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Estado de Minas Online ( Feminino e Masculino ) - MG - Brasil - 25-03-2018 - 11:09 -   Notícia original Link para notícia
Design sustentável

Nomes conhecidos pelo trabalho autoral desenvolvem móveis e peças utilitárias com madeiraaclamada pela sustentabilidade, mas que não deixa de se destacar pela beleza e eficiência


Celina Aquino


Publicação:25/03/2018 04:00



Poltrona Mahog, de Juliana Vasconcellos e Natheus Barreto

Em um país com tanta diversidade de árvores, não é nada surpreendente encontrar novas espécies. A mais recente descoberta para o design tem, curiosamente, o nome de mogno africano, porque vem da Costa do Marfim. O tom avermelhado, a textura acetinada e os desenhos expressivos chamam a atenção de designers como a mineira Juliana Vasconcellos e o paulista Paulo Alves. Ambos fazem parte do Mahog Project, criado pela Associação Brasileira dos Produtores de Mogno Africano (ABPMA) há cinco anos para mostrar todo o potencial da madeira.



O mogno africano tem muita influência no trabalho de Juliana Vasconcellos como designer. Integrante do Mahog Project desde o início, a arquiteta usou a madeira para testar possibilidades artísticas e encontrar a sua identidade. Para ela, essa madeira tem mais qualidade e beleza que muitas outras existentes no mercado. "Além de ter uma dureza adequada, acho maravilhosa a cor, que é um pouco rosada, e muito elegantes os desenhos dos veios. Tudo isso enrique a peça, principalmente porque gosto de trabalhar linguagens simples", detalha a mineira, que desenvolve mobiliário.



Juliana ainda considera o mogno africano versátil, tanto que já trabalhou com lâminas e madeira maciça. A última experiência dela com o material resultou em três cadeiras, que formam o conjunto de nome Tri, lançado no ano passado. A inspiração veio das formas de um triângulo, um círculo e um retângulo. "Quis fazer uma coleção com essas três formas geométricas e a partir delas cheguei a desenhos que são muito limpos, sem muito enfeite. As peças têm formas simples, porém fortes", aponta. Cada cadeira conta com três apoios e assento redondo de veludo.



A poltrona Mahog também faz parte do acervo. Juliana utilizou madeira maciça para fazer a estrutura e revestiu o assento com juta trançada a mão em parceria com Matheus Barreto. Dessa forma, ela une o rústico e o elegante em uma única peça. Outro móvel de mogno africano assinado pela designer é a mesa Geo. "Pensei em uma representação contemporânea do encontro de uma estalactite e uma estalagmite. Então, empilhei uma série de formas de madeira redondas e quadradas, que são delicadamente conectadas por um tubo de latão fino", descreve.



O mogno africano chegou ao Brasil há 44 anos pelas mãos de um cônsul da Costa do Marfim, que trouxe seis mudas de presente para um pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) do Pará. De lá saíram as sementes que deram início aos plantios no país. Minas Gerais é considerado o maior polo produtor dessa madeira.



Diferentemente do mogno brasileiro, de origem amazônica, que não pode ser comercializado devido à ameaça de extinção, o mogno africano é destinado ao corte, então já nasce como uma madeira sustentável. "O cônsul da Costa do Marfim fez a previsão de que o mogno africano seria o ouro verde do Brasil, e estamos acreditando isso. Ele deve ter pensado que estava trazendo a solução para o desmatamento das florestas", observa a diretora-executiva da ABPMA, Patrícia Fonseca.



O mogno africano tem sido muito usado na indústria naval e na construção civil, mas Patrícia acredita que a vocação dele está na indústria moveleira, por isso a associação criou o Mahog Project. É um coletivo de profissionais que aceitaram o desafio de desenvolver peças com a madeira. "Como você cria desejo no consumidor? Entregando o mogno africano para os melhores designers", pontua. Zanine de Zanine, Hugo França, Maurício Azevedo e Heloisa Crocco já fazem parte do grupo, que agora também conta com Rodrigo Ohtake e Olavo Machado.

DIVERSIDADE A madeira está no centro do trabalho de Paulo Alves. "Das matérias-primas que temos a mão, é a que tem mais proximidade com a temperatura do corpo humano, então existe uma troca, diferentemente de trabalhar com vidro ou aço, que são frios. Toque para mim é o principal, mais que cor e textura", opina. A ideia do designer é entender e valorizar a diversidade (ele estima que já trabalhou com 40 espécies), então ele não hesitou em conhecer o mogno africano.



O designer começou pelo aparador Mogno, que consiste em uma prancha suspensa por quatro galhos. Em uma das laterais, ele escavou a superfície para criar uma fruteira embutida, o que ajudou a realçar o acetinado da madeira. Depois Paulo desenvolveu, em parceria com o carioca Zanini de Zanine, um banco cujo assento é um tronco in natura, e ainda fez todo o mobiliário do restaurante Balaio, no Instituto Moreira Salles, com mogno africano. "O chef Rodrigo Oliveira tem uma ligação com a terra, com o Nordeste, e o vermelho da madeira casou com o DNA dele. Deixou a temperatura quente", explica.
Segundo Paulo, o mogno africano tem características semelhantes à peroba rosa, madeira nativa do Brasil que entrou em extinção. "Gosto muito da cor, que não é uniforme, varia do amarelo para o vermelho, e os desenhos parecem pinceladas, como em uma aquarela. Além disso, tem textura acetinada e profundidade", enumera. O designer ainda se beneficia da madeira por garantir um trabalho sustentável, já que não há destruição de florestas.



Não existe um mercado formado para o mogno africano no Brasil, porque a maioria das árvores ainda não atingiram o melhor ponto de corte. "Daqui a sete anos vamos ter um fornecimento expressivo", garante a presidente da ABPMA, que se antecipa à demanda. Além dos móveis, o Mahog Project mostra que a madeira pode ser utilizada em outras artes.
O artista plástico Armarinhos Teixeira utilizou um bastão de mogno africano para sustentar uma de suas esculturas de manta de poliéster. Como estuda materiais de resistência, por acreditar que a verdadeira obra precisa ser eterna, ele pensa em aprofundar o trabalho na madeira. "De que forma posso dar longevidade ao objeto a partir do mogno africano? Quero descobrir isso", adianta. Já o músico Leandro César, integrante do extinto grupo Uakti, criou uma marimba com o material, enquanto o luthier Sanzio Brandão desenvolveu uma guitarra e um baixo.


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