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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 24-03-2018 - 11:22 -   Notícia original Link para notícia
-1,77% EUA e China derrubam Bolsas

Mercados recuam por temor de que guerra comercial prejudique economia global



Washington denuncia chineses na OMC por uso de patentes, e Pequim ameaça reduzir ritmo de compra de títulos da dívida americana



A disputa entre EUA e China fez com que as Bolsas de todo o mundo despencassem pelo segundo dia consecutivo, diante da perspectiva de guerra comercial entre as potências. O governo americano, que já havia imposto US$ 60 bilhões em tarifas a produtos chineses, alegando práticas desleais, recorreu à OMC por igual motivo. Em resposta, Pequim ameaça reduzir a compra de títulos da dívida pública dos EUA, da qual é o maior financiador. O governo brasileiro avalia que o país perde com a disputa de seus principais parceiros comerciais. As duas maiores potências mundiais, Estados Unidos e China, elevaram o tom de uma disputa comercial que pode ter consequências para a economia global. Um dia depois de anunciar que imporia tarifas equivalentes a US$ 60 bilhões em produtos importados do país asiático, o governo americano foi à Organização Mundial do Comércio (OMC) denunciar os chineses pelo que considera uso injusto de patentes. Pequim rebateu com uma arma poderosa. Maior detentor dos títulos da dívida americana, sinalizou que reduziria o ritmo de compra dos papéis, o que significa, na prática, menos dinheiro para os EUA se financiarem. A escalada da rivalidade deixou os mercados nervosos, e, pelo segundo dia consecutivo, Bolsas de todo o mundo caíram com a perspectiva de guerra comercial. No meio desse conflito de gigantes, o Brasil perde mais do que ganha, na avaliação do governo.



Para a Casa Branca, a China adota práticas desleais no campo da propriedade intelectual. Foi essa a justificativa para a imposição das tarifas anunciada anteontem, fruto de uma investigação sobre uso de patentes. O processo na OMC vai na mesma linha. É baseado no que o governo americano considera "práticas tecnológicas injustas da China, que infringem as regras da OMC", disse o comunicado do representante de Comércio dos EUA (USTR).



Como resposta, a China não descarta reduzir a compra dos títulos do Tesouro americano, além de impor tarifas sobre o equivalente a US$ 3 bilhões em produtos importados dos EUA. A possibilidade foi levantada ontem pelo embaixador chinês nos EUA, Cui Tiankai - o mesmo que, no dia anterior, havia falado em "jogar duro" com os americanos. O país tem, segundo dados de janeiro, US$ 1,17 trilhão em Treasuries, o equivalente a 19% da dívida externa americana. Com o corte de impostos anunciado pelo presidente Donald Trump no ano passado, Washington precisará de mais recursos para financiar gastos públicos.



- Estamos olhando todas as opções - disse o embaixador, quando perguntado sobre a redução do ritmo de compra dos papéis. - Acreditamos que qualquer movimento unilateral e protecionista prejudicaria todo o mundo, inclusive os Estados Unidos. Certamente prejudicaria o dia a dia dos americanos de classe média, empresas americanas e mercados financeiros.



O site CNNMoney ressaltou que várias empresas americanas podem ser prejudicadas por uma retaliação da China, um grande mercado. Entre elas, Apple, Boeing, Nike, Intel e Starbucks.



Os prejuízos aos mercados não demoraram a chegar. As Bolsas de Wall Street tiveram a pior semana desde 2016, segundo o "Financial Times". O Dow Jones caiu 1,77%, e o S&P 500 recuou 2,1%. Em apenas dois dias, o Dow perdeu 4,66%. Esses números poderiam ser piores, não fosse a assinatura, na madrugada, do Orçamento de US$ 1,3 trilhão que evitou a paralisação da máquina pública nos EUA. As perdas também foram expressivas na Europa e Ásia. Por aqui, o Ibovespa, principal índice do mercado local, acompanhou esse movimento e fechou em queda de 0,46%, aos 84.377 pontos. Na semana, o recuo é de 0,60%. Já o dólar comercial subiu 0,27%, a R$ 3,319. Na semana, alta do câmbio chegou a 1,22%.



TRUMP QUER REDUZIR DÉFICIT COM PEQUIM



Para analistas, as intenções de Trump não estão claras. A definição da primeira etapa dessa disputa ainda deve demorar. O USTR vai detalhar, em 15 dias, os países que serão afetados pela medida. Depois disso, EUA e China negociarão por 60 dias os termos das novas regras. Uma das possibilidades é que a real intenção de Trump seja reduzir o déficit comercial com Pequim, atualmente de US$ 375 bilhões. O governo americano quer reduzir o rombo comercial em US$ 100 bilhões.



