faz Bolsa de SP cair 0,82%. Dow perde 1,90%

Sobretaxa da China eleva temor de disputa com os EUA e faz Bolsa de SP cair 0,82%. Dow perde 1,90% -SÃO PAULO, BRASÍLIA E NOVA YORK- Um novo capítulo na guerra comercial entre Estados Unidos e China abalou os mercados financeiros, inclusive no Brasil. O governo chinês impôs US$ 3 bilhões em taxas a 128 produtos americanos, e já se espera uma retaliação por parte do presidente Donald Trump. Ele deve divulgar, até o fim desta semana, a lista dos produtos chineses alvo de sobretaxas de até US$ 60 bilhões - sem contar as tarifas sobre aço e alumínio, de 25% e 10%, respectivamente. Pesou ainda uma forte queda nos papéis de empresas americanas de tecnologia. O Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa brasileira, recuou 0,82%, aos 84.665 pontos. Já o dólar comercial avançou 0,36%, a R$ 3,313.

DREW ANGERER/GETTY IMAGES/AFPPreocupação. Operador na Bolsa de NY acompanha a queda dos índices: Trump pode retaliar

A lista da China, que prevê sobretaxas de até 25% sobre itens que vão de carne suína congelada a vinho, frutas e nozes, entrou em vigor ontem. Ela afeta cerca de US$ 3 bilhões em exportações dos EUA.

- O comércio global pode desacelerar, as cadeias globais de fornecimento podem ser afetadas, e os executivos ficarem mais cautelosos com investimentos - disse ao site CNN-Money John Toohey, diretor da corretora USAA, referindo-se a uma guerra comercial em larga escala.

Em Nova York, o índice Dow Jones caiu 1,90%, enquanto o S&P 500, mais amplo, registrou desvalorização de 2,23%. A Bolsa eletrônica Nasdaq teve queda de 2,74%. BRASIL AINDA SEM POSIÇÃO SOBRE CHINA O governo brasileiro, no entanto, ainda não tem uma posição sobre a lista de sobretaxas da China, afirmou ontem o secretário de Comércio Exterior do Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Abrão Neto. Entre os produtos de interesse do Brasil estão carne suína, suco de laranja e frutas.

- Ainda estamos avaliando impactos de medida chinesa, que é recente. Mais do que o espaço que a medida pode criar para os produtos brasileiros, uma escalada na disputa comercial entre duas potências como a China e os EUA seria prejudicial ao comércio mundial - disse Neto.

Com relação à sobretaxa para aço e alumínio importados, o Brasil está temporariamente a salvo, enquanto as autoridades dos dois países debatem o assunto. Os negociadores brasileiros tentam convencer as autoridades americanas a excluírem o país definitivamente da sobretaxa. Neto se disse confiante com relação à exclusão do Brasil.

A queda do Ibovespa só não foi maior devido ao desempenho das ações da Vale. Os papéis subiram 1,87% após a divulgação da nova política de dividendos da empresa. Entre as ações mais negociadas, as preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras caíram 2,38%, a R$ 20,90, enquanto as ordinárias (ON, com voto) recuaram 2,65%, a R$ 22,74. O barril do petróleo tipo Brent teve queda de 2,52%, a US$ 67,59.

O presidente do Eurasia Group, Ian Bremmer, afirmou, no programa "CBS This Morning", que a China, por enquanto, quer apenas mostrar que pode prejudicar os EUA.

- Eles querem mostrar a Trump que, se ele continuar, vão bater com força - disse Bremmer, alertando que os dois lados têm a perder com uma guerra comercial. - A China vai perder mais. Nossa economia é muito maior.

Mas, para a consultoria KPMG, se a disputa entre EUA e China escalar para uma guerra comercial plena, "a economia global levaria mais tempo para se recuperar" do que na crise financeira de 2008. A afirmação foi feita por Brendan Rynne, economista-chefe da KPMG Australia, ao site Financial Review.