Na avaliação da economista Monica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional, é possível que a China ceda de alguma forma, de olho em parcerias mais duradouras:



- Interessa à China comprar uma briga com os EUA? Não muito. Eles já estão ganhando. Conseguiram adquirir uma montanha de propriedade intelectual dos outros. Compraram empresas. Talvez interesse dar ao Trump uma vitória. O Xi (Jinping) conseguiu um mandato eterno. O horizonte dele é muito maior do que os próximos três anos.



O problema é que, caso não haja consenso, haverá prejuízo para a economia global, pontua a especialista. Projeções de organismos como a OCDE indicam que o mundo crescerá quase 4% este ano. Em nota, o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, alertou que "perturbar o fluxo comercial pode ameaçar a economia mundial em um momento em que a recuperação, embora frágil, é evidente."



- Mesmo que não deflagre uma guerra, fica essa incerteza no ar. Vai ficar todo mundo na dúvida sobre o que vai acontecer. Isso desarticula os cenários de crescimento mundial - destaca Monica.



Lia Vals, pesquisadora da Fundação Getulio Vargas (FGV), também acredita que haverá uma negociação mais ampla por trás dessa medida.



- No fundo, Trump quer que os chineses comprem mais produtos americanos. (Ronald) Reagan (presidente dos EUA entre 1981 e 1989) fez um acordo desses com os japoneses nos anos 1980. Os americanos estavam perdendo espaço no mercado mundial de semicondutores. Eles fizeram um acordo obrigando os japoneses a comprarem mais. A grande incógnita é que a China não é o Japão. Brasil perde mais do que ganha com conflito entre EUA e China, na página 24





Brasil perde mais do que ganha com conflito entre EUA e China



Para analistas, aumento na exportação de 'commodities' seria pontual



O Brasil teria mais a perder do que a ganhar em uma guerra comercial entre Estados Unidos e China, segundo especialistas e fontes do governo. A avaliação é que, embora as exportações brasileiras possam ter alguma vantagem pontual na hipótese de os chineses fecharem seu mercado para alimentos como soja ou carnes dos EUA, as perspectivas em relação ao futuro não são nada boas se a disputa entre as duas nações se acirrar: exportações menores, devido à queda nos preços das commodities; aumento de importações de manufaturados; crédito mais caro por conta das incertezas; e um mundo mais protecionista.



ARQUIVORestrição comercial. Brasil obteve isenção temporária da cobrança de sobretaxa às importações de aço e alumínio



- Se a guerra comercial se acirrar, isso pode provocar redução do comércio mundial, o que atinge o Brasil. Nosso ganho indireto não seria tão bom - comentou uma fonte do governo.



Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) mostram que, no ano passado, a China vendeu US$ 150 bilhões ao Brasil, sendo a quase totalidade de manufaturados. Tecidos e confecções, telefones celulares, automóveis, autopeças, eletroeletrônicos e componentes, laminados planos de ferro e aço, tudo isso pode entrar de forma mais forte no país, preveem técnicos da área de comércio exterior do governo.



De acordo com uma fonte da área econômica do governo, em uma guerra comercial, todos perdem. Em setores específicos, pode ser que o Brasil e os demais sócios do Mercosul substituam os EUA como fornecedor de alimentos. Porém, a consequência é que esses alimentos terão sua oferta ampliada, o que causará perda de valor das commodities, que são o principal item da pauta brasileira de exportações.



- Se a China deixar de comprar soja dos EUA, vai comprar do Brasil bem mais barata, porque o preço vai deprimir - confirma o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.



No ano passado, a China vendeu US$ 2 trilhões para o mundo, dos quais US$ 384 bilhões para os americanos.



RISCO DE COTA NO AÇO



Para o economista Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector, o Brasil seria prejudicado pela redução da demanda chinesa:



- Exportando menos para os EUA, a China cresce menos e compra menos matéria-prima, inclusive do Brasil.



Ainda segundo o Mdic, em 2017 a China foi a maior compradora de alimentos do Brasil. Liderou as compras de soja, com 78,97% do total vendido pelo país. Os chineses também lideraram o ranking de importadores de carne bovina e ficaram em terceiro lugar como compradores de carne de frango do Brasil.



- Essa guerra comercial cria um ambiente de instabilidade - disse o consultor Welber Barral, que já foi árbitro da Organização Mundial do Comércio (OMC) e secretário de Comércio Exterior.



A economista Monica de Bolle vê outro risco: os EUA cobrarem a fatura pela isenção temporária da cobrança das sobretaxas nas importações de aço e alumínio.



- É muito provável que os EUA peçam ao Brasil para ajudar Trump a bloquear as exportações da China para o mercado americano. Apesar dos EUA serem um parceiro importante, a China é mais.



O governo americano deixou a porta aberta para a imposição de cota de importação dos produtos vindos das nações beneficiadas pela isenção temporária no aço em texto publicado ontem.



Nota divulgada ontem pelos ministros das Relações Exteriores, Aloyzio Nunes, e do Mdic, Marcos Jorge, afirma que o governo brasileiro não abrirá mão de insistir na exclusão permanente do Brasil das sobretaxas. O texto ressalta que o Brasil buscará negociar a isenção definitiva da tarifa no aço e no alumínio com a maior brevidade possível.





'O risco é ter de tomar partido'Zoom



Para especialista, Brasil pode ser pressionado a se alinhar a um dos dois países, o que seria prejudicial



Para José Pio Borges, presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e ex-presidente do BNDES, o governo brasileiro pode se ver obrigado a escolher entre dois gigantes se houver uma escalada do conflito comercial entre EUA e China.



Como o Brasil pode ser afetado pela decisão dos EUA de taxar produtos chineses?



Seria prejudicial ter de tomar partido. Qualquer situação geopolítica que gerasse conflito no qual o Brasil tivesse de optar, ou que a posição de neutralidade fosse inviável, seria difícil. Pode haver demanda por parte dos EUA de uma aliança para ações agressivas em relação à China, por exemplo, limitando investimentos. Mas a China pode ser um grande investidor em infraestrutura.



O Brasil pode tender para algum dos lados?



É complicado. Se houvesse um agravamento nessa rivalidade, em algum momento poderia ser esperado do Brasil uma posição para um lado ou para outro.



Como a desestabilização pode afetar as exportações brasileiras para a China?



A China é, de longe, o maior comprador de produtos agrícolas brasileiros. É de todo interesse do Brasil que o conflito entre China e EUA não ocorra.



O que se pode esperar de retaliação da China?



Não acredito que a China vá retaliar de maneira agressiva. Ela será a maior economia do mundo em alguns anos, e um de seus principais baluartes na política externa é não entrar em conflito com os EUA. O que pode fazer é retardar a compra de títulos americanos, empurrar com a barriga. Ela não vai fazer uma saída brusca (dos títulos), mas pode aumentar sua posição em outras moedas e incentivar o uso da moeda chinesa nas transações comerciais. Desta forma, o renminbi passaria a ser uma moeda tão negociada no futuro quanto o euro e o dólar.



O embaixador da China nos Estados Unidos falou em "jogar duro"...



É quase obrigação dele reclamar. Mas o Xi Jinping (presidente) não falou. O ministro das Relações Exteriores não falou. Não é interesse deles.



Contas externas têm melhor saldo em 11 anos




Fevereiro fecha com superávit de US$ 283 milhões



As contas externas encerraram fevereiro com um saldo positivo de US$ 283 milhões - melhor resultado para o mês nos últimos 11 anos. Esse número se explica pela recuperação ainda fraca da economia brasileira. Com a atividade baixa, a indústria adquire menos matéria-prima, fazendo com que as exportações superem as importações. As contas externas são o resultado de todas as trocas de serviços e comércio do Brasil com o resto do mundo.



"Após um período de forte avanço dos déficits na esteira do aumento do consumo doméstico que fez a balança comercial fechar no vermelho entre 2010 e 2015, a recessão disciplinou a demanda brasileira e agora entrega superávits consistentes", afirmou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, em relatório divulgado ontem.



AUMENTO DA PREVISÃO DE DÉFICIT



Apesar disso, o Banco Central informou ontem que aumentou a previsão para o déficit das contas externas para este ano, de US$ 18,4 bilhões para US$ 23,3 bilhões. Isso ocorre porque existe uma perspectiva de melhora no crescimento, o que vai aumentar as importações para o mercado doméstico.



- O aumento do déficit de transações correntes reflete o aumento da demanda de bens e serviços - explicou o chefe do Departamento Econômico do BC, Fernando Rocha, que ressaltou que as empresas brasileiras gastam mais em matérias-primas importadas e também com serviço.



Para março, a previsão do BC é de um novo superávit para transações correntes. A expectativa é de US$ 200 milhões. Como em março de 2017 o superávit foi alto, a perspectiva é que o resultado em 12 meses piore. Esse não é apenas um efeito estatístico, mas uma tendência vista e comemorada pelo governo, porque gastar mais significa que a atividade se recupera.



Ainda segundo os dados do BC, o ingresso de investimentos diretos no país foi de US$ 4,7 bilhões em fevereiro. Entraram no país US$ 64,8 bilhões nos últimos 12 meses, o que corresponde a 3,14% do PIB. Para este ano, a projeção do BC foi mantida em US$ 80 bilhões.









Fevereiro fecha com superávit de US$ 283 milhões



As contas externas encerraram fevereiro com um saldo positivo de US$ 283 milhões - melhor resultado para o mês nos últimos 11 anos. Esse número se explica pela recuperação ainda fraca da economia brasileira. Com a atividade baixa, a indústria adquire menos matéria-prima, fazendo com que as exportações superem as importações. As contas externas são o resultado de todas as trocas de serviços e comércio do Brasil com o resto do mundo.



"Após um período de forte avanço dos déficits na esteira do aumento do consumo doméstico que fez a balança comercial fechar no vermelho entre 2010 e 2015, a recessão disciplinou a demanda brasileira e agora entrega superávits consistentes", afirmou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, em relatório divulgado ontem.



AUMENTO DA PREVISÃO DE DÉFICIT



Apesar disso, o Banco Central informou ontem que aumentou a previsão para o déficit das contas externas para este ano, de US$ 18,4 bilhões para US$ 23,3 bilhões. Isso ocorre porque existe uma perspectiva de melhora no crescimento, o que vai aumentar as importações para o mercado doméstico.



- O aumento do déficit de transações correntes reflete o aumento da demanda de bens e serviços - explicou o chefe do Departamento Econômico do BC, Fernando Rocha, que ressaltou que as empresas brasileiras gastam mais em matérias-primas importadas e também com serviço.



Para março, a previsão do BC é de um novo superávit para transações correntes. A expectativa é de US$ 200 milhões. Como em março de 2017 o superávit foi alto, a perspectiva é que o resultado em 12 meses piore. Esse não é apenas um efeito estatístico, mas uma tendência vista e comemorada pelo governo, porque gastar mais significa que a atividade se recupera.



Ainda segundo os dados do BC, o ingresso de investimentos diretos no país foi de US$ 4,7 bilhões em fevereiro. Entraram no país US$ 64,8 bilhões nos últimos 12 meses, o que corresponde a 3,14% do PIB. Para este ano, a projeção do BC foi mantida em US$ 80 bilhões.



Fevereiro fecha com superávit de US$ 283 milhões



As contas externas encerraram fevereiro com um saldo positivo de US$ 283 milhões - melhor resultado para o mês nos últimos 11 anos. Esse número se explica pela recuperação ainda fraca da economia brasileira. Com a atividade baixa, a indústria adquire menos matéria-prima, fazendo com que as exportações superem as importações. As contas externas são o resultado de todas as trocas de serviços e comércio do Brasil com o resto do mundo.



"Após um período de forte avanço dos déficits na esteira do aumento do consumo doméstico que fez a balança comercial fechar no vermelho entre 2010 e 2015, a recessão disciplinou a demanda brasileira e agora entrega superávits consistentes", afirmou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, em relatório divulgado ontem.



AUMENTO DA PREVISÃO DE DÉFICIT



Apesar disso, o Banco Central informou ontem que aumentou a previsão para o déficit das contas externas para este ano, de US$ 18,4 bilhões para US$ 23,3 bilhões. Isso ocorre porque existe uma perspectiva de melhora no crescimento, o que vai aumentar as importações para o mercado doméstico.



- O aumento do déficit de transações correntes reflete o aumento da demanda de bens e serviços - explicou o chefe do Departamento Econômico do BC, Fernando Rocha, que ressaltou que as empresas brasileiras gastam mais em matérias-primas importadas e também com serviço.



Para março, a previsão do BC é de um novo superávit para transações correntes. A expectativa é de US$ 200 milhões. Como em março de 2017 o superávit foi alto, a perspectiva é que o resultado em 12 meses piore. Esse não é apenas um efeito estatístico, mas uma tendência vista e comemorada pelo governo, porque gastar mais significa que a atividade se recupera.



Ainda segundo os dados do BC, o ingresso de investimentos diretos no país foi de US$ 4,7 bilhões em fevereiro. Entraram no país US$ 64,8 bilhões nos últimos 12 meses, o que corresponde a 3,14% do PIB. Para este ano, a projeção do BC foi mantida em US$ 80 bilhões.


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